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A Caracol

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

Tema 3 - Uma aventura ou momento que te tenham marcado

Era mesmo fixe que eu não tivesse feito aqui alta confusão com os temas, não era? 

Desculpem e lembrem-se que estou grávida, logo o meu cérebro baralha a informação que me é dada. Não que fosse impossível isso acontecer no meu estado normal, mas se a gestação pode ser uma desculpa... Então que sirva para isso mesmo. 

Aventuras tenho várias, como sabe quem me lê mais assiduamente e decidi que não ia por aí. 

Momentos também tenho vários: o dia em que fui mãe, o dia em casei, o dia em corri a primeira prova, o dia em que descobri que estava novamente grávida, enfim são muitos. 

Contudo, para hoje, escolhi o momento que todos tentamos evitar. Que tentamos contornar e florear nas palavras, tornando-o menos denso, menos doloroso, menos negro. 

Falemos da morte. 

Não é fácil o momento em que ela nos bate à porta, senhora de si e da sua sabedoria, numa pose de quem chegou e não arreda pé sem levar o que quer. 

Costumo dizer, quando falo nas minhas mortes, que já tive dois funerais: o do meu pai e o da minha mãe. É inevitável não considerar aqueles falecimentos como meus, porque uma grande parte de mim também quinou naqueles dias. 

Renasci, alguns tempos mais tarde, não inteira ou sequer como era antes, apenas diferente. Aprendi de novo onde pertencia, que caminho escolheria e como poderia ser. Descobri que a morte não é um bicho papão e que o maior cliché do mundo é também a maior verdade: é tão natural morrer como nascer. Aprendi a lidar com a dor, guardando-a sempre comigo e fazendo as pazes com ela. Às vezes tomamos chá juntas. Nesses dias, peço um bolo de chocolate a acompanhar. O chocolate torna tudo melhor, até as dores da morte. 

Aprendi com ela, a morte, que a vida só faz sentido estando casada com ela. De que outra forma valorizaríamos tanto o sol, se não existisse a noite? 

Não sei se lhe perdi o medo, gosto de pensar que sim, mas lá no fundo sei que não. Não por mim, não me assusta a minha não existência, mas pelos meus: morro de medo que a morte me leve mais alguém. Por isso mesmo, aprendi a respeitá-la: brinco com ela, satirizo-a, chego até a ridicularizá-la, mas tenho plena consciência que, no fundo, isso não lhe retira nenhum poder. Pelo contrário, aumenta-o. Já a mim, mantém-me consciente de que ela existe, a cada esquina, a cada curva e cada falha de um batimento cardíaco. E acredito, mesmo, que é uma gaja com um sentido de humor do caraças e que não me leva a mal. Se levar... Que se amanhe, que eu também me amanhei quando me tirou o chão. 

Não sou uma pessoa grata

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A gratidão está na moda - para mal dos nossos pecados, que já ninguém aguenta tanta gratidão  nas  redes sociais. 

Incrível como somos todos tão gratos e o  mundo continua com um rácio de humanidade, empatia e compaixão abaixo de zero. Por isso, e porque gosto de contrariar tendências, assumo publicamente: eu não sou uma pessoa grata. 

Não agradeço cada enjoo e vómito da gravidez, apenas porque isso significa a vida de um bebé. 

Não abençoo cada dor que a vida me deu, somente pelas lições que me trouxeram. 

Não venero cada birra do meu filho, só porque sou mãe e ele é uma dádiva dos deuses. 

Não me congratulo com cada falha de oxigénio e cada dor nas canelas, apenas porque sou capaz de correr. 

Sou tão, mas tão ingrata, que nem sequer agradeço o ar quer respiro ou mais uma manhã com passarinhos a apitar numa gaiola - os do beiral da janela já os espantei há muito tempo. 

A gratidão está na moda, mas até que ponto é efetivamente sentida? Até que ponto não se tornou, também ela, mais uma banalidade? Mais um mote para likes no instagram, porque é muito giro estar-se grato pelas estrias e celulite entranhada nas nádegas, mas com uma foto bonitinha e uma boa base que cubra a sacana daquela borbulha que decidiu entrar em erupção mesmo no meio da nossa testa. 

A gratidão tornou-se o novo "amo-te" das redes sociais: banal, corriqueiro e dito a cada inspiração. 

Ver o lado positivo da vida, o copo meio cheio, procurar no meio das nuvens uma brecha que deixe entrar o sol, não é ser grato. É saber sobreviver. É aprender que cair faz bem e não faz mal ficar no chão durante um bocado. É saber que não somos más pessoas apenas porque nos apetece não agradecer nada naquele dia ou nos seguintes. 

Ser grato é estar lá quando todos os outros já foram embora. Quando já ninguém se lembra e já ninguém se importa. Ser grato é estar lá quando realmente é preciso e não só quando é suposto estar toda a gente. É ouvir o silêncio, porque nem sempre o diálogo diz tudo.

Ser grato é retribuir, sem likes, sem legendas, sem mãozinhas unidas e chakras alinhados. 

Não sou uma pessoa grata, não venero todos os meus amigos, não vejo todos os dias o lado positivo da vida. E isso não faz de mim uma má pessoa: só uma pessoa normal, que retribui quando pode, agradece quando acha necessário, canta durante o trabalho para chatear os colegas e adora azucrinar a mioleira dos amigos. 

Tema 2 - O amor e um estalo

Aurora encolheu-se um pouco mais, enroscando-se sobre si mesma, como se pretende-se desaparecer entre os cobertores da cama vazia. 

Deixou-se afogar num choro inconsolável e silencioso. 

Que fizera para merecer semelhante fado? Que raio de karma era este que lhe tirava o tapete do chão, uma e outra vez? O que fizera de errado? A culpa era sua. Tinha que ser sua. A quem mais cabia a função de proteger uma vida em curso, se não à mãe? De nada adiantava os médicos argumentarem que não a culpa não era dela, que não havia que pudesse fazer para impedir.

"São coisas que acontecem" - dissera-lhe a doutora Irene. 

Só que para Aurora, já era a terceira vez que "as coisas aconteciam" e desta vez esteve tão perto do limite temporal estipulado, permitiu-se sonhar mais alto, ver além do número 12, voar para lá do medo. Um luxo que lhe custou uma queda demasiado violenta. Não conseguia aguentar-se sequer de joelhos e tampouco saberia quando iria conseguir levantar-se. 

No torpor de um corpo dormente e dorido pelo constante soluçar, chegou-lhe a sensação acolhedora de um abraço. Uma nova torrente lágrimas molhou-lhe o rosto, o corpo foi sacudido por novos soluços. O abraço ficou mais apertado, cingindo-a num aconchego familiar. 

Instintivamente, num acesso de fúria, tentando manter consigo a dor que lhe queimava a alma e recusando qualquer consolo, Aurora desferiu um estalo na face de Jorge. Primeiro um, depois outro, outro ainda, tentando a todo o custo libertar-se do abraço que ele insistia em manter apertado. Não queria consolo, não queria pena, queria que a culpasse também que a odiasse, que dissesse que era pior mulher e a pior mãe do mundo. 

Quando por fim se cansou, a fúria deu lugar ao vazio. Pela primeira vez, naquilo que lhe parecera muito tempo, Aurora não sentiu nada e deixou-se levar pelo torpor que lhe invadia o corpo. 

- Não estás sozinha. Eu vou estar sempre contigo. Desculpa se falhei. Não estás sozinha. - foram as últimas palavras que ouviu, antes de mergulhar num sono profundo. 

 

Deixai vir a mim as nomeações

 

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Estimado público, prezados leitores e preclaros seguidores, 

Pequeno molusco do género feminino, vem por este meio - e porque ficava deveras dispendioso o uso formal de uma missiva via correios de Portugal - solicitar encarecidamente a vossa mui prezada atenção à nomeação deste humilde, modesto, alegre e supimpamente parvo blogue para os SAPOS DO ANO, na inconfundível categoria de HUMOR. 

E porque deveis vós, minha preciosíssima plateia, nomear-me para semelhante evento? 

Para começar, porque o meu actual estado de concepção de um novo ser humano - possivelmente parvo como sua progenitora, assegurando assim toda uma linhagem puríssima do mais alto nível de divertimento - deveria, com toda a certeza, garantir a minha prioridade na fila que se forma. 

Uma vez que a Magda e o David, certamente por lapso dada a imensidão de trabalho em que mergulham, se olvidaram de incluir senhas prioritárias, vou deixar passar sem referir este percalço às Capazes, contando, para isso, com a vossa ilustre nomeação. 

Não esqueceis, com toda a certeza, quem vos apresentou factos sobre tupperwares, nem todo o desporto que me sai do lombo em forma de sátira. 

Obviamente, também quero entrar neste sublime campeonato para provocar um pouco de mossa na Gorda, fazendo com o prémio lhe custe mais um pouquinho a ganhar. 

E porque, em não sendo totalmente mentira, também não o é uma verdade total, me divirto assim para lá de Saturno com isto. Sobretudo nas campanhas. 

Mui agradecida por toda a vossa atenção dispensada a este assunto, 

 

Conto com a vossa ilustre nomeação aqui - em Humor, relembro. Não me ponham em desporto que para isso já me chega a escola de educação física que frequento. 

Sempre vossa e eternamente parva, 

Caracol

(a imagem faz parte da rubrica 🌺🌺 FRASE MOTIVACIONAL DO DIA 🍃🍃  que vai para o ar na página de Facebook e Instagram desta modesta casa. Visteis o que perdemos por ainda não me seguirdeis lá? 😉)

Pequena Bola D'Unto

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Quando descobri que estava grávida, contava já com 7 semanas de gestação em cima do lombo.
O que significa, em poucas palavras, que fiz o Bravos & Bravitas Run e a Corrida Milionária completamente prenha.
Bonito.
Se isto não contar como vacinas, não sei o que mais pode contar.
Na semana seguinte à Corrida Milionária - e depois de ver esta foto onde me benzi ao contrário quando vi o tamanho do meu perímetro abdominal - decidi fazer uma semana de low carb com algum jejum intermitente. Pelo meio, foram aulas de HIIT, circuito funcional e abdominais. Sendo que nesta última, senti alguma dificuldade acrescida nas pranchas.
O homem sugeriu que poderia estar grávida. Eu disse que ele estava maluco e que tinha bebido demais ao jantar, onde, por mero acaso, eu tinha feito o mesmo.
Várias pessoas me perguntaram o mesmo. Eu dizia sempre a mesma coisa: "Não, isto é mesmo unto. Nem com dieta lá vai. Abusei mesmo muito dos doces nas férias." #SoQueNão
Fiz o teste confiante no negativo e focada em manter zero farinhas e zero açúcares até ao final do mês. Dei comigo a rir à gargalhada com um positivo nas mãos.
Chamei-lhe Pequena Bola D'unto desde o princípio, ainda antes de saber que não era (só) gordura. Achei giro e alcunha ficou. Para alguns é Bolinha D'Unto, mas eu prefiro nomes pomposos e acho o original mais fixe para ralhar.
Pequena Bola D'Unto conta agora com 13 semanas, rastreios normais e baixo risco, dá-me conta de todo o sistema digestivo, limpou-me o cérebro e põe-me a dormir às 10 da noite. Quer eu queira, quer não queira. Eu já o avisei se continua ass fica de castigo e não brinca com as coisas do irmão, mas o sacana faz ouvidos de mercador e ignora-me firmemente. Cheira-me que vai ser pior que o irmão e eu só peço que me valham os deuses todos da parentalidade positiva, negativa, neutra e o diabo a sete. E foda-ses. Os foda-ses todos. À maioria verbalizados em pensamento e de língua mordida. 😜

Desafio dos Pássaros - Tema 1

 

- Então S' Alberto, que lhe aconteceu agora, homem? - perguntou Toninho, dono do café onde Alberto tomava a bica, todas as manhãs. 

- Olhe Toninho, é este tempo: ora chove, ora faz sol e o nevoeiro dá-me cabo da âncora, fico aqui a ganir de dores. 

- Isso é fruto da idade, o S'Alberto já vai nos setentas... 

- Pois Toninho, mas as dores sou que as sinto. Olhe, sabe o que lhe digo? Problemas, só problemas. 

- Não seja assim, homem! 'Tão já viu que há gente bem pior? Olhe, a Almirinha, por exemplo. 'Tão não é que partiu a bacia porque escorregou nas escadas? Está pr'a lá toda desconchavada. 

- A Almirinha está desconchavada? 

- Muito S'Alberto. Os médicos nem sabem quando vai ter alta do 'ospital. 

-  Oh, minha vida! 'Tão agora quem é que me vai lá casa ajudar a minha Alzirinha nas lides de casa? - suspiro - Problemas, só problemas. 

- Logo arranja alguém para isso, não fique tão carrancudo homem! Qu'importa é qu'Almirinha melhore, não é? 

- Pois, pois... 

- Olhe, quem também está muito mal é o Zé da venda. 

- O Zé? Qu'lh'aconteceu? 

- Consulta de rotina, o médico mandou fazer exame à  prósteta e olhe... Câncaro. Já começou a quimoterapia, coitadinho, disse-me a Ti Luzia, que o homem está um farrapo. 

- Valha-me Deus! 

- Já viu? Há gente bem pior, num é S'Alberto?

- Pior? Pior Toninho? Então agora com o Zé da venda assim, quem é que me vai levar as mercearias a casa? A Ti Luzia não tem carta... Estou para ver como vou resolver. Problemas Toninho, só problemas. 

 

18 anos...

Magda perguntou se nos lembrávamos onde estávamos há 18 anos. 

Sinto-me um bocadinho como a Rose, do Titanic, mas a verdade é que me lembro perfeitamente. 

Tinha 12 anos e estava com o meu pai no centro de saúde. 

Lembro-me de haver barulho, aquele murmurar constante de uma sala de espera supostamente silenciosa. Lembro-me da sala ficar, de repente, queda e muda. Voasse um papel e ninguém se mexeria para o apanhar. 

Atrevo-me a dizer que ninguém respirou e todos, sem excepção, fixaram o ecrã da velha televisão. 

Não percebi muito bem o impacto daquilo, afinal era só um acidente, até aparecer em letras garrafais o título "3a Guerra Mundial". 

Foi só aí que falei, perguntando ao meu pai que, incrédulo, ia dizendo "Foda-se" repetidamente: 

- Não é verdade, pois não? Não vai haver mesmo uma guerra, pois não? É impossível haver outra guerra mundial, não é? 

Não obtive resposta coerente. 

Recordo-me perfeitamente do pânico que senti pela possibilidade de haver uma guerra que nos pudesse envolver, de alguma forma. Na minha cabeça, passaram flashes de imagens dos campos de concentração, da guerra do Vietname e de tantas outras que fomos colecionando ao longo dos tempos. 

A Magda diz que não tem medo, que se recusa a viver com medo. 

Eu tenho medo e vivo com medo. Que a história se repita, que sejamos tolos o suficiente para permitir que isso aconteça e, sobretudo, que percamos a pouca humanidade que nos resta. 

A Magda não tem medo, eu tenho muito medo. A semelhança é que não deixamos que o medo nos controle e impeça de viver, usufruindo daquilo que vida pode ser. 

E tu? Também tens medo? 

Pré-Desafio de Escrita dos Pássaros

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...Ou de como eu só me meto em trapalhadas. 

Porquê que me meti nisto

Ora bem, para começar, porque faço parte do bando. Não sou pássara, comajoutras, sou só passarinha. (Ficou estranho, não ficou? Mas é só uma alusão à...hmm...idade. Não melhorou. Sigamos.)

O meu estatuto de ave, garantiu-me acesso livre a esta enrascada, por isso... Cá estou eu. 

A segunda parte, sendo mais sincera, é que o blogue tem cada vez menos espaço na minha vida digital. Ora porque o facebook está mais à mão, ora porque as publicações são curtas e não acho que façam sentido aqui, ora porque me esqueço. E eu queria, mesmo, voltar a estar mais activa por aqui, por isso este desafio que pareceu-me o ideal para retomar, aos pouquinhos, a este espaço. 

Depois, porque estou numa fase em que me sinto limitada - um dia destes conto - parece que nada flui do meu cérebro como antes e não me sinto a mesma idiota que era há uns meses. O desafio acaba por ser uma alavanca para imaginação que considero já perdida e uma forma de a trabalhar um pouquinho mais. Ou então não, desisto e fico a meio. Logo se vê. 

Outro ponto que me levou a meter nisto: inscrevi-me, recentemente, no campeonato de escrita do Chagas Freitas. Ia cheia de vontade, cheia de ideias, toda eu a maior da minha rua e... Fiquei desiludida. Não porque não ganhei nenhuma jornada, mas por que (e eu sei que isto vai parecer presunçoso, desculpem) não achei que nenhum dos textos vencedores fossem melhores que os meus. Acabei por não perceber em que consistiam as avaliações, a motivação caiu tão a pique como a minha tensão arterial em dias de 38º e dei comigo a desmarcar presenças. Daí a achar esta ideia da Magda (já tinha dito que a culpa foi da Magda, certo?) brilhante, foram....Três microsegundos. 

Et voilá. Cá estamos nós, anos depois do primeiro contacto unjecojoutros, a mexer novamente com a bloga. E caraças, se isso não é bonito, que eu não tenha lacrimejado uma vez quando vi o número de inscrições. 

A culpa é da Magda. Toda da Magda.