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A Caracol

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

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Experiências #7

Subitamente, o gabinete pareceu-lhe demasiado pequeno. Sentiu-se claustrofóbico, agoniado e o chão parecia movimentar-se debaixo dos pés. O diagnóstico era claro: estava louco. Precisaria de acompanhamento e ficaria dependente das drogas psiquiátricas para o resto da vida. Nunca mais seria a mesma pessoa, perderia o emprego, a mulher e... Maria! Céus, como haveriam de dizer à menina que o seu pai estava mentalmente doente? Talvez Carolina até o proibisse de a ver, para segurança da pequena. Ninguém queria malucos por perto.

A voz grave do Dr Henrique, trouxe-o de volta à realidade. Sem se dar conta, já hiperventilava e transpirava em bica.

- Tomás, isto não é um drama. É perfeitamente possível viver pacífica e tranquilamente com esta condição, mantendo o acompanhamento psicológico com o dr. Gonçalves, fazendo avaliações comigo, regularmente, e algumas sessões de psicoterapia também o vão ajudar a controlar melhor esses impulsos.

- Mas quais impulsos?! Eu não faço nada de anormal, não ando por aí tapado só com uma gabardine a fazer rondas a escolas! - a voz saía-lhe mais fraca que o habitual. transtornada por aquilo que ouvira.

- A primeira coisa que fez, quando aqui chegou, foi alinhar o pisa papéis com o porta canetas, colocando a branca, na mesma posição das restantes, enquanto as contava para si. E mesmo não me falando sobre isso, quase aposto que contou o número de quadros que tenho na parede atrás de mim e que o seu desalinho propositado o incomoda.

Tomás olhou para ele, atónito. Reparara de, facto, nas dezassete molduras que enfeitavam a parede. Cinco grandes exibindo diplomas vários, sete médias com desenhos infantis, certamente deixados por crianças que frequentavam o gabinete e cinco com fotografias de pessoas felizes e sorridentes. Estavam colocadas ao acaso, sem qualquer tipo de ordem e algumas estavam inclusivamente pendidas, como se fossem cair a qualquer instante. Várias vezes refreou o desejo de as colocar alinhadas e direitas, como deviam estar.

O médico observou a interrogação que os olhos do paciente espelhavam. Desde que entrara, sorridente e confiante, haviam passado pouco mais de 10 minutos, Tomás impacientou-se com a posição do pisa-papéis E com um gesto descontraído, como se afastasse um pouco de pó da secretária, alinhou-o rapidamente com a porta canetas. Pedira-lhe para ver a branca, a única cujo bico apontava para o tecto e, após um milésimo de segundo a avaliar o objecto, colocou-a de novo no lugar, tendo o cuidado de colocar o bico em direcção ao chão e exactamente a meio das restantes. Não raras vezes, esfregara as mãos com nervosismo, enquanto fitava de soslaio a parede de molduras que adornavam o consultório.

O transtorno obsessivo-compulsivo era relativamente comum embora o mais frequente fossem impulsos ligados à limpeza e higienização de superfície ou até mesmo em questões de segurança, como o verificar diversas vezes o desligar de uma tomada ou uma porta bem trancada, também era usual existirem estes extremos de busca da perfeição aparente.

Prescreveu a dosagem adequada de clomipramina numa das suas receitas que entregou a Tomás. Recomendou-lhe nova consulta dentro de 15 dias, mas sabia que o mais certo era não ele não comparecer.

 

* * * 

 

Capítulos anteriores:

Experiências #6

Experiências #5

Experiências #4

Experiências #3

Experiências #2

Experiências #1

Tenho uma relação, mas não sei se deva avançar..

É algo sério, mas não o suficiente - ainda - para me fazer dar o tal passo. Tenho medo do que daí possa surgir, daquilo que me possa trazer, bem ou mal, pouco importa agora.

Ele cansa-me. Moí-me a paciência, às vezes o corpo também, mas não consigo já viver sem ele. O que é completamente absurdo, porque ninguém gosta de uma relação tão volátil, onde só um comanda a direcção que os dois devem seguir.

Tento vê-lo todos os dias e, em certos dias, encontramo-nos duas vezes. Nunca mais de uma hora, mas já é o suficiente para o sentir, para lavar a alma de pecados e regressar à vida normal, por vezes entediante, com aquela energia que só eles nos passam.

Às vezes é violento. Não faz por mal, sei que não, nunca na vida o culparia por isso, no fundo só quer o meu bem e sabe que é exactamente aquilo que preciso. Todos precisamos de uma tareia de vez em quando, torna-nos mais fortes, mais resistentes."O que não nos mata, torna-nos mais fortes" - não é isto que nos dizem as frases bonitas com paisagens de pôr-do-sol ao fundo? É sempre disto que tento lembrar-me quando, no dia seguinte, sinto a moleza que de mim se apodera e me faz chorar baixinho ao dar os primeiros passos pela manhã.

Faz-me andar carregada de tralha: roupa para durante, roupa para depois... É exigente, mas a minha coluna já se começa a ressentir e por isso mesmo, pondero dar o passo seguinte na nossa relação, algo que me traga mais leveza diária, mais liberdade de espaço, que me deixe menos preocupada com a preparação do dia seguinte:

 

 

 

 

 

 

 

 

Pondero, seriamente, alugar um cacifo no ginásio. :D

 

(O que é vocês pensavam que era, suas mentes obscuras?! :P)