Carta de um tendão zangado
Não tens noção do quanto me magoas quando me ignoras.
Sou forte - o mais forte, dizem - aguento com toda a carga que me queiras aplicar, mas não me ignores.
Não finjas que não sentes, não me tornes invisível e insensível. Isso magoa e mói muito mais do que uma má postura ou do que um sapato mais apertado.
Vou ser sempre o mau da fita para ti, o que te impediu de fazer o que gostavas, o que te limitou a liberdade de seguir em frente num curto espaço de tempo. Vou ser sempre o lobo mau da nossa história, mas não me importo, desde que aprendas a não ignorar quando chamo por ti.
Sentiste-me ontem? Chamei por ti. Não gritei como das outras vezes que te esqueceste de mim com negligência. Sussurrei baixinho:" Ei! Estou aqui. Faz qualquer coisa." Não te faças de desentendida, sei bem que me ouviste. Senti a tua mão a meio da noite, num gesto tímido para verificar se ainda estava contigo. Senti no teu íntimo que ainda não me esqueceste de vez e que ainda te preocupas comigo.
Dizem que tudo fica diferente quando acordamos e que uma boa noite cura quase tudo.
Acordamos juntos para mais um dia, mas por favor, peço-te com cada fibra que me compõe: não me ignores e trata-me com o respeito que mereço.
Sempre teu,
Aquiles