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A Caracol

Um blogue pseudo-humoristico-sarcástico. #soquenão #ésóparvo

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Atletas Anónimos - Tiago

 

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Tiago, segundo mais velho num total de 8 irmãos, encontrou no desporto o escape para uma família conturbada e a força necessária para ultrapassar algumas fases menos boas que a vida lhe deu. Um entrevista que se revelou mais pessoal e atribulada do que as desportivas que costumam aparecer por aqui, mas que vale (muito!) a pena ler. 

Apertem os cordões e sentem aqui ao pé de nós:

Desde que me conheço faço desporto. Era uma forma de fugir dos meus problemas em casa – a minha mãe era ex alcoólica e isso trazia muitos problemas para casa.

Imaginava o desporto como um trampolim, sonhando ser um jogador de topo. E pensava assim poder ajudar meus irmãos.

Fale-nos um bocadinho sobre essa época no futebol.

A minha primeira época num clube de futebol foi em 2003/2004, no Futebol Clube Cesarence e começou apenas porque o pai de uma amiga me ofereceu boleia: o filho dele jogava lá e ele ofereceu se para me levar.

Acabei de por conseguir ficar porque os treinadores gostaram de mim.

Antes disto, do futebol, fiz ainda uma época de atletismo, onde ganhei alguns troféus e um corta-mato escolar. Era capaz de jogar futebol à segunda, à quarta e à sexta feira. Treinos de atletismo à terça e quinta feira. Jogar futebol com amigos sábado à tarde e jogar pela minha equipa ao domingo.

Tudo para fugir de casa, mas sempre me preocupei com meus irmãos mais novos: levando-os à escola e cuidando deles.

Neste momento, faço em média três treinos semanais.

 

O que mais o marcou durante essa época?

 

O momento que mais me marcou na vida, foi aos 14 anos, no mesmo ano da morte do Feher, senti-me mal a jogar futebol com amigos. Estaríamos no mês de Outubro de 2004, um sábado.

Sendo eu uma pessoa um pouco cismática, comecei alimentar um medo de ter algo e começou uma longa caminhada contra uma depressão, onde também se juntou a ansiedade que me fazia ir parar ao hospital 2 a 3 vezes por semana. Nunca me foi detectado nada, mas o medo de me acontecer alguma coisa estava sempre ao virar da esquina.

Lá consegui fazer mais 2 épocas, lutando contra meus medos, porque tinha o medo maior de deixar os meus irmãos sozinhos.

 

Quando terminou o futebol, o que seguiu?

 

Aos 17 anos, optei por deixar o futebol. Tinha começado a trabalhar para ajudar em casa, não tinha transporte para os treinos… Mas sei que, lá no fundo, foram os meus medos que ganharam sobre mim.

Mais tarde, devido a problemas em casa, acabei por ir viver com a minha avó, até que o meu pai adoeceu com tuberculose.

Senti que tinha de fazer algo por ele visto ter deixado a minha casa, pelo que, durante 3meses, todos os dias, fui ao hospital visitá-lo. Falhei 1dia…

Isso fez- me não pensar tanto na ausência do futebol.

Graças a Deus, ele ainda é vivo hoje.

Entretanto, passei a viver sozinho arrendando uma casa, trabalhando na restauração em part-time e numa fábrica a full-time.

Sem tempo para pensar nos meus medos.

Até que em 2014 me foi diagnosticada tuberculose.

Fui forte e superei. Só aí comecei a ver o quanto tinha sido irracional em relação aos meus medos. Só me apetecia sair dali e voltar a correr.

 

Conseguiu voltar ao desporto?

 

Sim, graças a Deus. Apesar de na recuperação ter feito 4 pneumotorax, tendo inclusive que ser operado.

Passado algum tempo, retomei uns jogos de futebol com amigos.

Numa semana de férias, fiz uma corrida que surgiu por brincadeira.

O vício voltou e então decidi mudar de vida. Deixei a restauração, que me ocupava algum tempo, arranjei um emprego que me permitisse fins de semana livres para fazer algumas provas, como por exemplo: uma meia maratona em 1h36 e um terceiro lugar nos Trilhos Termais em Espinho, na distância de 15km, em junho deste ano. Acho que, no final, quem luta sempre alcança.

Por fim, pedia-lhe que classifica-se o desporto numa só palavra e justificasse a resposta.

 

Resiliência - porque tenho superado algumas pequenas batalhas. A maior contra mim próprio as vezes.

 

                                                                *      *     *     *     * 

 

Muito obrigada ao Tiago pelo tempo que dedicou a contar-nos um pouco da sua história. 

Se quiserem partilhar as vossas histórias desportivas e participar nesta rubrica, podem enviar e-mail para: accaracol@sapo.pt

Atletas Anónimos - A Magda

A Magda veio até este tasquinho dar duas de letra sobre desporto e exercício físico. Trouxe, como sempre, a boa disposição e o sentido de humor. Ora atentai no que ela tem para nos dizer: 

 

Há quanto tempo frequentas o ginásio e porque começaste?

Comecei a ir ao ginásio em Dezembro do ano passado. Não porque goste ou porque me apeteça especialmente mas porque tive uma rotura muscular no psoas e, esgotadas as possibilidades da fisioterapia me fazer melhorar mais, o fisiatra recomendou-me fortalecimento muscular para ajudar.

Que melhorias significativas trouxe ao teu dia a dia?

Já consigo atravessar uma avenida a falar ao telefone (sem estar a arfar no fim), já me canso menos quando ando dum lado para o outro. Ainda há um longo caminho a percorrer (e a rotura ainda me vai dando sinais de que não está tudo a 100%) mas lá chegaremos.

Podemos falar de números? Quanto pesavas antes de iniciares e agora?

Como te disse, não fui ao ginásio para perder peso para isso comecei a ser seguida pela Dra Simone, a melhor nutricionista deste mundo e arredores que entendeu, na perfeição, as minhas manias, o facto de ter alguns constrangimentos por causa da doença de Chron e outros causados pelos meus horários. Comecei as consultas em Setembro (pouco tempo depois da famigerada rotura) com pouco mais de 129 quilos. Na última consulta tinha 124 quilos.

Além do exercício, também mudaste a alimentação. É algo que fazes com sacrifício ou já te habituaste?

A mudança na alimentação foi muito fácil. Precisamente porque a minha nutricionista (já te disse que acho que ela é a melhor do mundo?) me entendeu e percebeu – tal como eu – que mudanças excessivamente radicais, demasiado restritiva e exigente estaria condenada ao insucesso. Ambas optamos por um sistema que me permite perder peso devagarinho, sem stress, sem excessos, mas, acima de tudo, de forma consistente e coerente. Um ou dois quilos por mês é o suficiente porque os que perder agora não os quero recuperar.

Sempre gostaste de desporto ou só consideravas a leitura (como eu) como peso?

Ora bem, como resposta a esta pergunta, conto-te a resposta da minha tia quando soube que eu tinha começado a ir ao ginásio: só podes estar a gozar comigo Magda. Não acredito nisso. Só se for lá ver ou se me mandares alguma foto. E mesmo assim pode ser montagem.

Caracol, aos quatro anos (e há provas!) os miúdos corriam no ginásio e eu andava devagarinho atrás deles. Qual é a criança que o faz com esta idade? Eu! A maior preguiçosa que possas imaginar.

O meu desporto favorito sempre foi, e ainda é, a leitura.

Tens algum objetivo estipulado para este ano?

Correr a maratona de Boston!.

Mentira… Não tenho qualquer objectivo. Quero perder peso calmamente, continuar o fortalecimento muscular com calma e ir aumentando, muito gradualmente, o esforço feito no ginásio. E, acima de tudo, tentar ao máximo não arranjar desculpas para deixar de ir ao ginásio.

Imagina que do outro lado tens alguém imensamente sedentário que nos lê enquanto absorve um pacote de bolachas com petitas de chocolate. Como tentarias convencer a ir contigo ao ginásio?

Deixe lá as pepitas de chocolate, essas bolachas não prestam! Coma bolachas sem chocolate que são bem melhores. Ah, era para ir ao ginásio?... hum, vamos lá pensar. Se eu comecei a ir, toda a gente consegue ir. Não precisa de ir todos os dias, não precisa de lá passar horas a fio. Devagarinho e com calma tudo se faz. E pode continuar a comer uma ou outra bolachinha. Só não convém comer enquanto anda na passadeira. Ou na elíptica.

 

Obrigada Magda e boas corridas! :P