Quantas de vocês é que calçam meias (daquelas quentes e fofas) e prendem as calças do pijama (quente e fofo) dentro delas?
Isto porque, excelso colega de trabalho, não acredita ser prática comum, indo ainda mais longe e afiançando que, passo a citar, "isso não em sexy". Não consegui convence-lo de que o objetivo não é ser sexy, até porque não é para isso que servem os pijamas (quentes e fofos), nem as meias (quentes e fofas), para isso usam-se aquelas coisas muito curtas e muito decotadas, sempre com o aquecimento ligado no máximo e a mantinha pelas costas, que está um frio do cacete.
Posto isto e para lhe provar que não sou só eu e a minha preclara colega que fazemos esta bonita moda caseira quero saber: aí por casa, meias por cima das calças do pijama. Sim ou não?
Vamos lá, são só mais dois além dos que já costumas fazer. Concentra-te na música e mexe as pernas. Não, está muito lento, vou aumentar. Assim está melhor. Já deve ter passado meio quilometro. Passou nada, 'tás parva? Ainda agora começaste! É, se calhar não passou. Está um dia mesmo bonito lá fora e eu aqui fechada... Cala-te e corre! Vou contar os carros lá em baixo. Vais contar os carros? Para quê? Para me distrair, omessa! Um carro, dois carros, três carros, um autocarro. Olha, agora lembrei-me da roda do autocarro, que roda, roda, roda, roda. Que parvoíce, não cantes mais. Respira. Isso, concentra-te. Vamos lá. Vou só espreitar e ver quanto já fiz. Bolas! Ainda nem cheguei ao primeiro quilómetro. Não vou aguentar. E quero eu correr 10! Puff! Cala-te e corre! Já correste três duas vezes, são só mais dois. Não páres antes dos 3. Para bem, até devias parar perto dos quatro. Perto dos quatro?! Estou louca, só pode, tenho que parar antes. Páras nada. 1.5 km. Boa! Estás mesmo quase lá. É só falta o quase e mais de metade. Não sejas assim, concentra-te noutra coisa. Este "nhac, nhac, nhac" da passadeira está- me a irritar, vou passar para outra. Vais nada, vais ficar nessa e continuar a mexer essas pernas. Olha aquela casa! Tão solarenga, deve ser agrável beber um café ali na varanda. Tem quatro telhas de vidro. Uma, duas, três, quatro. Tu estás a contar telhas?! Cinco, seis, sete, oito. És tão parva! Para quê contar telhas? Precisava de me distrair. 2.2km. Oitocentos metros para o que já fazes. "Bom dia!" Olha, tens companhia! "Viva!" 500 metros para os três. Tenho os pulmões a rebentar. Preciso de beber água. Precisas nada, concentra-te, inspira e expira. Inspira pelo nariz, expira pela boca. Anda lá, mais um quilómetro. Não consigo, vou ter que parar. Não pares! Abranda, caminha um bocado e logo retomas. Três, vou abrandar. A Cátia passou-se, não vou conseguir isto hoje. Passou nada! Já respiraste? Então recomeça. Isso, vamos lá, só mais um bocadinho. Mas qual bocadinho caralho? Faltam quase dois quilómetros! Cala-te e corre!! O que é que estás a fazer no sete?! Queres ver se ficas aqui a empatar o almoço da rapariga? Se ponho no oito, morro. Morres nada, põe mas é isto a andar. 3.5km. Vês? Está quase. Pois está, e eu vou morrer aqui. Para que é que eu me meti nisto...Cala-te e corre! Metes-te nisto, agora aguenta! Mais um autocarro lá em baixo. Era fixe se houvesse aqui umas ovelhinhas, sempre dava para as contar. Vou tirar a toalha da frente. Não, afinal não vou, não quero ver. Esta merda não anda. Afinal vou que se lixe. 3.8km. Vês? Já passaste os três. Se desistes agora és uma fraca. És uma fraca? Sou, vou parar outra vez, preciso de respirar. Vais parar agora? Estás quase nos 4! Vou, preciso de caminhar. Não vou aguentar. Cala-te com essa merda dessa conversa e mexe o rabo, cacete! 4.15. Uau! Vem aí a Cátia, às tantas peço-lhe já a maca. Pedes, pedes isso e um par de botas. Cala-te e corre! "Só falta... Um bocadinho... Assim..." "Já estás no último quilómetro! Boa, tens 8 minutos para terminar. "" Também... Não precisas... De pôr tanta pressão... " Oito minutos? Então não eram 45 minutos? Queres ver que eram quarenta? Oh que caraças, estou feita ao bife! E agora? Agora, ai agora? Não tivesses parado, né? Bolas! Acelera caralho! Não consigo, já não tenho força. Consegues pois,é só carregar ali no mais. A Cláudia é que tem razão, pensas demasiado. Vou aumentar mais meio. Ah, a Cláudia. Era fixe que cá estivesse, pelo menos dava para dar duas de letra. Duas de letra?! 'Tás parva?! Mandava-te era estar calar e correr! 4.7. Está mesmo quase! Vou conseguir! C' um caraças! Vou abrandar este bocadinho. Vais abrandar?! Vais acabar uma corrida a caminhar? Não, não vou. É só mais um bocadinho. 4.9. Caramba! Uau! Não posso acreditar! Caramba! Cinco. Está feito! Caramba! Uau! Cinco quilómetros! Eu! Consegui! Caraças! Se calhar já te calavas, não? Aproveita e tira esse sorriso parvo da cara. Cala-te e não me estragues o momento!
Ontem, depois de uma semana parada dada a gripe que de mim se apoderou, retomei o ginásio.
Ia cheia de genica, toda apressada porque já ia atrasada (de novo) e vá de ir buscar o peso num instante.
Durante uns segundos passou-me pela cabeça pegar no disco de 2.5kg, mas depois pensei: "não! Não sejas fraca. Leva este de 5.5."
Chegou até mim uma admiração qualquer, que não percebi muito bem, mas soou a algo como: "onde vais com esse peso todo?!" Fiquei um bocadinho inchada de orgulho, mas foi coisa que me passou rapidamente, sobretudo por me sentir a abafar depois de meia dúzia de saltos.
Houve ali um momento, ao olhar à volta, em que me pareceu que o meu disco era menor, em diâmetro, mas teria com certeza mais espessura, em altura. Ignorei aquela sensação de que algo estava errado e continuei a aula.
No momento em que precisamos de trabalhar com disco, reparo que o meu diz 2.5kg. Oi? Então mas eu peguei no de 5.5... Viro disco e lá estão 5.5...Lbs.
Olha que bem, hã?
Não me bastava este lapso, ainda levo com um irónico "enganaste-te, enganaste-te. Eu sei que te enganaste." da instrutora quando me trocou o disco.
É oficial: a minha fama de preguiçosa precede-me. :D
Eu avisei que dava para fazer uma sigla semelhante aos "Alcoólicos Anónimos". Começa hoje a rubrica que pretende mostrar os preguiçosos que decidiram mexer o rabinho. O objectivo principal é desmistificar a ideia de que o exercício é só para alguns, só para os magros ou só para quem tem excesso de peso. Perder aquela ideia parva de que o exercício não é para nós - os desengonçados - e que só nós é que temos dificuldades em realizar um determinado exercício. Não virá aqui falar sobre desporto somente malta que não sabe, virão também aqueles que já o praticam há mais tempo, de forma regular e consistente. Iremos falar de objetivos, dificuldades, conquistas, o melhor e o pior nisto de se ser atleta anónimo.
Assim sendo, vou aproveitar este pequeno espaço hoje, para fazer o meu próprio relato sobre a minha experiência de quase meio ano de ginásio.
Mentiria se dissesse que me inscrevi "só" para me mexer, que não precisava de perder peso para o que comia (e ainda como, é o meu ponto fraco) em excesso. Claro que não gostava completamente da figura que me olhava ao espelho. Apesar dos 60kg estarem relativamente bem distribuídos, havia ali muita carne a sair da roupa, muita banha a perder. Também seria parvo culpar a gravidez: já tinham passado 18 meses e a minha barriga ainda parecia albergar um pequeno ser com 4 meses de gestação.
Dezoito meses antes, por alturas em que comecei a querer vestir a mesma roupa que usava antes da gravidez, prometi a mim mesma que iria para o ginásio às horas de almoço por ser de facto o único horário em que me disporia a realmente estar lá e fazer alguma coisa. O Caracolinho fez um ano, passou quase ano e meio e continuei sem lá pôr os pés. Podia pôr aqui um bocadinho de humor e dizer que sou pessoa que gosta de amadurecer muito bem as ideias, mas não foi só isso. Foi muita preguiça misturada com as rotinas loucas de um bebé amamentado até aos 13 meses. É pessoas durante 13 meses fui uma espécie de vaquinha ambulante e as horas de almoço acabaram por ter um papel crucial nisso: precisava de fazer a ordenha. Com o desmame acabei por ficar novamente mais liberta nesse tempo, o que voltou a trazer à baila o exercício nesse horário.
Acabou por acontecer a meio de julho.
Agradou-me particularmente a ideia de ter uma sala semi vazia: detestava exercício, detestava mexer-me e tinha vergonha que alguém me visse a fazer mal alguma coisa. Descobri que o humor é um bom aliado nestas coisas: nada melhor do que olhar para o espelho, ver a minha figura completamente desgrenhada, despenteada, sem fôlego nem para dar mais um passo e rir-me um bocado. Alívia um bocadinho aquela sensação de não saber fazer nada, porque no fim de contas ainda sei rir de mim. Claro que nem sempre é assim tão linear, há alturas em que ainda me pergunto porque raio me meti nisto - sobretudo quando entramos na loucura de saltos para um lado e para outro, mas é uma questão que abafo com um "cala-te e contínua".
Muita coisa mudou neste meio ano: deixei de ser incapaz de correr e passei a fazê-lo com gosto, sendo neste momento capaz de percorrer 3km na passadeira, a uma velocidade que para muitos não passa de uma caminhada ligeira. Muitos de vós, do alto da vossa capacidade física, dirão :"3km?! Mas isso quase não aquece!" Eu digo:
Fixe para vocês.
Sou muito feliz com os meus 3km e a capacidade de os percorrer. Se para a semana for capaz de fazer mais, ótimo, se não paciência. O caminho faz-se caminhando e não pretendo ser maratonista. Há uma série de exercícios cujas séries me matavam a um terço da contagem e que se foram tornando mais fáceis.
O meu ponto fraco, aquilo que mais me enerva e me faz perder a paciência comigo são as posturas e o equilíbrio. Tenho uma tendência terrível para arquear a coluna e encolher os ombros, apesar de ter perfeita noção que não é benéfico para o corpo. Ainda demoro uns segundos a conseguir equilibrar-me num exercício tão simples como os lunges e nem sequer precisam de ser aqueles loucos com saltos ou duplos, os mais simples ainda me fazem parecer um bêbado às quatro da manhã.
Há muita coisa a aprender (controlar a respiração é uma delas), mas o que eu gostava mesmo, mesmo de ser capaz era conseguir fazer com que pareça fácil. Tenho uma ponta de inveja daquele pessoal que faz exercício e parece não estar a custar nada. Conseguem estar ali só a mexer o músculo que pretendem, numa postura exímia, sem mexer qualquer outra parte do corpo. Invejo essa capacidade de concentração e coordenação. Eu não sou capaz, nem sei se está ao meu alcance. Sinto sempre que me vou desmembrar a qualquer instante.
Para este ano, tenho a meta dos 10km estipulada, mas quero melhorar essencialmente aquilo que falei em cima: posturas, respiração e equilíbrio.
A quem ainda está indeciso quanto à inscrição num ginásio: vai. É o melhor que podes fazer por ti, pela tua saúde física e mental. E, acredita, se eu consigo, tu também consegues.
Para a semana voltamos com outro Atleta Anónimo. Contamos convosco desse lado! :)