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A Caracol

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

As pessoas não percebem

As pessoas não percebem que se guardem dores para mais tarde. Não percebem que se fale, elogie e homenageie alguém sem chorar, sem apelar à lágrima e sem vitimizações. 
As pessoas não percebem que não se queira partilhar a dor mas que ao mesmo tempo se queira partilhar a vida que foi, os momentos que passaram, o ciclo que se fecha. 
As pessoas esperam ansiosamente pelas lágrimas em cascata, pelos gritos agonizantes, pelo delírio de dor. As pessoas querem que se continue, mas estipulam um prazo para o (re)fazer. 
As pessoas não entendem que a ausência de lágrimas em cascata, esconde uma ferida de peito aberto que não vai sarar nunca, não vai ganhar couraça e vai sempre moer. 
As pessoas querem sempre muito bem e muita luz e muita paz, mas não sabem respeitar o silêncio e ouvir apenas a história que se pretende partilhar. 
Saber quando estender um lenço de papel é tão importante como saber escutar. E escutar é ouvir aquilo que nem sempre nos mata a curiosidade e alimenta a sede de lágrimas. É ouvir o que foram risos e gargalhadas, sem esperar que a dor fique visível. E não fingir que não dói, apenas ouvir e respeitar a dor que prefere ser sentida em silêncio e sozinha. 
As pessoas não entendem isto. 
E isso é mais triste e desumano que todas as dores que possam estar escondidas no âmago de alguém.

Fiz a Petrus Run pela terceira vez e sobrevivi

1km

 

Vamos lá, isto hoje vai ser sempr'andar. Siga. Foco no final. Alguém atrás de mim diz motivadoramente "Vamos lá qu'isto agora até aos Carvalhos é sempre a subir". Como se eu não soubesse e fosse a primeira vez que ali ia. Respira. Não penses. Corre.

 

2km

 

Faltam 8. O relógio que Cravei ao homem vibra no meu pulso, leio a mensagem "Fantástico! Objetivo cumprido!" e percebo que em vez de colocar aquilo em cronometro, coloquei em objetivo para 2km. 🤦

 

3km

 

Está um calor que não se pode. Apetece-me mesmo caminhar. Resisto à tentação do diabo e continuo a subir o inferno.

 

4km

 

Já disse que é sempre a subir? Ainda não? Pronto, é sempre a subir. E estava um calor do cacete. Os lábios rachados, os pulmões colados, o ar rarefeito e as pernas pesadas. A subida dos impropérios é aqui. E odeio-a.

 

5km

 

ÁGUA! H2O!
Ao abrir a garrafa, perdi a tampa. Bebi dois goles e pensei em guardar o resto, correndo (agora a descer) com ela aberta muito direitinha na mão. Obviamente não resultou, pelo que encharquei a T shirt, pelo menos tinha proveito no desperdício.

 

6km

 

Estamos em agosto, às 2 da tarde. Ou isso ou no inferno. Não sei o que me dói mais: se a falta de água, se as pernas, se o pó que aloja nas vias respiratórias e faz comichão no palato, se o arrependimento de estar aqui outra vez. A última, definitivamente, por isso autoflagelo-me em mais uma pequena subida que dói como mil brasas incandescentes em todo o lado.

 

7km

 

Mais uma subida. Curta e grossa. Apetece-me fazê-la a rastejar, mas contento-me com uma passada ligeira. O sol é implacável e dou comigo a pensar que se aplicar um golpe à Van Dame na nuca da moça que vai à minha frente talvez lhe consiga sacar a garrafa da água.

 

8km

 

Dou um rim por água. A sério, não preciso de dois, sobrevivo bem só com um. Corro pelo passeio para tentar apanhar o máximo de sombra, não dou conta de paralelo mal colocado e calco-o em força. O tendão queixa-se, eu continuo.

 

9km

 

Quero morrer. Agora.
O tendão continua a ganir baixinho.

 

9.5km

 

As solas parecem feitas de uma goma que derrete e cola ao chão, mas está quase e só quero mesmo que acabe.

 

9.700km

 

A pista é ENORME. NUNCA MAIS ACABA.
O quê?! Olha-me agora esta caramela a querer passar-me à frente. É que nem penses minha menina. Não andei eu a chegar até como carne desitratada para agora me passares a perna. Era só o que mais faltava. Entraste comigo no estádio, por isso só tens soluções: ou acabas comigo ou ficas para trás. Agora despacha-me esse rabo! (Esta última já foi de mim para mim).

 

10km

 

Passamos juntas e posso jurar que lhe ouvi um obrigada. Não percebi, porque na minha cabeça todos os rostos tinham a forma de uma garrafa de água.
Uma hora e seis minutos depois da partida, cheguei finalmente ao fim. Se foi um bom tempo? Eh, podia ser melhor. Mas também podia ser pior. É a terceira vez que faço a Petrus e de todos, este foi o pior tempo. Mas também foi aquela que fiz com menos preparação, tendo em conta que só recomecei a correr há pouco mais de um mês e que foram quase dois praticamente parada. Se estou frustrada? Nem pensar! Foi espetacular! Tenho 30 anos e 30 km de Petrus nas pernas, hã? Respeitinho.
No final disto, descobri aos 30 que afinal gosto de papas de sarrabulho. Era quem me batesse por todas as vezes que lhes torci o nariz.

Os verdadeiros benefícios da corrida

 

Image result for memes de corrida de rua

Toda a gente nos tenta vender a ideia de que correr é fixe, que quem corre é muito mais feliz e que ganhamos anos de vida por cada quilómetro percorrido.

Uma treta se querem saber.


O que vale é que existem pessoas como eu, que vivem para contar a verdade sem medo de represálias – até porque ninguém leva a opinião do alcatrão a sério.

Apertem lá os atacadores (fictícios, obviamente) e venham comigo dar uma voltinha pelos verdadeiros benefícios da corrida.

 

  1. Promove a valorização das pequenas coisas da vida.

Como o oxigénio, por exemplo.

  1. Aumenta o vocabulário.

No que toca a impropérios, claro. Desde o “cê” ao “pê”, passando pelos “efes” todos. Vale tudo.

  1. Reconhece a importância do tempo.

Tanto que há alturas em que só nos apetece partir a porcaria do relógio porque o estuporzinho se recusa a acompanhar a nossa velocidade de passada imaginária.

  1. Adia o estado de falecimento.

Até porque para morrer é necessário estar vivo, portanto…

  1. Erradica medos irracionais.

Têm medo do escuro? Do apocalipse zombie? De bruxas? Isso é para meninos. Já viram alguém vivo a correr? Eu já. É assustador.

  1. Aumenta a consciência corporal.

 Sobretudo ao nível dos gémeos. E das coxas.

  1. Catalisa a criatividade para frases motivacionais.

 O que sobe também desce. O que alcatrão percorrido já passou. Só falta acabar. ESTÁ QUASE!

  1. Melhora o funcionamento cárdio-tóraxico

O meu está tão bem afinado que às vezes parece até funciona fora do corpo. Sobretudo nas subidas. Perdão, nas P*&@S das subidas.

  1. Aumenta o humor

O negro, sobretudo. Rir das desgraças também nunca matou ninguém, já correr…

  1. Promove a economia

Já viram o preço de umas boas sapatilhas? E sabem quanto tempo é que elas duram? E as leggins? Não falemos sequer em meias de compressão às bolinhas cor de rosa*.

 

Como vêem eu não minto. Morrer correr faz muitíssimo bem e acarreta imensos benefícios. Agora vou só ali preparar a mente para não panicar nos 10km do demo fáceis deste domingo, esquecer que o gráfico de altimetria parece um CTG de uma grávida em trabalho de parto é mesmo animador e beber um gin chá. Ou dois.

(Alguém orienta aí um Victan? Ou Xanax? Então e Valiuns, não? Rico público… )

*Ainda não existem meias de compressão Às bolinhas cor de rosa. Uma terrível lacuna de mercado, se querem saber. 

Uma vez pai, para sempre pai

"Como é que consegues?"
É talvez a pergunta que mais me colocam. E a resposta, a mais sincera, será sempre: "Não sei".
Como é que aguentamos 2 minutos em agachamento? Como é que aguentamos 30 segundos em prancha? Como é que aguentamos colocar mais carga quando já as pernas são bigornas de ferro fundido?
Habituamo-nos.
A dor passa a ser uma constante, uma rotina e só tens duas soluções: ou te aguentas à bronca e lhe arranjas um quartinho no rés do chão ou enlouqueces e passas a vida fechada no quarto, vivendo a mesma dor uma e outra vez.
Há dias que não é assim tão simples. Que só apetece afogar as mágoas numa garrafa de gin puro e dois ou três Xanax. Há dias que não se consegue ser feliz pelos outros. Há dias em que não apetece agradecer e só queres amaldiçoar a vida. Contudo, como num agachamento isométrico que que dura tanto que faz as pilhas duracell parecerem do chinês, ao assumires que dói, habituas-te à dor e acabas por sentir menos. Dói um bocadinho, mas tive isto tudo com ele. Gostava de lhe poder contar que sou capaz de correr 10 km, mas ele viu-me a andar de bicicleta - e a cair. Montes de vezes. Seria o primeiro a chamar-me destrambelhada e a dizer-me que consigo mais e melhor.
Há dias que fazem um bocadinho mais de mossa, mas eu sei que tivemos um boa vida enquanto durou.
E isso basta.

Relato de um jantar de gajas

⚠️ Ler como se fosse um relato de futebol ⚠️

21h do dia 8 de março e o mulherio de-li-ra faminto. Há um mês que apenas comem ervas aromáticas e o estômago vibra de antecipação.
O empregado indica as mesas que são imediatamente arrebatadas.
O buffet é declarado aberto.
É no vale tuddoooooooo!
Há um cheiro no ar. O que é aquilo, minha gente? O que é aquilo?! RISSÓIS! São RRRRIIISSÓÓISS! Acabadinhos de fritar! A fila ainda vai extensa, será que vão sobrar para a mulher de lantejoulas? Será? Oh meu Deus! Incumprimento na fila! Como é possível! E o árbitro não diz nada! E ela continua. Um rissol, dois rissóis. TRÊS RISSÓIS para o prato gigante! Aí que nervos! Será que vai ver o cartão vermelho? Vai ser expulsa com toda a certeza e ainda vai ter que deixar os rissóis para outra.
Que habilidade!
Que reviravolta fantástica!
Que chuto maravilhoso no âmago das invejosas pela gordura frita!
A mulher regressa à sua mesa com a maior descontração.
Que situação tão perigosa para o adversário!
Espera, espera, espera!
Mas o que é aquilo?! O que é aquilo?! É um remate do DJ! Ao lado! Caramba! Há homens aqui? Isso dá direito a expulsão direta! Mas ele continua, ele insiste, ele não desiste e finalmente...ah! Finalmente, muda a gravação apenas mulheres fazerem barulho.
Wowowowoowow! Nova reviravolta! Que grande twist! Que grande penalidade no pé de dança! É o Panda! O PANDA!
Ah, mas as mulheres não querem saber! Elas continuam. Elas põe a cabeça para trás. Os ombros para a frente. Os polegares para cima. É agora! É agora! É agora!
Tchu tchua tchu tchua tchu tchua ua
É a LOUCURA!
Há ali um burburinho ao fundo. Novo ataque de um grupo pouco silencioso. Alguém recita o alfabeto. As canetas estão prontas e os cérebros aguçados. ela continua, ela segue, passa o D, chega ao G e STOP! É STOP! É STOP no XISSS! Que clássico incrível!
Novamente à pista de dança. É a loucura! É o remate louco! É o tudo por tudo! É a bunda no chãooooooo!

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Fonixxxxx! Como é que aqueles gajos fazem isto parecer tão fácil? 🙄 Estou aqui há duas vidas e ainda só cheguei às 10 da noite!
Mas acho que já perceberam a ideia. 😜🤪
Pequena nota editorial: tudo muito fraquinho a bater c'a 'bunda no chão'. Faço bem melhor só a tropeçar nos ácaros do chão. 🤣😂

#RiP8deMarço
#TenteiFazerRelato

Disfarces de Carnaval DIY

Para quem, como eu, a-do-ra o Carnaval e tudo é motivo para lhe pôr uns patins mas até têm de levar com ele em alguns locais, lembrei-me que seria de extrema utilidade deixar-vos sugestões de como criarem a vossa própria máscara, sem venderem um rim para África e sem terem efectivamente de caprichar na fatiota. Só precisam vestir a pele de um bom actor, serem convincentes no discurso et voilá, disfarce concluído com sucesso.

1.Semblante fechado, nenhum sorriso e olhar a percorrer todos os cantos. Se vos perguntarem: “Onde é que está o teu disfarce?” respondam convictamente: “o meu nome Gertrudes, Fiscal Gertrudes. Venho por parte da AT para uma auditoria.” É garantido que vão espalhar o terror.

2.Encham com farinha uns poucos de saquinhos transparentes (ou façam pequenas trouxas com película aderente) e guardem nos bolsos. À pergunta da praxe neste dias, devem responder com ar comprometido: “Aqui não. Chega aqui a um canto, faxabore e dirfarça.” De seguida mostram subtilmente os sacos e perguntam: “Quantos queres?”. E p’lamor da santa, esqueçam os bonés com a pála ao contrário, as correntes da cadeia da Relação do Porto e os óculos de sol do cigano, toda a gente sabe que os traficantes mais poderosos parecem pessoas normais.

3.Usurpem o distintivo de polícia do fato dos vossos filhos e guardem-no no bolso. Quando vos questionarem a falta de fatiota, saquem o distintivo e afirmem: “Agente Albina em missão à paisana e infiltrada. Estou aqui no âmbito de uma investigação ultra secreta e estás a estragar-me o disfarce. Sai-me da frente antes que te prenda por obstrução à justiça.”

4.Ajam com normalidade e usem roupa comum. São um criminoso perigoso e que está a tentar esconder o maior desvio de capital alguma vez visto. Se vos abordarem, finjam que não sabem do que estão a falar e NUNCA mencionem o vosso verdadeiro nome.

5.Vistam uma indumentária solene e de cor escura – se tiverem fato tanto melhor. A primeira pessoa a perguntar-vos pelo disfarce, responde com voz suave: “O meu nome é Vitória e trabalho na ServiLusa. Recebemos uma ordem de serviço para as suas cerimónias funerárias.” Este resulta especialmente bem se o visado for do clube que perdeu no clássico de sábado. (#RunSnailRun)

Aqui na foto, como podem verificar, eu optei pelo disfarce 3 para mim e a minha colega pelo 4, onde encarmos uma agente de autoridade infiltrada num processo "treinos dourados" e uma criminosa que desvia cartões com mais presenças que o dela.

De todo o modo... É Carnaval e portanto ninguém vai levar a mal que não gostem muito dele.

carnaval.jpg

 

Conan, o Osíris

Há umas semanas, quando ouvi Osíris pela primeira vez, enquanto arrumava a cozinha, escrevi: "Ouvi a música mais votada para o festival da canção. Digam-me: ainda não é nada definitivo, pois não? Ainda vamos a tempo de mudar, não vamos?
Vou só ali esperar com o ancinho no pé para esquecer. 🙄"
Eu sei, nem parece meu que até "gosto de música esquisita".
É o que dá escrever a opinião baseada em opiniões, depois de só ouvir uma vez e sem escutar efetivamente.
Sabendo que isto das músicas diferentes é como as couves de bruxelas, só ao fim de algum tempo é que nos acostumamos ao sabor, dediquei o meu tempo a escutar Osíris.
Não acho genial, não acho nada nunca antes visto - tirando o bailarino e o faqueiro como adereço, aí é originalissímo. Assim como assim, eu acho que se levasse uma tigela Bordalo Pinheiro no topo da cabeça sempre compunha o look de mesa posta.
Não me agrada particularmente aquele timbre meio aciganado, mas reconheço-lhe o mérito das letras e da ousadia. A letra de "Adoro Bolos" está francamente bem pensada, por exemplo.
Se vou passar a ouvir Osíris com o mesmo gosto com que ouço Sobral? Provavelmente não. Contudo, depois de ter ouvido outras composições dele, acho-o genuíno e audaz. Está-se a borrifar para os que, como eu, acham que parece uma mesa de domingo à espera que o assado saia do forno. Se ele gosta, está bem para ele.
Ah, mas ele fala assim bué mal. O que é falar mal? A mim, choca-me mais alguém dizer "Há muito tempo atrás" do que uns bués e tipos a ligar frases. Além disso, provavelmente, faz parte da personagem.
Ah, mas tu só estás a defendê-lo porque ganhou o festival da canção. Não sejam mauzinhos e dêem uma oportunidade à música do rapaz. Quem sabe não passam a gostar?
Não me partam é o telemóvel, ok? 😜