Passo a vida a dizer isto. Não muito alto, não quero que outros ouçam a minha insegurança, mas digo-o silenciosamente, para mim.
Digo-o quando desço as escadas molhadas em direção à lavandaria, sabendo de antemão o perigo de escorregar.
Digo-o quando subo a uma cadeira para chegar a uma prateleira mais alta.
Digo-o quando forço um bocadinho e sinto a lombar a picar.
Digo-o todos os dias, quando olho para o meu filho mais velho adormecido: acho que a coisa não vai correr bem.
Tenho medo. Muito medo.
Medo que a rapariga se antecipe e conheça o mundo antes do tempo.
Medo que fique internada dias a fio e eu sem saber se me vire para a mais nova se para o mais velho.
Medo da ansiedade que a minha estadia no hospital vá provocar em casa.
Medo de precisar de mais dias do que os dois com que fervorosamente acredito precisar.
Medo que a primeira reação não seja a melhor.
Medo de não estar à altura de dois filhos tão pequenos.
Medo de a coisa não corra bem e não segure todas as pontas, como sempre me habituei a fazer.
Medo de lhes falhar, de não conseguir estar lá para eles, da mesma forma e com a mesma plenitude que para um.
Mas depois... Depois, lembro-me que isto é, no fundo, a única melhor coisa que poderia acontecer.
Lembro-me como vai ser giro voltar a ter um bebé, apesar do que tudo isso implica.
Lembro-me que tudo aquilo que o Caracolinho sempre pediu foi uma mana e, mesmo passando pela inevitável adaptação e possível rejeição à rapariga, vai adorar ter alguém para ler histórias e brincar ao faz de conta.
Lembro-me o quanto odiei ser filha única, o quão pesadas são as cargas quando só existe um para equilibrar com a barra.
E por isso, mesmo sabendo que haverá dias que a coisa não vai correr bem, guardo o medo no bolso pequenino das calças de ganga que agora não servem, para me lembrar dele quando as coisas correrem bem.
Esta conversa existiu mesmo, sem o mínimo de vergonha, pudor ou que quer seja classifique este tipo de atitude.
Passou-se num grupo de mães, do facebook, mas podia perfeitamente passar-se na tasca da D. Albertina.
Publicação:
"Bom dias mamãs, vocês têem sido a minha salvação, nessas palavras de conforto e força. Estou de 6 semanas e vou fazer a primeira eco sexta feira à conta pessoal, pois o médico disse que chegava bem só fazer às 13 semanas e não me quis passar (outra). Parece que enquanto não ouvir o coraçãozinho ou vir alguma coisa só ando ansiosa e nervosa :( E com maus pensamentos. Alguma das mamãs que descobriu cedo, conseguiu ver ou ouvir o coração? (Sei que corro o risco de não ouvir nem ver)."
Não vamos dissertar sobre isto, a rapariga está ansiosa, todas nós sabemos que aquela idade gestacional é uma grande seca, não se sabe nada, não se vê nada, não se sente nada, é só esperar. E esperar é a última coisa que podem pedir a uma grávida ansiosa. A rapariga decidiu fazer uma ecografia a nível particular, óptimo. Vai com certeza descansar melhor. Não lhe vamos agora estar com miudezas. Sigamos para a troca de comentários.
Admnistrador 1 :
Bom dia, eu descobri as 5 semanas. Não vai conseguir ver nem ouvir. Só a partir das 9 semanas, os médicos têm o aparelho para se ouvir o coração. Andei em pânico até o ouvir :p pode sempre dizer que tem dores e ir ao hospital e ver o que dizem :)
(sim, a admnistração do grupo respondeu isto. Não é espetacular?)
Uma mamã não se ficou e continuou:
Portanto, ir à urgência, sem necessidade, só para entupir mais um bocadinho o sistema. Grande conselho. 👍👌
(já usavas menos ironia, mas pronto, desta vez passa)
Administrador 1:
Desculpe??? Que comentário mais estúpido... Abstenha-se de comentar os meus comentários.... Você é que devia entupir a boca antes de falar!
(Logo aqui percebemos que a discussão morreu e que não vale a pena. Alguém que usa tantos pontos de interrogação só pode ter problemas de compreensão e afirmação. Não falando na agressividade logo assim à grande, mesmo à "baixa a bolinha que o cão é rasteirinho e EU SOU A PATROA cá do burgo." A-DO-RO! Vão buscar pipocas qu'isto promete)
Mamã:
Portanto, a sua recomendação de "pode sempre dizer que tem dores e ir ao hospital e ver o que dizem" é perfeitamente válida e nada estúpida. Está muito certo.
(Vais de vela, vais de vela... Tásabusar rica filha)
Administrador1:
Não, é melhor a senhora andar stressada e preocupada. Aliás a médica que me indicou fazer o mesmo quando não me queriam fazer o CTG, devia ser despedida... Aconselhou-me a entupir o sistema 😏
(Alguém falhou a aula de português onde se aprendeu a utilizar ironia. E vírgulas.)
A senhora [ da publicação ] diz que vai fazer ecografia a nível particular. Acho muito bem, eu fiz o mesmo quando engravidei, ficamos mais descansadas. Nada contra. Mas isso é diferente de recorrer a uma urgência sem ser necessário e sem haver, efetivamente, urgência. Quanto ao seu caso... CTG, por norma, já é numa fase mais avançada da gravidez e não sei o porquê de lhe terem recomendado ou não, tampouco se quem lho recomendou era ou não médico/enfermeiro. 🤷 Situações diferentes, creio eu. 😉
( ui! Agora, contradizer a urgência dela?! Já nem buscar pipocas. Já foste. Namastê! 🙏)
Eu não recomendei ir às urgências. Apenas disse sempre pode ir ao hospital... Acho que é diferente. Mas pronto 😘
(Ah... Hmmm... Ah... Hmmm... Não é o mesmo? Sempre a aprender, sempre a aprender.)
Administradora 2:
Na sua cabeça é melhor desvalorizar estes sentimentos e nao entupir o sistema que andamos a pagar impostos pra ter, e arriscar ficar com uma depressão ou ansiedade? A mamã qie vá as urgencias SIM. Porque andamos a pagar impostos para ter um serviço destes no nosso pais, porque não é normal ter de pagar um exame para saber se o seu filho esta bem e relaxar a sua ansiedade. VA A URGENCIA SIM. E não precisa de dizer dores, o psicológico tambem afeta, diga a verdade e queira auxilio que e para isso que pagamos impostos. Para sermos auxiliadas! Era o que mais faltava.
(Mas... Mas... E os acentos? E as vírgulas?! Então e... Mas... Ir à urgência só para relaxar? Mas aquilo é o quê? Um SPA? Pipocas, vou buscar pipocas)
Mamã:
* GIF facepalm Ryan Reynolds *
(Ainda não foste? Ui! Com este gifezinho já tens a corda ao pescoço. Até parece que ouço a tua cervical a estalar, filha)
Administrador 1:
Pois eu desisti porque estar a insistir com uma pessoa que não aceita mais opiniões nem vale a pena... Esta senhora nunca deve ter ido ao hospital ou urgência para ficar descansada com algo. Olha fui entupir as urgências porque o meu filho tem eczema e eu n sabia o que havia de colocar... Sou terrível, usar o que pago 🤣 enfim
(Ah... E vírgulas, não? Pronto, tá bem, mas assim uma pessoa fica com dificuldades respiratórias. Olha, uma boa urgência, esta)
Mamã:
Bom, eu já tinha desistido, na realidade. Sucede que estou grávida e não me apetece ir agora entupir a urgência apenas porque fiquei ansiosa e a matutar neste comentário por escrever. O máximo que fariam era dar-me pulseira verde, vejam lá bem!, e ainda esperava um bom par de horas para nem oxigénio de me darem. Enfim, é para o que uma pessoa paga impostos. Já recorri à urgência, várias vezes, sobretudo com o meu filho, não por ter febre há 5 minutos ou por ter espirrado umas oitavas acima do normal. Não vos ia explicar o porquê de recorrer à urgência pediátrica quando o miúdo vomitou, aquando o episódio de varicela, mas vou explicar na mesma: o miúdo tinha varicela e vomitou, algo que a médica de família referenciou ser anormal e caso de urgência. Dirigi-me, portanto, à urgência hospitalar. Entre espera, análises e outros que tais, chegou o diagnóstico: outra virose, além da varicela. Foi marcada consulta de pediatria para a semana seguinte. E depois, para o mês seguinte. E ainda para o mês seguinte, onde teve alta. É para isto que pagam impostos: para que o SNS seja usado e rentabilizado quando realmente é preciso. Não me parece, de todo, que a senhora da publicação sofra de ansiedade diagnosticada - acho que está mesmo só ansiosa e preocupada, como todas nós já estivemos com aquele tempo gestacional (a propósito: espero que a sua gravidez corra pelo melhor 😉). Recomendar uma ida à urgência (que, a propósito, é exatamente o mesmo que recomendar uma "ida ao hospital"), exagerar na dor (que é inexistente) ou só para "saber se está tudo bem", com base no argumento de 'eu pago impostos, eu posso' é, além de imoral e pouco ético, estúpido e completamente descabido. E porque o comentário já vai mais longo do que o desejado para as vossas retinas, espero apenas que reflitam sobre a palavra urgência. Se não conseguirem, lamentem também os impostos que andam a pagar na área da educação e não só da saúde. Um bom dia, com poucas urgências verdadeiramente urgentes.
(Adeus, até um dia. Tenho pena, mas não podes mais ficar. Adeus, até um dia, pode ser que nos voltemos a encontrar 👋👋).
A troca ainda continua, mas eu já não tenho pipocas. 🙄 Já chapadas, pronto, se fizessem muita questão... 👌
"Não dá para ter filhos neste país. O Estado não quer saber da parentalidade, está-se a borrifar para as famílias com filhos. Devíamos ter mais ajudas. Os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los."
As mães, depois do governo anunciar a implementação de várias vacinas no PNV, como meta para 2020:
"É sempre a mesma coisa. Eu tive que pagar tudo e na altura ninguém me ajudou. E eu que já dei metade? Onde vou buscar o dinheiro que já investi? Os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los."
As mães, depois do governo anunciar as baixas por assistência aos filhos pagas a 100% até aos 12 anos:
"Isto agora é que vai ser um fartote! Vai tudo ficar em casa com os filhos. E eu, que nunca fiquei em casa com os meus porque aos 3 anos já tomavam paracetamol e ibuprofeno intercalado de 4 em 4 horas para a febre e já sabiam emborcar o antibiótico sozinhos, dizia eu, ando eu a trabalhar para estas sostras molengonas ficarem em casa com os filhos. É sempre a mesma coisa. Os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los. E agora também às mães que ficam de baixa com filhos doentes. Olh'agora..."
As mães, depois do governo anunciar que pondera (reparem: PONDERA) atribuir creches gratuitas às crianças do primeiro escalão de abono:
"O quê?! Como assim quem está em casa não paga nada?! Então e os outros? E os 'morcões que trabalham de sol a sol' têm direito a quê? É sempre a mesma coisa. Os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los. E agora também às mães que ficam de baixa com filhos doentes. E ainda com as creches dos que estão em casa a coçar a micose e têm o primeiro escalão de abono."
As mães, depois do governo anunciar que vai atribuir um cheque para apoio ao pagamento da creche, a partir do terceiro trimestre de 2020, para famílias com dois ou mais filhos e independente do rendimento do agregado:
"Deve ser uma esmola. Aposto que é uma esmola. Os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los. E agora também às mães que ficam de baixa com filhos doentes. E ainda com as creches dos que estão em casa a coçar a micose e têm o primeiro escalão de abono."
O facto de termos um deputado de extrema direita, cujos compinchas de partido têm ligações diretas a grupos nazis: detalhe.
O facto de pagarmos TODOS a dívida GIGANTE do BES, aquando o rombo do Salgado: detalhe.
O facto da esperteza de Berardo o ter levado a guardar a sua fortuna tão bem guardada que ele nem se lembra onde a pôs: detalhe.
O facto de Isabel dos Santos ter desviado e enfiado dinheiro no bolso pequenino das calças de ganga, num país que onde água potável é sinónimo de ostentação: detalhe.
O facto do Trump ter atacado o Irão e estar no poder há demasiado tempo: detalhe.
O facto de, em Portugal, a economia paralela ser um problema grave, mas continuarmos todos a enterrar a cabeça na areia e solicitarmos serviços sem fatura ou 'ao amigo': detalhe.
O facto de, em Portugal, haver empresas com capital social que fazem chorar a rir o ceguinho: detalhe.
O facto de sermos um país idoso, muito perto do precipício para o estado social: detalhe.
O facto de termos uma das maiores e mais vergonhosas taxas de abstenção nas últimas eleições: detalhe.
Sermos, ou tentarmos ser, um estado social, onde quem ganha mais desconta mais, para que quem tem menos, tenha algum apoio: máxima importância.
Haver excepções abusadoras na fatia dos que recebem mais apoios do estado: Ultraje.
Mas os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los. E agora também às mães que ficam de baixa com filhos doentes. E ainda com as creches dos que estão em casa a coçar a micose e têm o primeiro escalão de abono.