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A Caracol

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

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Diário de uma grávida #19

Já sinto, por vezes, o feto a mexer cá dentro. 

Fico derretida quando isso acontece, mas depois lembro-me que, correndo tudo bem, vai crescer, passar de gramas a quilos e vou levar biqueiros no fígado e nos rins. Mal posso esperar!

O meu apetite normalizou ligeiramente, mas há dias em que passava bem sem almoçar ou jantar. Isso irrita-me um bocado, porque se há coisa que adoro nesta vida é enfardar como uma alarve em vias de extinção. Tudo bem, temos sempre a sopa e as tostas mistas. 

Estou menos irritadiça em casa, o que é fixe para o homem e péssimo para os fornecedores do trabalho. Alguém tem que servir de saco de boxe, não é verdade? 

Os teóricos das gravidezes insistem que a líbido aumenta neste trimestre. A maioria das grávidas sente isso mesmo. Já eu estou em crer que minha quinou de vez e já lhe celebrei a missa de 7º dia com o único cacete que me apetece ver à frente: o de regueifa. Com manteiga e ligeiramente torrado. 

Modos que é isto. Continuo com o cérebro feito em papa cerelac com três dias, mas cá me vou arranjado com as notas do telemóvel. E os post its para não me esquecer de ver as notas do telemóvel. E o homem para lembrar dos post its que me lembram as notas do telemóvel. 

Para a semana chegamos a meio! YEAH! 

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Obrigada, Sapo

... Por quase ter cuspido metade do café e ter afinfado duas lamparinas bem aviadas no ecrã do telemóvel, assim que entrei na plataforma. 

Bonito. 

A quem envio a conta do visor partido? 

(Sim, tenho mão pesada. Para alguma coisa que haveriam de servir os treinos. 😛)

Diário de uma grávida #17 e #18

Esta semana há Diário a triplicar, porque isto atrasou comó caraças. 

Saem hoje as duas últimas semanas e lá para quarta feira a semana actual. É muita gravidez, eu sei, mas se eu aguento, vocês também. Sejam fortes. 

#17 

Estivemos de férias nesta semana. Fomos buscar o carrinho - cortesia de uma amiga que tinha um trio parado - e vi-me à nora para desmontar aquela treta. 

Junto com o bólide de Pequena Bola D'Unto, a amiga enviou "algumas roupinhas que tinha em casa". 

Desconfiem sempre quando uma mãe vos diz "algumas roupinhas": são sempre toneladas. Fora todas aquelas que ainda tenho do irmão mais velho, estou em crer que só aquelas "algumas roupinhas" davam para vestir uma pequena aldeia de bebés africanos. 

Aumentei 2 kg de peso, desde que engravidei. Atrevam-se a dizer que é pouco e levam com um haltere equivalente no mindinho do pé. Alvitrem que é óptimo de deviam vomitar os pequenos almoços. Todos os dias. 

Como podem ver, o meu humor está espetacular. 

Prevê-se que seja uma gaja. Nada de novo, sempre disse isto, mas caso se confirme na morfólogica, aviso logo a cachopa  do fado que a espera: vai usar a roupa do irmão até à adolescência. 

Comprei-lhe a primeira farpela. Cheia de laços e folhos. Se se confirmar que é gaja, vai ser uma pirosona. 

Lembram-se dos meus probióticos? 

Sôtora diz que, passo a citar "Tomar e não tomar é igual ao litro. Mas mal não faz, se sente bem continue." 

Chorei baba e ranho pelo guito que larguei na farmácia à conta dos ditos. 

Depois tomei nausefe. 

#18 

Sinto-me enorme e ligeiramente menos bipolar, mas as pessoas, no geral, teimam em testar a resistência da minha paciência, sobretudo quando me fazem a mesma pergunta, 78 vezes ao dia: "tens a certeza que é só um?"  

Não, não tenho. Nem eu, nem a ecografista, nem a ginecologista. Estamos às aranhas. Ou aos bebés.

Pela 7992 vez: é só um. 

Como disse, o meu humor melhorou, tal como a energia. Não está nos píncaros de antigamente, mas também não anda em valores negativos. Muito às custas dos treinos para onde me arrastei qual carcaça de lontra albina, mas a verdade é que o contrabalanço de energia é palpável. Pelo menos para mim. Vou esforçar-me por manter este mínimo de 2/3 vezes/semana até ser expulsa por mau feitio. Rezem por eles, eu já não tenho solução. 

Por falar em exercício, era capaz de me habituar a esta vida fit de grávida. Sempre tudo cheio de paninhos quentes "ai, cuidado, não pegues nesse peso, olha o outro mais leve", "não levantes, está bem? Mantém sentada e ritmo constante (Cycle)". Habituava-me a esta vida, na boa. 

O problema é que me apetece sempre revirar os olhos quando quero fazer como os restantes e me ordenam o contrário. Fico danada. Depois sinto os pulmões e agradeço aos céus as benesses de prenha. A malta nunca está bem. 

Para compensar os atrasos, duas fotos da pança. 

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Voltamos quarta. 

 

31 e eu ainda não sei...

 

- Fazer uma pilha panquecas sem parecerem o ground zero do worl trade center.

- Manter as camisolas dobradas e alinhadas nas gavetas

- Falar a sério de coisas sérias

- Usar cola sem colar o indicador e o polegar

- Emparelhar meias sem sobrarem peúgas

- Tirar nódoas de chocolate

- Comer laranjas sem salpicar tudo num raio de 67km2

- Seguir receitas simples

- Seguir receitas elaboradas

- Fazer um eyeliner perfeito sem parecer que sofro de Parkinson

- Atinar com os programas da máquina de secar

- Abrir um frasco de picles

- Fazer agachamentos laterais sem me sentir um totó com pernas ao contrário

- Caminhar em cima de tacões sem parecer a Barbie sem articulações

- Usar um descascador

- Gostar de grão de bico

- Fazer tríceps com disco e bola de pilates, encostada a uma parece com elevação da bacia. (Não perguntem, ok?)

- Manter ervas aromáticas vivas durante muito tempo

- Engolir compridos apenas com 1 gole de água

Pode ser que aos 32 a coisa se dê. 

Tema #7 - Máscara Capilar

A primeira que coisa que me chamou à atenção foram os sapatos. De marca, provavelmente valendo mais que o meu salário de dois meses, de verniz preto e um tacão que provocava vertigens só de pensar colocar-me em cima dele.

A seguir vieram as pernas: esguias, torneadas e capazes de me fazer chorar de inveja. O vestido de cabedal, justo e colado às ancas, deixava antever um glúteo perfeito, duro e trabalhado. O decote, não muito acentuado, realçava o colo, com mexas de cabelo loiro ondulado caindo em pedaços em sítios que o tecido teimava esconder. Quando foquei o rosto, senti-me despida por uns olhos verdes, cristalinos e pouco simpáticos.

Quem raio fazia uma fulana como esta cá na terra?

- Boa tarde. Posso ajudar?

- Boa tarde. Onde estão as máscaras capilares?

Arrogantezinha de merda. Ainda por cima boa como o aço. Badalhoca. Não temos máscaras capilares sua magrela, pau de virar tripas.

- Máscaras capilares, de momento, estão esgotadas. Mas temos aqui uns amaciadores muito bons. Deixe-me mostra….

- Condicionador não quero, obrigada.

Olhá a vaca a chamar-me burra nas entrelinhas.

- Precisava mesmo era de uma máscara… Tenho as pontas todas danificadas.

‘Pera aí que eu já t’atendo.

- É como lhe digo: máscaras não temos. Mas… Já pensou em experimentar um produto mais natural? Tem um cabelo tão bonito que é um crime enchê-lo de químicos.

- Acha mesmo?

- Se eu acho? Já reparou nos ingredientes de uma máscara capilar? Aquilo é o demónio em forma de creme acetinado! Olhe… relembre-me o seu nome, por favor?

Logo vi que devias ter um nome desses todo betinho. Sonsa.

- Olhe, Constança, sabe qual é a indústria mais mentirosa que existe, logo depois da farmacêutica? A dos produtos capilares. Aquilo é só lobbys e photoshop para enganar o povo. Prometem-nos cabelos macios como a seda, mas ainda não há que chegue àquilo que os antigos faziam. A minha avó tem 95 anos e ainda hoje tem um cabelão capaz de fazer inveja à Rapunzel.

- O que me sugere então?

- Um cabelo como seu, merece um produto elaborado com carinho, com amor e dedicação. Biológico, de preferência e isento de glúten. O glúten é outro pequeno demónio: entranha-se nas pontas, insufla o o fio capilar e faz com que fique espigado.

- Nunca tinha pensado nisso… Tem algum produto desse género que possa experimentar?

- Olhe, por acaso tenho, sim senhora. Acabaram de chegar agora mesmo umas compotas de abóbora que são um doce para o cabelo. Feita com abóboras biológicas, sem açúcar refinado – que também faz um mal terrível ao couro cabeludo, tornando-o oleoso - e com amêndoas de cultura biológica, de Freixo de Espada à Cinta. 

- Compota?

- Compota. Já viu o cabelo da Kardashian? Aposto que é disto ela usa, aquele brilho não engana ninguém. Eu própria utilizo e é uma maravilha. Deixa atuar uma boa meia hora e depois lava normalmente.

- Bem, se é assim… Acho que vou experimentar. Levo um frasquinho.

- Vou dar-lhe dois e faço-lhe uma atenção, porque isto esgota sempre num instante. Mas é só por ser para si.

- Oh! Muito obrigada pela simpatia.

- Ora essa. Nada a agradecer, vai adorar! 

Cabra.

Texto 1

Como já vos disse, participei no CNEC - Campeanato Nacional de Escrita Criativa, do Chagas Freitas, este ano. Foi sol de pouca dura, quer pela motivação, como já expliquei, quer pelos temas (se acham os nossos desafiantes, deviam experimentar botar as retinas naqueles...). Esta foi a minha primeira participição. Não posso divulgar o tema - regras da organização - e valeu-me uns orgulhosos 46 pontos. 

 

- Outra vez de férias? 

- Meu, não me fodas a cabeça. Aquilo lá em cima está um autêntico inferno. Se eu soubesse o que sei hoje, jamais mandaria o meu mais velho cá para baixo. Ficava no comando e estava o castigo feito. 

- Sempre achei que fosses omnipotente…. – ironizou Carlos, consultando rapidamente as horas no Mont Blanc que sustinha no pulso. O amigo encolhera os ombros, bebendo um grande gole da sua cerveja. 

Pigarreando, Carlos retomou a conversa: 

- Deus, não me chamaste aqui só para discutirmos, outra vez, os teus poderes e qual a melhor forma de os utilizares, pois não? 

- Bom, na verdade não. Estou com um problema…

Carlos conteve o revirar de olhos, pedindo ao amigo para continuar.

- Sabes, estou farto disto. Farto, farto, farto. Há um terramoto, a culpa é minha. Um estupor conduz bêbado, em contra-mão, mata uma família inteira e a culpa é minha. O médico engana-se no diagnóstico, a culpa é minha. Até o degelo é culpa minha! 

- E então? Também te culpam por coisas boas… É a vantagem se seres… Tu. Não estou bem a ver qual é o problema, nem porque precisas de um advogado. Não me digas que os apóstolos voltaram a reivindicar retroactivos… 

Deus suspirou. Ao cabo de uns segundos prosseguiu:

- Quero reformar-me. Eternamente. Preciso de um advogado para me representar nas próximas reuniões do Conselho e que seja, ao mesmo tempo, capaz de o reestruturar. Quero ainda delimitar e conceder poderes, bens e regalias. Resumindo: quero bazar e deixar as coisas bem feitas. Não quero mais culpas. 

Carlos fitou-o, atónito, sem saber muito bem o que dizer. Por aquela é que não estava à espera…

- E então, ainda tens onde ir? 

Ide ali...

Escutar a Patroa da Passarada. 

A Magda foi ao Blog dos Blogs, falar com sô Pedro sobre muita coisa no geral e o Desafio dos Pássaros, em particular. 

É uma mei'horita que passa a correr e com uma boa disposição fantástica. 

Como é lógico, não vou defender a Magda: a culpa é mais dela do que minha, porque já tem idade para ter juízo e não ouvidos a gaiatas. 

Obrigada ao Pedro que, de certa forma e através da Pássara-Mor, deu voz a toda uma grupeta um nadita barulhenta.  

 

Tema #6 - O amor, uma cabana... E um frigorífico

 

A mesa estava posta.
O jantar estava pronto.
O aquecimento estava ligado.
Era mais fácil elaborar a lista de tarefas mentalmente, a última coisa que queria era estragar aquela noite. Afinal, não eram todos os dias que se celebravam 20 anos de casamento.
Olhou em volta da pequena cabana, satisfeita com o resultado.

André ia adorar!

Era o seu lugar preferido, as suas flores favoritas e o seu prato predilecto. Iam ter que apertar o resto do mês, mas pelo menos hoje poderiam refastelar-se na carne tenra de um cabrito assado.
De regresso ao quarto depois de um banho quente, Sara vestiu o vestido verde esmeralda que o marido lhe dera num Natal.
“Condiz maravilhosamente com os teus olhos” – elogiara André.
Estremeceu ao recordar o som pesado da sua contra o seu pescoço. A mãos hábeis que lhe desapertaram o vestido, desembaraçando-se dele de uma só vez. A língua atrevida e destemida, redescobrindo cada pedaço de pele nu, saboreando os seus recantos mais escondidos.
Forçou-se a parar por ali antes que perdesse o controlo e terminou de pentear o cabelo.
O crepúsculo conferia à pequena cabana uma tonalidade alaranjada, quente e aveludada. Acendeu as velas do parapeito da lareira e colocou o castiçal na mesa.
Do velho frigorífico, já gasto e com ferrugem em algumas zonas, tirou um Planalto fresco que abriu sem demora.
- Um destes dias este velhote tem que ir para a reforma. – dizia constantemente André.
Sara refutava, alegando que a idade trazia personalidade e conferia carisma ao velho frigorífico. Era das poucas peças que a cabana possuía quando a compraram, das poucas a que Sara se apegara. Estava com eles desde sempre, tal como aquele esconderijo que há 20 anos se tornara o pequeno tesouro deles.
A noite caiu estrelada, com quarto minguante perfeito.
André iria adorar.  Talvez pudessem observar as constelações, depois do jantar.
De volta à pequena sala, Sara colocou o jantar na mesa. Cheirava divinamente.
Sentou-se, aspirando novamente os aromas familiares e reconfortantes da pequena divisão.
Tabaco, madeira, comida caseira, canela e maçã. Absolutamente perfeito e tal qual se lembrava, desde sempre.
Sorrindo, serviu-se de carne e batatas.
Encheu o copo de vinho, levantando-o num brinde imaginário à figura que a fitava  atravésda moldura colocada no local onde estaria o segundo prato.


- A nós, meu amor. Onde quer que estejas.

 

Tema #5 - Hitler no purgatório

- Então, mas afinal que raio se passa aqui? Estou aqui há duas vidas e meia e esta porra desta fila não anda! Ainda por cima está um frio de morte, até parece que quinou algum judeu por aqui. Para cúmulo, estou cheia de fome, já comia uma sandocha de carne assada. 

- Tenha tento nas palavras, menina. Há coisas com as quais não se devem brincar e o assunto ali à frente é sério. 

- Perdão, Virgem Santíssima. Espero que o Céu lhe abra as portas e não se esqueça de reagrupar lá as Capazes todas. 

Ignorei o sururu atrás de mim e segui em frente. Há guerras que não vale a pena comprar, mesmo tendo a eternidade pela frente. 

Lúficer, S.Pedro e Hitler continuavam a já entediante e morosa discussão. Há anos que estão nisto. Se Adolf não tivesse aniquilado milhões de judeus em trabalhos forçados, de certeza matava o dobro de tédio nesta fila interminável. 

- Méns, ainda a mesma discussão? Francamente, parece que estamos todos na primária! Qual é a dúvida? 

- Lúcifer continua na teimosia de não levar este... Senhor... Lá para baixo. 

- Escusas de passar as culpas para mim Pedrocas. Já fiz o favor de ficar com Judas e engoli em seco o Estaline. Este levas tu. 

- Pedro, mén, o Luce...Ifer, o Lúcifer tem razão. Lá porque Ismael tem a fama de anjo mau, não quer dizer que tenha as asas mais largas. Não é justo. 

- E achas, por acaso, meu querido querubim em forma de molusco, que o Paraíso é para almas como ele? 

- Olha, por acaso até acho. Iavé, segundo a palavra escrita por vocemesses, é grandioso em amor, benigno e benevolente. Achas que não daria uma segunda oportunidade, inclusivamente, a este grandioso senhor? 

Aproximei-me mais do santo, sussurrando-lhe ao ouvido: 

- Além disso, Pedro, escuta bem o que eu te digo: Lúcifer tem as brasas, mas tu não tens nada, nem ninguém que te faça um churrasco de jeito. E o homem tem mão para a coisa. Aqueles fornos foram uma obra dos diabos! Sem ofensa, Luce. 

- Não me ofendi. 

Pedro salivou, qual cão de Pavlov. Raios, há anos que não comia um bom churrasco, Belzebu levara as brasas todas com ele quando fora expulso pelo Criador e nunca mais o Paraíso tivera um bom encontro com comida nas brasas. 

- E se o Boss descobre? 

- Pedro, Pedro, Pedro... Há quantos anos trabalhas tu aqui? És praticamente um escravo dele, mén. Orienta-te! Revolta-te! faz as coisas pela tua cabeça uma vez na vida, caramba! Aliás, até podes soltar o gajo umas horitas por dia, lá no vale dos judeus. Só naquela... A ver como corre, tajabere? 

- Perfeitamente, perfeitamente... Diz-me, meu pequeno anjo ranhoso, queres um lugar aqui também? 

- Oh Pedro, que querido! Cá abracinho, mén! Obrigada! Mesmo cá do fundo, obrigadinha. Mas eu mereço o inferno. E não me incomoda o calor. Devo ter alguns amigos lá em baixo e aproveitamos para fazer um roast - o do humor e o da carne. Aparece, se quiseres. Pode, não pode, Luce..Ifer, Lúcifer? 

 

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