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A Caracol

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

Até onde podemos ir no humor?

Não é a primeira vez que penso nisto. Não me incomoda o humor, o sarcasmo, a sátira, a ironia. Não me incomodam as piadas secas, as mais acutilantes, as que me fazem torcer o nariz em vez de erguer os cantos da boca. Rio de tudo e mais um par de botas, acho graça até a quem não tem graça nenhuma, levo a vida a rir. Literalmente. Muito, muito raramente levo a peito uma piada. E se há dias em que não estou para brincadeiras (que também os há, não pensem que isto é só galhofa), não brinco e tento levar com (ainda mais) ligeireza o que recebo.

Ultimamente - há medida que este blogue vem ganhando identidade e rosto por detrás das palavras - tenho mais preocupação na escolha de palavras, tenho o cuidado de as organizar de forma a que não percam a graça, mas que não também sejam "ofensivas". Sei, contudo, que será impossível agradar a todos e estou sempre à espera do dia que me digam que exagerei. Do dia em que magoei alguém porque, simplesmente, fiz uma graçola. Quando é que nos tornamos tão desprovidos de boa disposição? Quando é que perdemos a capacidade de rir? 

Sou a primeira pessoa a rir de mim. Da minha vidinha absolutamente banal e comum, da minha falta de destreza física, dos meus péssimos estacionamentos, das minha azelhices e cromices. Sou a primeira pessoa a assumir que sou um cromo, uma tótó com pernas, braços e um cérebro um tanto ou quanto avariado. E isso é saudável. Não só porque rir faz bem à pele, mas também porque relativiza a nossa vida, os nossos problemas. O tempo de uma gargalhada, faz-nos esquecer que estamos numa sala de espera para um exame decisivo, por exemplo. Ou que temos menos trocos na carteira. Ou ainda, em última instância, que morremos uma bocadinho a cada dia que passa. 

Tenho imensa sorte de estar rodeada de gente com sentido de humor, desde o marido à Cunhada, passando por toda a família mais alargada. Mesmo em amizades mais recentes, com as quais vou sempre esticando um bocadinho mais a corda no que toca ao humor, já perceberam que nunca, ou quase nunca, falo a sério. Já perceberam que tenho vários parafusos perdidos para todo o sempre, mesmo pedindo a todos os santinhos do humor que me valham quando abro a boca. 

"Quem tem muito riso, tem pouco juízo", já dizia a minha avó que, apesar de me espetar isto constantemente na cara, também se ria comigo. Mas, será de facto tanto assim? Ou serão os galhofeiros os mais ajuizados por não se levarem a sério? 

Porquê, num mundo completamente louco e virado do avesso, levar a vida tão a sério? Sermos tão sisudos, tão fãs do politicamente correto, do separar o que se pode ou não se pode brincar? Porque é disso que estamos a falar, de brincar. Não estamos a falar de maldade ou perseguição. Quando é que nos tornamos todos tão adultos, tão perfeitos, tão mesquinhos nas ofensas? Eh pá, menos. A vida é curta, os dias parecem longos, o tempo escasseia. Vão-se rir quando? 

Não desperdicem o tempo de uma gargalhada, ou sorriso que seja, numa busca constante à perseguição, à ofensa gratuita. Não escrutinem palavras buscando duplos sentidos, porque o que lá está, às vezes, é mesmo só o que lá está. Não tem outras intenções que não o divertimento. Não enfiem tantas carapuças, a primavera está mesmo aí e já não precisam delas. Mesmo que precisem e vos sirvam bem, tentem não ser soturnos enquanto as colocam, está bem? É que o Mundo já tem problemas que chegue e, na realidade, está nem aí para os vossos dramazitos. 

 

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