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A Caracol

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

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Chocas, uma arte em vias de extinção


Desenganem-se aqueles que pensam que este será um texto dedicado às pessoas "chocas" (antipáticas ou assim-assim, para quem nunca ouviu o semelhante), não meus amigos, aqui a Caracol não é má língua!
Só se não puder... :-P
Hoje, venho dar-vos a conhecer aquela maravilhosa e ancestral arte de enrolar papeizitos.
Não sei porque razão, alguém da família decidiu batizar essa habilidade com este nome. Não compreendo mesmo, a razão de um nome tão depreciativo para uma tão digna aptidão! Não se trata somente de enrolar papeis para passar o tempo, ou ter as mãos entretidas, nada disso, há todo um saber em volta das Chocas. Saber esse que passo a partilhar convosco, para que compreendam, finalmente, o papel dos praticantes desta arte na nossa sociedade.
Para começar, é necessária destreza manual para conseguir enrolar o papel. Não é qualquer pessoa que pega num qualquer talão e desata a enrola-lo como se não houvesse amanhã! É preciso treino, prática e paciência para adquirir a perícia necessária. Neste momento, só conheço uma Choqueira-mor (o último grau da Choqueirice) consegue enrolar qualquer talão, independentemente do tamanho e em diversos formatos. Começou muito nova, aí por volta dos 3 anos, aos 12 já enrolava todo o papel que lhe viesse parar às mãos, um autêntico prodígio!
Depois de desenvolvida a perícia necessária, é possível enrolar quase todos os tipos de papéis: talões de compras, de multibanco - os mais espessos são mais difíceis!- etiquetas da roupa, tiras que protegem a cola dos envelopes... É só escolher!
Mas, perguntarão vocês, qual é o objectivo?
Regra geral estes papéis vão para o lixo numa bola amarrotada e sem graça. As chocas, podemos afirmar, embelezam e compactam o cesto do entulho. Por exemplo, no meu carro, esse antro de talões perdidos e esquecidos em qualquer canto, estão em cima do tablier 3 choca feitas com talões do pingo doce. Parecendo que não, é muito mais minimalista e estético do que 3 bolas amorfanhadas...
Além da função clara de limpeza estética de tudo quanto é cesto de papel, carteiras, carros e afins, as Chocas são muitíssimo apreciadas pela pequenada! O que comprova, logo à partida, a sua importância na vida atarefada dos pais.
Neste momento, somos poucos choqueiros, pelo que temo pelo futuro desta arte embelezadora de entulho e entristece-me que não se lhe dê o devido valor. É imperioso que mais pessoas se juntem a nós,  para que as Chocas  continuem a existir e encantar qualquer cantinho com um papel esquecido.
Não sei se há por aí mais Choqueiros, se os houver acusem-se e unamo-nos por um futuro, quiçá recompensado!, desta magnífica arte!

Então?!


Sr Pedro,
Sei que é o atual responsável pelo clima que por aqui paira.
Vai daí, e como o vosso serviço ainda não tem livro de reclamações disponível, decidi aqui apresentar o meu desagrado pelo mau tempo que apresenta.
E não é pela chuva que nunca mais pára, nada disso. É inverno, portanto é normal que chova, faça frio, neve, haja humidade no ar, pronto aquilo que nós sabemos que o inverno traz na bagageira. ´
O que me chateia mesmo Sr. Pedro, são as previsões! Uma pessoa abre o sítio do IPMA e fica logo alerta, tudo cinzento, escuro como a noite, coberto de trovoada e uma chuva impossível de aguentar, podendo transformar-se em granizo. Ora, sucede que, tendo em conta isso, vim eu prevenida com indumentária a rigor, deixei tudo prontinho em casa para minimizar os efeitos (desumidificador ligado, lenha rachadinha ao pé da salamandra) e... Nada! Sim, leu bem, N-A-D-A. Até vi o sol um bocadito durante a tarde. Estão uma nuvens grosseironas, daquelas bonitas escurinhas, mas água delas, só uns pinguitos, agora ao final da tarde. Trovoada nem vê-la, quanto mais ouvi-la! Granizo, lembro-me realmente de algum, assim a meio da semana.
Repare Sr. pedro, eu não estou a dizer que estou contente com este tempo. Não, até já agradecia um bocadinho de sol, mas prevenir assim uma pessoa para depois não acontecer nada, já viu, é muito chato.
Eu sei que granizou muito lá por Lisboa (aqui para nós, que ninguém nos lê: eles melindram-se com pouco, não acha? E aquelas bolonas que caíram na Maia na outra semana... Mariquinhas aqueles lisboetas...), que nevou muito por esse Portugal, que até o Porto teve direito a ondas gigantes, ou melhor, maiores que o normal. Mas é assim: se promete, pelo menos cumpra!  Ou então mude o gráfico do IPMA para muito nublado!
Já agora, e se porventura tiver esta reclamação em consideração, não ponha a chuva nem os pedregulhos de gelo a partir das 4 da matina. Não é por mim, que estarei aconchegada nos meus lençóis polares e 3  cobertores da serra, é por esses santinhos distribuidores de pão que nos trazem o pequeno almoço em segurança e que o fazem mais ou menos por essas horas. E por um deles ser o homem cá de casa.
Sem mais nada de momento e grata pela atenção dispensada a este assunto,
Atentamente,
Caracol

Rectificação

Ao texto anterior.
Acabei de ser elucidada por uma amiga que afinal o tartan é outro padrão, que nada tem haver com o xadrez.
Xadrez é um padrão com apenas duas cores. Tartan utiliza mais cores e numa outra conjugação, tipo escocesa.
Percebido e agradecida pela explicação! ;-)
Ah, afinal a mala não é ao xadrez,é tartan. A miúda da loja tinha razão (bolas!), por isso, as minhas desculpas.

Bege vs Nude


Vamos lá ver se a gente se entende: mas que raio de moda é esta de chamar nude ao bege?! Não entendo, palavra que não me entra na moleirinha, este tipo de estrangeirismo. Daqui nada dizemos: "Essa camisola red é so gira!" Não, não, não e não!!!! Já chega de palavras cobiçadas de outras linguas! Ele é soutien, é T-shirt, é post, é link, é e-mail, é uma panóplia de vocábulos que não são nossos, não derivam sequer da nossa língua e de repente, zás!, entram pelos nossos dicionarios adentro! Sim, sim, está bem, os exemplos que mencionei são muito úteis à nossa sobrevivência comunicativa com o mundo, blá-blá-blá.... A sério? Dá assim tanto trabalho dizer endereço electrónico? Ou texto? Ou camisa T (lembro-me de ler isto n'O Bando dos Quatro, para aí há 12 anitos, vão à biblioteca e procurem pelo tio João, está bem?)? Que estas palavras estrangeiras já façam parte do nosso vocabulário há imenso tempo, eu aceito. Que nos facilitem a vida e a comunicação, quase aceito - certa vez, pedi o endereço electrónico a um sujeito. O tipo olhou para mim como se fosse de outro mundo e deu-me a morada. Tive que dizer e-mail. - agora, onde é que nude facilita a vida a alguém? Ou tartan? Esse padrão fantástico que já existia no tempo da carochinha e se chama.... Tcharan: Xadrez!!!!
No entato, o verdadeiro problema disto é que não são fenómenos passageiros, palavras que vêm este ano e para o ano já ninguém se lembra. Não é isso que acontece! Ainda há pouco tempo, numa conversa com um vendedor, o fulano chamava-me a atenção para aquela nova cor que o estilista XPTO tinha criado.
- Sabe - dizia ele - aquela nova cor, que está muito em voga este ano, o nude.
Apeteceu-me gritar-lhe: "Ó homem, que raio está para aí a dizer?! O fulano não inventou coisissíma nenhuma, essa cor já existe, chama BEGE! Ouviu bem? B-E-G-E!"
Mas isto não se fica por aqui!
Andava eu a deambular pacificamente num centro comercial (aquilo que muitos de vós conhecerão como shopping), quando todo o meu sistema visual bateu na mala em destaque numa das montras. Teve que ser, eu não queria, eu ainda tentei seguir em frente, mas a piquena seguia-me com aquele ar de sem-abrigo que todas as malas possuem. E lá entrei eu na loja, a fim de analisar melhor a minha futura amiga de ombro.
- Bom dia! Gostava de ver aquela mala da montra, por favor. A que tem xadrez.
- Ah, sim tem saído muito bem esta mala. E está muito na moda este ano o tartan.
Vêem? E depois eu é que sou a anormal! Olha qu'isto!O pessoal sabe que se usa o que já se usou, mas como fica giro ter outros nomes, pimba!, espeta-se-lhes com estrangeirismos! Isso não está certo! Chamem o que quiserem ao bege: castanho claro, cor-da-pele o que entenderem, mas nude é que não! Na dúvida, comprem um dicionário, está bem?



Singing in the rain


Mas com guarda-chuva, qu'isto é com cada pé d'água!
Ora bem, sendo eu uma pessoa bastante prática, não uso guarda-chuva. Aliás, arrisco mesmo afirmar que não habita nenhum lá em casa, nem mesmo debaixo da cama ou atrás da porta, sítios onde, invariavelmente, se encontram coisas jamais pensadas e definitivamente arrumadas num outro local.
Carapuços e chapéus isso sim, há com farturinha!
Em primeiro, não ando assim tanto tempo na rua para sentir falta de um guarda-chuva e em segundo, não me importo mesmo de andar à chuva. Calma lá com isso Sr. Pedro, eu gosto de andar à chuva, daquela fraquinha fresquinha, não destes aguaceiros tempestuosos que tens mandado ultimamente. Com esses, preciso de um guarda-chuva só para pôr o pezinho fora da porta, ou até para abrir as portadas.

Vai daí, fiz uma listinha, coisa pouca, de possíveis guarda-chuvitas a adquirir.


Amoroso este piqueno. E parece robusto. Só tem um senão: é transparente. Uma das funções deste acessório é esconder o nosso cabelo desgrenhado da chuva.
A não ser que se esteja a sair do cabeleireiro directamente para uma festa, não me parece grande solução. Da Félix Ray.

 

 
O meu eleito. Parece resistente, de corzinha neutra (já é uma trabalheira a quantidade de acessórios que uma pessoa tem de conjugar!) e alegre ao mesmo tempo! Adorei! Pena o precito.
 Da Moschino.



 
Acho que já deu para perceber que sou fã da Moschino.
 
 
Adoro bolinhas!!!!!!! Este piqueno da Moschino é tãaaaao fofinho! Mas parece um tãaaao franzininho...
 
 
 
Bem giro este guarda-chuva da Tous.

 

 



 
Guarda-chuva intimista: aí fora chovem calhaus, aqui dentro está céu quase limpo e calorzinho. 
Gostei, mas não me lembro já onde o vi.
 
 
Nesta pequena pesquisa, deparei-me com uma grande falha de guarda-chuvas portugueses. Ou com padrões portugueses. Ou qualquer coisa portuguesa, mais não fosse a pega trabalhada com madeira de Paços de Ferreira.
Encontrei dois - melhor que nada - só que nenhum deles parece ter a resistência necessária e pretendida de um guarda-chuva.
 
 
 
Guarda-chuva de cortiça, não tenho nada contra este material, até gosto bastante, mas não me parece que seja o mais indicado para a chuva. Aqui.

 

 
Mini guarda-chuva com bordado de Castelo Branco. Bem giro, mas só pelo nome dá para perceber a sua força e resistência contra estes ventos e vendavais.
Há mais, não só guarda-chuvas (todos minis) mas outros acessórios, como caixas para óculos, leques... Tudo estampado com motivos portugueses. Espreitem e apreciem.
 
 
E já agora, se conhecerem mais alguma marca tuga que tenha guarda-chuvas giros e originais, é favor de informarem aqui a Caracol. (E livrem-se de fazer piadas acerca de carapaças!!!!!)
  

Fantasmas de festas passadas


Senti a vossa falta nestas festas.
Tanta como senti nas anteriores e em todo e qualquer aniversário que comemore por esta vida fora.
Sinto a falta dos teus abraços lamechas, com a roupa a cheirar ao tabaco qua nunca largavas.
Fugia a sete pés dos teus abraços, nunca fui muito dada a essas demonstrações de afeto, mas tu sabias, lá fundinho, que era só para ser difícil.
Devia ter-te abraçado mais.
Devia ter-vos abraçado mais.
Talvez por isso carreguei as vossas urnas com tanta determinação: foi o meu último abraço, o mais forte, o mais marcado, o mais doloroso.
 
A saudade vai aumentado proporcionalmente ao declínio da dor. Nunca me custou falar de vós, pronunciar o vosso nome, dizer que tinham falecido ao invés de inventar uma historinha bonita sobre o céu e os anjinhos. Gosto de o fazer, de vos relembrar, de tentar reter todos os pedacinhos da nossa história juntos, tentando não esquecer nenhuma peça. Devo-vos isso: memória.
Lembro-me do quanto gostavas do natal e de como fizeste (muito contra a vontade da mãe) aquela árvore improvisada só com luzinhas, numa planta lá de casa. Lembro-me do primeiro pinheiro a sério que compraste, que era tão pequeno que coube em cima do frigorifico. Lembro-me de como enfeitavas a casa com fitas pindéricas e cintilantes. Lembro-me de gostares do natal, de o viveres, de entrares no espirito de união ao ires visitar a família na véspera, mesmo aqueles que pouco te falavam. Lembro-me de ir contigo ao Porto comprar o bacalhau à mercearia.
Recordo a mãe, sempre fiel à sua fé, dizendo que não era correto comemorarmos o natal, mas comprando os doces e fazendo rabanadas. Lá no fundo, eu acredito que a mãe também gostava do espirito, embora não o demonstrasse. Ou talvez fosse só mesmo para te ver feliz, ou melhor, nos ver felizes.
Já do ano novo a mãe não se queixava: gostava de ver o fogo de artificio, no Porto. Claro, era uma maneira de te controlar, já que não o fazias sozinho. A mãe era mesmo assim, não era só minha, era tua também. Encarregava-se de fazer tudo o que pudesse para que estivesses bem, que tivesses o essencial, de te iluminar esses caminhos um tanto ou quanto obscuros que passeavam pela tua mente. A mãe amava-te como uma mulher ama um homem e como uma mãe ama um filho. Tenho pena que, às vezes, não lhe desses o devido valor. Embora, tenho a certezinha, ela soubesse que a amavas e que te perderias sem o seu pilar.
 
É um tanto ou quanto engraçado como mudamos quando morre alguém que amamos. Costumo dizer que não mudamos, renascemos. Somos iguais fisicamente, temos o mesmo aspeto, o tempo vai passando da mesma forma (às vezes mais devagar), mas lá dentro há qualquer coisa que se perde e outra que se encontra. Perdemos a fragilidade e encontramos a força. Perdemos a fantasia e encontramos a realidade. Perdemos a fé no sobrenatural e ganhamos fé no próximo, na família, nos amigos... Temos de aprender a viver novamente, sem determinada pessoa. Uma hora de cada vez. Um dia de cada vez. Aprendendo a não recalcar pensamentos, alimentando memórias, sobrevivendo entre vazios. Valorizando quem nos apoia, suporta, quem em nós acredita. Acreditando que o amanhã será melhor que hoje. E se não for, acreditar no mesmo para o dia seguinte.
Sinto a vossa falta todo o ano, todos os dias. Posso estar numa festa com 25 pessoas, que irão sempre faltar duas, irão sempre faltar dois aniversários, duas prendas para comprar, menos dois lugares à mesa. Tal como disse, aprendendo. Faltam duas, sim, mas tenho 25, há que as saber aproveitar.