Conversas de balcão #5
No supermercado, enquanto aguardava que me entregassem o carapau amanhado, observo alguns compinchas tentando escapulir-se pela rede que os segura.
Penso cá com os meus botões: "Olha, aqueles grandes são tal e qual os do meu jardim. Nheca."
- Quer um saquinho deles menina?
- Não, obrigada. Para a Caracol já basto eu.
Ainda intrigada com o mexericar dos bichos, fiz notar:
- Olhe, estão a mexer-se...
- Pois estão. Então, se estão vivos mexem-se!
Caiu-se-me tudo. Fiquei com os olhos vidrados, qual boneco animado japonês e gaguejei:
- Mas... Mas... Vocês vende-nos vivos?
- Não podemos vendê-los de outra maneira, menina.
- E depois? Vão assim para a panela? Vivos?
- Vão pois!
- O PAN sabe?
- Quem?
- O Partido dos Animais e da Natureza.
- Deve saber, mas não deve gostar... Aqui tem o seu carapau.
Pego no meu peixe, lanço um último olhar aos caracóis e resisto à vontade de os comprar só para os libertar no quintal. Pobres bichinhos. Não se faz.
Perdida nestes pensamentos, avisto um pedaço de mau caminho aproximar-se da banca, assobiando enquanto exclama:
- Eh lá! Que belo petisco! Também leva?
Mordo a língua, seguro as mãos firmemente no carrinho para não sortear uma lambadas e afirmo enquanto o fuzilo com os olhos:
- Prefiro peixe.
Há dias que de facto uma pessoa de manhã e à tarde não pode sair à noite.