Mudamos tão pouco em tanto tempo
Escrevi isto há três anos - relembra-me o facebook.
Três anos.
O pequeno corpo de Alan Kurdi numa praia da Turquia foi partilhado até à exaustão há três anos. Tornou-se simbolo de uma guerra sem nome e de uma batalha perdida. Ou pelo menos foi assim, durante jma semana. Há três anos dissemos, revoltados, que não podia ser, que alguma coisa teria de feita. E fizemos, efetivamente. Elegemos o Trump, erguemos muros numa redoma envolvente aos Estados Unidos, separamos filhos e pais indeferentes aos gritos e aos choros dilacerantes. Dissemos que o aquecimento global é um mito e que as fotografias de plástico nos oceanos são montagens de teóricos da conspiração.
Afogamos ainda mais a cabeça em águas turvas, fechando os olhos com força para a poeira lamacenta não entrar. Deixamos barcos à deriva, indefinidamente. Fingimos que não existe, porque se a comunicação social não fala é porque já terminou. Tornamo-nos indiferentes ao massacre: passou a ser apenas mais um. Somos todos Paris, Barcelona, Londres, Berlim, Alepo. Somos todos por eles e eles são só mais uns na lista crescente.
Alan Kurdi foi apenas mais um e a sua morte foi completamente em vão.