18 anos...
A Magda perguntou se nos lembrávamos onde estávamos há 18 anos.
Sinto-me um bocadinho como a Rose, do Titanic, mas a verdade é que me lembro perfeitamente.
Tinha 12 anos e estava com o meu pai no centro de saúde.
Lembro-me de haver barulho, aquele murmurar constante de uma sala de espera supostamente silenciosa. Lembro-me da sala ficar, de repente, queda e muda. Voasse um papel e ninguém se mexeria para o apanhar.
Atrevo-me a dizer que ninguém respirou e todos, sem excepção, fixaram o ecrã da velha televisão.
Não percebi muito bem o impacto daquilo, afinal era só um acidente, até aparecer em letras garrafais o título "3a Guerra Mundial".
Foi só aí que falei, perguntando ao meu pai que, incrédulo, ia dizendo "Foda-se" repetidamente:
- Não é verdade, pois não? Não vai haver mesmo uma guerra, pois não? É impossível haver outra guerra mundial, não é?
Não obtive resposta coerente.
Recordo-me perfeitamente do pânico que senti pela possibilidade de haver uma guerra que nos pudesse envolver, de alguma forma. Na minha cabeça, passaram flashes de imagens dos campos de concentração, da guerra do Vietname e de tantas outras que fomos colecionando ao longo dos tempos.
A Magda diz que não tem medo, que se recusa a viver com medo.
Eu tenho medo e vivo com medo. Que a história se repita, que sejamos tolos o suficiente para permitir que isso aconteça e, sobretudo, que percamos a pouca humanidade que nos resta.
A Magda não tem medo, eu tenho muito medo. A semelhança é que não deixamos que o medo nos controle e impeça de viver, usufruindo daquilo que vida pode ser.
E tu? Também tens medo?