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A Caracol

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

Desafio dos Pássaros 3.0 - Tema 3

Os dias sucediam-se iguais, sem que Amadeu desse pela sua passagem. Para ele, que naquelas horas transformadas em dias e dias transformados em semanas, era sempre o mesmo dia: nenhum. Não sentia, não chorava, não ria, não angustiava, apenas existia num invólucro de pele e carne, mais pele do que carne, no mesmo leito onde escorregou para a inconsciência de um sono medicamentoso. 

Sentado na velha cadeira de baloiço, que pertencera ao seu pai, Amadeu ia folheando um livro antigo, tão pesado quanto as memórias que nele estavam guardadas. 

Inspirou profundamente, cheirando-lhe as origens, não sabendo que ainda era fisicamente incapaz deste tão corriqueiramente banal. 

- Tivestes noticias d'Irene? 

- Ainda não... E tu? A tua Josefina? 

- Nada. Também lá na terra não tem muita gente que saiba 'screver. Talvez quando lá for o filho do Dr Amílcar, ela lhe peça o favor de rabiscar meia dúzia de palavras. 

 

Não sabiam bem há quanto ali estavam, debaixo daquele calor tórrido, camuflados entre a vegetação rasteira de uma Guiné a lutar pela liberdade. Só sabiam que tinham de ali ficar, controlando quem por eles passava sem os ver, contando, recontado e passando informação ao furriel. 

Iam conversando em voz baixa e sempre que havia algum ruído que lhes servisse de camuflagem acústica, naquele caso, um camião carregado de mantimentos para as tropas inimigas.

Entre um e outro lugar comum e mais uma ou outra piada, não deram conta de que o som do machimbombo pesado parara. Nem tampouco escutaram o assobio fino que rasgou o ar, num eco agoirento, seguido do som seco do corpo de Hermano embatendo pesadamente na terra. 

Num ato de desespero e no meio de uma rajada de tiros que Amadeu não conseguiu perceber de onde caía, colocou o compincha aos ombros e largou a correr, tão baixo quando os arbustos lhe permitiam, mas as balas continuavam a chover, implacáveis e irredutíveis no seu percurso. Uma delas alcançou o alvo e Amadeu gritou, agarrado à coxa direita, caindo de joelhos na terra árida. 

Não conseguiria salvar os dois. Não com um balázio enfiado na perna. Chorou e rezou a Nossa Senhora, para que lhe desse a força que ela não tinha. 

- Não posso mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe. 

De seguida, rastejou tão rápido quando pôde, enquanto chorava e rezava, num misto de desespero pela vida e de culpa pelo abandono. 

 

Desafio dos Pássaros 3.0 - Tema 2

Ninguém sabe quando chega o fim. Quando o apito do monitor se torna num zumbido constante, numa linha infinita acusando o eco vazio de um coração parado.

Amadeu tinha a certeza que o seu fim estava próximo, quando a inconsciência lhe foi imposta.

Preso a uma máquina que lhe ditava o ritmo e intensidade da respiração, inconsciente da sua fragilidade e de como o corpo se agarrava a cada fio de vida, Amadeu sonhava.  

Na verdade, não sabia se sonhava ou se apenas divagava, entre memórias perdidas do acervo de alguém que já viveu mais do que a estatística diz ser a média comum. 

- Não precisamos de outro fogão, Irene! 

- Amadeu, este fogão nem sequer é um fogão! É um bico de gáz, homem! É claro que precisamos de um fogão. É preciso fazer a sopa para o menino, coitadinho... só com um bico não consigo dar vazão a tudo, 'Madeu!

Suspirou, como quem assume a derrota. Estavam ambos a fazer um esforço árduo para construir a casa. Não era um palácio, nem sequer uma mansão, só pretendiam um abrigo modesto a que pudessem chamar lar durante o resto da vida. Havia já paredes ao alto e placas de chão assentes, mas faltava ainda um bom tecto e um telhado eficiente. Para o fogão, ou para o outro fogão, seriam precisos três contos e quinhentos. Dois meses do seu salário, um mês a jantar água de arroz e mais meio ano a adiar um telhado eficiente. Para já, o tecto de cimento ia aguentando a chuva e entretanto chegaria a primavera com o tempo mais ameno e seco. Sim, podia adiar o telhado mais um pouco. Não mais que as duas estações que faltavam, mas o patrão também lhe prometera um aumento da jorna, talvez até conseguisse o telhado antes, se o aumento se verificasse. Olhou para a mulher embalando o pequeno António, cantarolando-lhe baixinho e percebeu que mais um mês a água de arroz pouca diferença lhe faria. O fogão iria facilitar a vida da mulher e talvez até Irene conseguisse mais alguns arranjos de costura para ajudar à despesa. 

- Amanhã vamos à loja do s'Alfredo e lá vemos se se arranja outro fogão.

O corpo adormecido manteve-se imóvel ao rever aquele dia, mas dentro dele, um Amadeu soluçava silenciosa e copiosamente, questionando se algum dia voltaria a ver Irene e o fogão, já velho e ferrugento nas bordas, mas onde ainda fervia o leite, todas as manhãs.  

Estou irritada.


 



Chateada.



De semblante carregado e fronha sisuda.



Por nada em especial e por tudo em particular.



Porque não sei o que fazer para o jantar. Porque apanhei trânsito, cheguei atrasada depois do almoço e não consegui comer uma queijada com o café. Porque estava a chover e tinha deixado roupa no estendal e agora está sol e deixei o estendal debaixo da varanda.

Porque acabou a ração dos cães e esqueci de comprar. Porque o pijama do miúdo ficou mal dobrado. Porque o sacana do PT engendrou um plano de treino diabólico para me pôr as coxas num estado semelhante ao do edifício da imprensa, em Gaza. Porque o sacana do PT ajudava nas repetições. Porque eu não queria ajuda nas repetições. Porque eu não conseguia, com aquele peso, sem um embalozinho inicial. Porque eu não percebi qual o propósito do treino - a não ser claramente irritar-me. E eu já estava irritada, relembro. Porque agora doem-me as pernas e eu irrito-me porque não fiz tudo sozinha e por isso não me deviam doer as pernas. Se não me doessem as pernas irritar-me-ia por o treino não ser suficiente mauzinho.

Porque parti um dente, semana passada, suei das sobrancelhas na cadeira do dentista para o arranjar e o remendo voltou a abrir. Porque por muito que tente, não resisto a andar lá sempre com língua enfiada na fenda, numa tentativa de forçar o restauro a desprender-se do dente. Porque já quase tenho a língua em ferida e aquela porra não sai. E porque amanhã vou novamente ao dentista para arranjar esta treta, destilar suor pelas sobrancelhas e pelas palmas das mãos e ela vai gozar comigo enquanto eu tento pedir socorro em código morse com as pálpebras.



Estou irritada porque a neura se começa a dissipar, como as nuvens desta manhã, e eu quero, mesmo, continuar irritada.



Ele há dias tão irritantemente irritantes, que uma pessoa fica irritada só pelo simples facto de ser tremendamente irritável na sua fragilidade.

Fui profundamente irritante, agora.



 

Desafio dos Pássaros 3.0 - Tema 1

Nunca imaginou ser possível sentir tanta paz e serenidade. Sempre lhe guiaram as ideias para o caos, para o cada um por si, para o pesadelo de qualquer doença. 

Do seu quarto, no quinto andar do hospital, Amadeu via o céu. Apenas uma réstia dele, é certo, só uma pequena franja de azul entre dois edifícios cinzentos, mas era aí que focava o olhar dias a fio. 

Não conhecia o rosto de quem o tratava, mas isso já sabia que seria assim. Dias houveram, em que essa incógnita e desconfiança pelo fato branco o atormentavam, numa angústia pela impotência e ignorância do que o aguardava. Outros tantos dias, deixava a mente pairar sobre a inexistência. A sua, claro, e dos colegas de enfermaria. Acontecia sobretudo nos dias em que um lençol branco numa maca era conduzido para outro andar, bem lá no fundo do edifício, recordando aos enfermos a gravidade e o poder de quem domina aquela ala de cuidados intensivos. 

A porta abriu do quarto abre-se com um chiar suave e o médico vestido com um invólucro de plástico, dirige-se ao leito de Amadeu. 

- Agora já vou tarde, mas se fosse hoje, tinha-lhe colocado "cápsula revestida" como alcunha - gracejou num ténue fio de voz. 

- Não faz Sr Amadeu, ainda vai a tempo. Mas olhe que eu já tinha um certo carinho pelo Pintor de Compressão da Ala Covid. 

Sorriram, sabiam que estavam apenas a matar tempo, adiando o inadiável. 

- Está na hora, Sr. Amadeu. 

Assentiu, conformado. Fixou novamente para a franja de céu pela janela, não sabendo se ou quando voltaria a vê-lo, mas desejando gravar aquele azul para sempre na sua memória. Sonharia com ele enquanto estivesse inconsciente, tanto tempo quanto a inconsciência durasse. 

Sorriu e com uma serenidade que nunca lhe disseram ser possível, aceitou de bom grado o sono imposto.  

Custa-me escrever esta publicação

 


Em primeiro, porque isso vai implicar colocar muita gente no mesmo saco, como se fossemos todos incapazes de raciocinar e usar a inteligência para fazer o correto.



Em segundo, porque isso bate no ponto fulcral para conter qualquer pandemia: a educação. Nunca neste país houve tanto acesso ao ensino superior, há doutores a torto e a direito, há mais licenciados do que eletrecistas de jeito, mas de que adianta ter um diploma se não sabem distinguir o há do à? Ou pior: o poder do dever? Onde falha a educação? Não sei, honestamente. Nem tenho solução para isso. Só sei que tenho dois filhos e não este o caminho que quero para eles. Quero que questionem, porque é assim que se aprende, mas não quero que duvidem de tudo e todos. Onde se atinge o equilíbrio? Estou longe de saber.



Segunda-feira, 18 de Janeiro de 2020, o primeiro ministro de Portugal, António Costa, passou sermão aos portugueses. A gente adulta, capaz de votar, mas incapaz de ter o discernimento de perceber que podiam ir buscar o cafézinho ao tasco dos costume, mas não podiam ficar em amena cavaqueira à sua entrada, provocando pequenos aglomerados. A gente adulta, capaz de votar e que sabe que não se deixa uma panela ao lume sem vigilância, mas que não soube perceber a diferença entre um passeio pela vizinhança, uma volta ao quarteirão, e uma caminhada aos magotes pelas marginais deste país à beira mar plantado. Vou voltar a repetir: levamos sermão porque não soubemos a diferença entre poder e dever. Porque usamos a inteligência para o habitual chico espertismo de contornar leis que, apesar de pouco muscaladas, eram simples de perceber. O impacto dos actos deste fim de semana não se reflete só nos números do boletim epidemiológico. Reflete-se também no apuramento diário do caixa daquele café que se viu obrigado a fechar o postigo à bica; no pronto a vestir, que já não pode abrir a porta e passar o saco com a encomenda ao cliente; no Manel que tinha consulta de rotina e a viu adiada mais uma vez, na Maria que já não consegue marcar uma ecografia há mais de um mês e vê o seu diagnóstico arrastado no tempo. Aquilo que apregoam os economistas de vão de escada, o "ai que vamos esquartejar a economia e vamos todos morrer à fome", tal como o que gritam os médicos licenciados pelas redes sociais, aquele "então e os doentes não covid? Ninguém quer saber?", isso tudo, a economia, a saúde não covid, até a saúde mental, ficou pior porque não soubemos distinguir o poder do dever. E isso é terrivelmente triste, roça o humilhante e faz-nos parecer a pré - escola da Europa.



Não me surpreendia que na próxima reunião em Bruxelas, para distribuição de fundos, alguém sugerisse entregar-nos plasticina e lápis de cera. Não agimos como gente adulta, capaz de votar, responsável por saber que não se deixam panelas ao lume sem vigilância. Agimos como miúdos de jardim infantil, sem preocupação com os outros, com egoísmo, sem querer saber se o Tiago tem lápis de cor, desde que o nosso tenha o bico impecável e ainda pinte está tudo bem.



Somos o pré - escolar da Europa, mesmo com doutores em cada esquina. E eu, muito honestamente, tenho medo que no próximo domingo os miúdos que não sabem distinguir o poder do dever, não se dirijam às urnas. Ou pior: que o façam sem pensar, porque "podem votar em qualquer um", sem consciência que "não devem votar em qualquer um".



Pode ser que um dia cheguemos, pelo menos, ao ensino primário. Enquanto isso, continuamos a brincar no recreio, sem preocupações de gente adulta e mesquinhices de crescidos responsáveis. Se morrer alguém pelo meio, azar, chora um bocadinho que passa e amanhã há mais recreio.

Parir em tempo de pandemia

Já andava há uma porrada de tempo para falar sobre isto. Tive aqui um tempinho, por isso vamos lá falar sobre esta coisa gira de parir em tempo de pandemia.
Ainda em internamento, comentei com a vizinha de enfermaria a pena que me fazia quem tivesse parto previsto mais a frente - Maio em diante - porque as coisas iriam piorar muito e as restrições iriam aumentar, com toda a certeza.
Olhando para trás, vejo que se calhar foi pior para nós, que levamos com o ajuste do SNS a esta situação e ainda não se sabia muito bem o que fazer e como fazer.
O plano de contingência do hospital não permitia visitas, nem acompanhantes no parto. O pai podia visitar a mãe e o bebé 10 minutos, durante o horário de visita, depois só se voltariam a ver no dia da alta.
Sei que para muitas mães isto foi uma facada no útero, mas continuo a manter a posição: era o melhor para todos e o pai nem sequer é assim tão essencial ao parto - a não ser quando quiserem insultar alguém sem razão, só para descontrair da dor. Aí dá jeito.
Portanto, acredito que fomos nós, parturientes entre final de Março e mês Abril, as mais sacrificadas em restrições. Agora já é permitido, em alguns hospitais, o pai assistir ao parto depois de testado. Parecendo que não, sempre é mais um a carregar bolachas e isso faz muita falta na recuperação.
Sobre o parto em si: já fiz treinos piores. Assim de repente, lembro-me de um treino de pernas onde o meu querido e fofinho PT decidiu pôr a conversa em dia comigo em agachamento isométrico. Muito pior do que um parto normal, vos garanto. Até na recuperação: duas horas depois do parto já caminhava normalmente, depois desse treino de pernas, não me consegui sentar para fazer xixi durante uma semana.
Claro que a minha entrada foi absolutamente espetacular: tinha indução marcada, mas a subir as escadas a bolsa rebentou. O que contribuiu para esta figura: subir as escadas meio a correr para tentar conter o líquido (não resultou, obviamente), chegar ao piso descabelada, esbaforida e com a calças tão molhadas como um miúdo que acabou de iniciar o desfralde. Mesmo fixe.
Como resultado, fui praticamente direta para a sala de partos, onde fiquei até ao fim. E foi aqui que aconteceu a parte pior de toda a minha experiência: obrigaram-me a fazer o percurso numa cadeira de rodas. Acreditam nisto? Eu tinha acabado de subir escadas a correr e mesmo assim não me deixaram caminhar o resto. Ainda reclamei e barafustei, fui praticamemte empurrada para a cadeira por uma auxiliar. É assim que tratam as pessoas nos hospitais. Inqualificável.
Chegada ao destino, levei logo com a anestesista, que me caiu de imediato no goto por frisar a minha musculatura, como já vos contei e tive direito a uma enfermeira parteira que também é minha cliente na loja. Foi impecável, mas temo que da próxima vez que lhe for vender uns óculos só me consiga lembrar que foi ela que me assistiu no parto, com tudo o que de bonito e glorioso isso inclui. #SenhorMeAjude
Apesar de me parecer um parto mais longo do que o primeiro, acho que na verdade foi ela por ela: se no primeiro fiz tudo em casa e cheguei ao hospital praticamente em período expulsivo, neste comecei de manhã e a miúda nasceu a meio da tarde. Praticamente o mesmo número de horas, mas o facto de estar sempre no mesmo espaço e posição , acabam por dar a ideia que foi um parto mais demorado.
A espera é de facto longa quando não se está entretido e é aqui que eu acho que faz falta a companhia para dar duas de letra. Bem dita seja a internet e os grupos de messenger, porque quase não dei pelo tempo passar. E, mesmo sozinha, nunca me senti realmente sozinha, nem "abandonada". Os amigos é que, pobrezinhos, deviam estar fartos de me aturar. E claro, devem ter enjoado as fotografias da rapariga durante a primeira noite. Aposto que desligaram as minhas notificações ao fim de 10 fotografias, os fraquinhos.
Quero ainda aproveitar esta publicação para agradecer a toda a equipa do Centro Hospitalar Gaia Espinho. Foram de facto impecáveis e incansáveis, mesmo quando eu só dizia disparates (tenho uma ligeira tendência para a parvoíce, mas quase não se nota) e é de louvar o profissionalismo de todos em tempos ainda desconhecidos e estranhos para todos. Podia ter mudado muita coisa neste parto, a começar pela escolha das bolachas que levei na mala, mas não mudava a escolha do hospital.
Modos que foi maizomenos isto, com algumas parvoíces pelo meio, mas foi isto. No recobro, ainda houve Frank Sinatra como banda sonora, em My way, o que me pareceu adequado à Pequena Bola D'Unto, que fez, de facto, tudo à maneira dela. Sacana da miúda.

Voltando, devagarinho

Assim com uma espécie de alta definição



Como o meu nome ali no perfil indica, chamo-me Andreia e já fui mais nova. Tenho esperança de ser mais velha também, mas isto nunca se sabe.
Dois filhos coabitam comigo, ou eu coabito com eles, às vezes fico na dúvida sobre quem manda nesta casa realmente, o mais velho tem meia década e a mais nova quase meio ano. São conhecidos como "Caracolinho" e "Pequena Bola D'Unto".
Senhor meu marido tem mais PDI do que eu, mas está aí para as curvas. Estamos juntos há... Hmmm.... Não sei bem, mas é muito tempo. Também não consigo dizer a data de casamento, porque tirei a aliança como medida de contingência Covid em Março e ainda não voltei a colocar. A miúda dorme e o soalho range, levantar-me para averiguar esse detalhe está fora de questão.
Adoro boa música - a minha , não a dele; boas séries - as minhas, não as dele; e bons livros - os meus, ele não lê mais que os rótulos da comida e já é uma sorte. Como está bom de ver, eu sou o bom gosto da família. Ele faz a parte dele como calculadora humana. Os nossos filhos são uns pequenos anjos que vivem para testar a nossa paciência e não raras vezes apetece-nos pô-los na lista de adopção. (Estava a brincar. Ok, pronto, só assim numa família de acolhimento, a ver como corre). Ah! Também temos cães. Dois. Quando se juntam os 5, eu abro um garrafa de gin e uma tablete de chocolate. Só para mim.
Odeio a falta de empatia e ausência de poder de encaixe. Irrita-me a falta de sentido de humor e esta coisa de se ofenderem por tudo e por nada. Geralmente, por nada. Também não gosto muito de grão de bico e odeio papas de aveia. Gosto de exercício, mas odeio fazê-lo e reclamo imenso durante. Adoro reclamar e acho mesmo que nasci para isto.
Sou um nadinha nariz empinado, mas de perfil quase não se nota. Às vezes também minto, sobretudo quando risquei jante do carro, finjo surpresa quando o homem repara e juro a pés juntos que não sei mesmo o que aconteceu enquanto culpo o gato da vizinha. Não sou melhor que ninguém, mas o meu bolo de chocolate é o melhor do mundo! Sou uma pessoa iluminada e irradio luz - sobretudo quando coloco calhas de lâmpadas dentro do vestido, como se vê na foto. 🙄
Ah! Sou também A Caracol, mas só nas horas vagas, que a rapariga é doida e dá cabo de mim, não aguentaria sê-la durante todo o dia.

Sou luz, muita luz. Sobretudo quando deixo as dos tectos todas ligadas para arrumar a roupa. Muita luz para vocês também. Mas só a EDP , no coração é coisinha para dar um piripaque e não dá jeito agora com o Covid.

 

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Desafio dos Pássaros 2.2

É que isso de médicos, nunca fiando

Mamas, 

Vim agora do hospital e o médico disse que tenho uma virose. Chamou-lhe ele "Burro-parvo-virose". Disse que passava com tempo e abstenção de grupos de mamas. Ainda falei no 'tibiótico, mas ele disse que não precisava, que passava se deixasse de vir aqui ler comentários de mamas com mestrado no Google. Eu acho que precisava mesmo de um 'tibiótico. E também acho que o médico foi grande parvo e mal encarado na minha consulta. Estava sempre a olhar para o relógio, a meio disse ao coleguinha "vai ver como está a senhora que eu já subo". Quando o confrontei sobre isso, que eu assim muito frontal não guardo cá nada dentro, disse que tinha uma senhora com um parto complicado e que precisava de acompanhamento. Passei-me! Atão, eu que estava carregadinha de comichões até ao umbigo, olhem que só eu sei como passei a noite, sempre num coça coça que quase fui buscar o piaçaba para ajudar na lombar, eu que lhe pago o ordenado com os meus descontos, nem todos, porque faço uns extra com unhas de gel que não entram no rendimento, mas pronto cada um safa-se como pode, eu que estou com gravidez de risco desde as 4 semanas, porque é muito perigoso inserir facturas no computador, e o médico de família nem me queria passar, tive que armar barracada e fazer valer os meus direitos, mas já me perdi... Ah! Eu que estava ali mesmo aflita, praticamente com o mindinho do pé no cemitério e outro no portão ao pé do S. Pedro, tive que levar com uma rapidinha do médico. Olhem que o sacana mal para o livro de grávida olhou, caramba! 

Bom, queria saber as vossas opiniões: não acham que me devia ter passado uma penincinlina? Já li que comichões no umbigo podem ser bacterianas e podem levar a partos prematuros... É que isto de médicos nunca fiando. 

Estou com 5s+4d+10h+32m+5seg 

Blogs com gente dentro

O carteiro, sacaninha, hoje deixou uma encomenda que me entupiu o canal lacrimal com poeira.

Já não se pode confiar nos serviços dos CTT, entregam tudo cheio de pó e não há olhos que aguentem.

Obrigada à Magda, à Mula, à Fatia Mor,  à Alexandra,  à Cunhada,  à DramaQueen,  ao Coiso, à Just, à Maria das Palavras,   à Mamã Paleo e à Maria Araújo.

Gostei mesmo muito e tenho a certeza que a pequena Inês vai adorar! ❤️

O Mano logo já vai estrear as histórias. E amanhã a camisola vai passear até ao gabinete da sôtora a quem pago para me chamar gorda. 

 

 

sapo.jpg

 

E se me perguntarem porque raio têm estes nomes esquisitos... Dou o vosso mailito. ;P 

 

Desafio dos Pássaros 2.1

Acho que a coisa não vai correr bem

Passo a vida a dizer isto. Não muito alto, não quero que outros ouçam a minha insegurança, mas digo-o silenciosamente, para mim. 

Digo-o quando desço as escadas molhadas em direção à lavandaria, sabendo de antemão o perigo de escorregar. 

Digo-o quando subo a uma cadeira para chegar a uma prateleira mais alta. 

Digo-o quando forço um bocadinho e sinto a lombar a picar. 

Digo-o todos os dias, quando olho para o meu filho mais velho adormecido: acho que a coisa não vai correr bem. 

Tenho medo. Muito medo. 

Medo que a rapariga se antecipe e conheça o mundo antes do tempo. 

Medo que fique internada dias a fio e eu sem saber se me vire para a mais nova se para o mais velho. 

Medo da ansiedade que a minha estadia no hospital vá provocar em casa. 

Medo de precisar de mais dias do que os dois com que fervorosamente acredito precisar. 

Medo que a primeira reação não seja a melhor. 

Medo de não estar à altura de dois filhos tão pequenos. 

Medo de a coisa não corra bem e não segure todas as pontas, como sempre me habituei a fazer. 

Medo de lhes falhar, de não conseguir estar lá para eles, da mesma forma e com a mesma plenitude que para um. 

Mas depois... Depois, lembro-me que isto é, no fundo, a única melhor coisa que poderia acontecer. 

Lembro-me como vai ser giro voltar a ter um bebé, apesar do que tudo isso implica.

Lembro-me que tudo aquilo que o Caracolinho sempre pediu foi uma mana e, mesmo passando pela inevitável adaptação e possível rejeição à rapariga, vai adorar ter alguém para ler histórias e brincar ao faz de conta. 

Lembro-me o quanto odiei ser filha única, o quão pesadas são as cargas quando só existe um para equilibrar com a barra. 

E por isso, mesmo sabendo que haverá dias que a coisa não vai correr bem, guardo o medo no bolso pequenino das calças de ganga que agora não servem, para me lembrar dele quando as coisas correrem bem.