- Queria um café e um copo de água, se faz favor. - pediu a cliente ao meu lado.
Já fico com suores frios cada vez que vejo alguém beberricar água com o café, mas a fulana não precisava de ter acrescentado a seguinte explicação, que ninguém lhe tinha solicitado:
- Para arrefecer o cafezinho, sabe...
E eu respirei fundo, contei até 25 e recontei em decrescente até me passar a vontade de lhe afinfar um cachaço. Sorri-lhe, um sorriso amarelo, de (des)cortesia enquanto terminava o meu café curto, em chávena escaldada e sem açúcar.
Se há coisa que aprecio no meu trabalho é a comunicação com o cliente - tirando os tinhosos e os eternos insatisfeitos. Gosto da troca de ideias, de argumentos parte a parte para este ou aquele produto. Também gosto de os observar a trocar opiniões entre si, tentando falar com olhares e gestos, falando nas entrelinhas, pondo-nos um bocadinho de parte. Regra geral aprendo sempre algo novo com cada cliente.
Há dias, atendi um miúdo muito castiço. Novito, de origem angolana a estudar em Portugal, trouxe os amigos, também angolanos, para ajudar na árdua tarefa de escolher uma armação. O sotaque angolano é por si só engraçado, mas lhe juntarmos uns miúdos a querer transparecer estilo são barrigadas de riso. No bom sentido, claro, que no atendimento não há gozos aos clientes. Põe esta armação, experimenta acoloutra, essa não te fica bem e tal e coiso e os moços saem-se com um django. E a conversa baseou-se em django para cima, django para baixo e não saía daquilo ao ritmo do põe e tira armação. Não resisti: - Miúdo, o Django não usava óculos. Excusado será dizer que diverti os miúdos com este comentário. Lá me explicaram que django é uma gíria angolana para descrever algo que não favorece, que fica mal, ou como um deles frisou: "que é podre, 'tás a ver?". E eu sim, estava mesmo a ver, mas era impossível não me lembrar do Libertado de Tarantino durante aquela conversa. =)