As pessoas não percebem
As pessoas não percebem que se guardem dores para mais tarde. Não percebem que se fale, elogie e homenageie alguém sem chorar, sem apelar à lágrima e sem vitimizações.
As pessoas não percebem que não se queira partilhar a dor mas que ao mesmo tempo se queira partilhar a vida que foi, os momentos que passaram, o ciclo que se fecha.
As pessoas esperam ansiosamente pelas lágrimas em cascata, pelos gritos agonizantes, pelo delírio de dor. As pessoas querem que se continue, mas estipulam um prazo para o (re)fazer.
As pessoas não entendem que a ausência de lágrimas em cascata, esconde uma ferida de peito aberto que não vai sarar nunca, não vai ganhar couraça e vai sempre moer.
As pessoas querem sempre muito bem e muita luz e muita paz, mas não sabem respeitar o silêncio e ouvir apenas a história que se pretende partilhar.
Saber quando estender um lenço de papel é tão importante como saber escutar. E escutar é ouvir aquilo que nem sempre nos mata a curiosidade e alimenta a sede de lágrimas. É ouvir o que foram risos e gargalhadas, sem esperar que a dor fique visível. E não fingir que não dói, apenas ouvir e respeitar a dor que prefere ser sentida em silêncio e sozinha.
As pessoas não entendem isto.
E isso é mais triste e desumano que todas as dores que possam estar escondidas no âmago de alguém.