Foi há seis anos. Parece que foi ontem e, no entanto, já passou mais de meia década.
Lembro-me de cada detalhe, cada som, como se me tivesse visto cem vezes o mesmo filme, repetido mil vezes aquela cena.
Incrível a precisão com que a nossa mente capta os pormenores. Se fizer um esforço, não é preciso muito, basta um pequeno empurrão, estou novamente naquela segunda feira.
Lembro-me da neblina matinal fria e típica deste mês; de encontrar a tia à saída do hospital e comovendo-me ao ver que carregava um saco com maçãs - fruta que havias pedido na véspera; de percorrer com a mãe a rua que havias indicado, procurando a tua viatura. Lembro-me do cheiro nauseabundo quando a abrimos para verificar que estava, como de costume, sem combustível.
Percorro mentalmente o caminho até às bombas mais próximas, vou de braço dado à mãe, tagarelando trivialidades, fingindo optimismo e rezando a todos os santos (há alturas na vida que o monoteísmo não se aplica, quanto mais melhor) que não assinasses o termo de responsabilidade que te faria sair do hospital. Pelo menos sabíamos onde estavas.
Depois, lembro-me do grito. Tão estridente, tão dolorosamente sentido que quase pude escutar o seu coração partir-se em mil pedaços. Soube de imediato o que acontecera, só isso a faria encolher,agonizar daquela forma. Foi tudo muito rápido e muito devagar ao mesmo tempo. Corri para ela, sentindo o cheiro da gasolina que vertia do garrafão caído. Abraçamo-nos demoradamente, chorando por aquilo que ambas sabíamos ser inevitável, alheias aos olhares interrogativos dos restantes clientes.
Lembro-me de pedir um copo de água, não para mim, mas para ela, que o bebeu tremer de choro. Lembro-me de lhe assegurar, várias vezes, que estava tudo bem e que tinha sido melhor assim. E foi. Por muito que ainda me doa, por muitas saudades que tenha (que tenho, todos os dias), por muita pena que possa ter pelo que não viveste, sei que foi o melhor desfecho.
Lembro-me de me sentir, além de profundamente triste, de certa forma aliviada: a vida que te consumia e nos levava por arrasto, tinha terminado. A partir daquele dia sei sempre onde estás, tenho a certeza que não estás perdido, que encontraste, finalmente, paz.
Olho para o relógio e percebo que já vou sair na queima, ali naquela hora mesmo à justa para entregar o miúdo e voar para o trabalho, gatafunho na caderneta a hora da última refeição, enfio-a de novo na mochila, acrescento o Estrelinha e fralda de pano, penduro a mochila ao ombro, pego no puto, açambarco a mala e corro para a saída mais próxima. Rapidamente me apercebo que me falta o lanche, e ai de mim sem comida, quem me tira o lanche tira-me tudo; volto à cozinha, o petiz ao colo, a mochila ao ombro, a mala na mão; enfio duas nectarinas e um iogurte na mala, volto para porta da rua e... Ai que me falta a chave do carro, volta para trás, já a bufar, vou ao chaveiro, não está; vasculho melhor, não, não está mesmo; se calhar deixei no quarto do moço, vá de ir lá verificar, não está em cima da cómoda, não está em cima da cama, não aqui não está; talvez tenha deixado na sala quando fui busca-lo, e lá fomos nós, eu, ele ao colo, a mochila ao ombro, a mala na mão e o lanche a querer saltar, para perceber que também não estava na sala. Mas onde raio a chave se enfiou?! Olho de relance para o relógio, percebo que estou meeeesmo na queima, sento o miúdo no tapete da sala - que deve ter achado um piadão a este carrossel - começa a choramingar que quer o comando da televisão, agora não Mário, temos que bazar; despejo o conteúdo da mala no sofá, rais parta a porcaria da mala, sempre cheia de tralha, logo à noite a ver se lhe dou um jeito e ficar mais arrumada; rebolam as nectarinas para o chão, vasculho entre a pilha de papeis, bolsas e bolsinhas que lá habitam e nada de chave.
Finalmente, tenho o reflexo de apalpar os bolsos das calças,ah!, cá está ela, a malandra, sorrateira enfiou-se na algibeira! Vá de tornar a atulhar a mala, apanhar as nectarinas, uma está aqui, a outra não sei, paciência vai só uma, pegar no puto sair, finalmente, de casa.
O Mário nasceu vai para cima de 8 meses, já quase recuperei o peso anterior à gravidez (engordei somente 12kg), mas isso só não chega, até porque grande parte da banha massa muscular já cá estava antes e a gravidez só acentuou mais.
Posto isto, inicei esta semana, não a operação biquíni 2015, mas sim a operação mamazita jeitosita. 😀 Isto porque, tendo em conta que pequena pessoa será batizada em meados de outubro, impus-me essa data como prazo para atingir o objetivo: perder cerca 5kg. Começo esta jornada com 62 kg, alguma determinação e muiiiiiiita preguiça.
Bem sei que a minha vidinha absolutamente comum não vos interessa para nada, mas, se quiserem, podem seguir-me pelo Intagram e pelo facebook!