Uma vez pai, para sempre pai
"Como é que consegues?"
É talvez a pergunta que mais me colocam. E a resposta, a mais sincera, será sempre: "Não sei".
Como é que aguentamos 2 minutos em agachamento? Como é que aguentamos 30 segundos em prancha? Como é que aguentamos colocar mais carga quando já as pernas são bigornas de ferro fundido?
Habituamo-nos.
A dor passa a ser uma constante, uma rotina e só tens duas soluções: ou te aguentas à bronca e lhe arranjas um quartinho no rés do chão ou enlouqueces e passas a vida fechada no quarto, vivendo a mesma dor uma e outra vez.
Há dias que não é assim tão simples. Que só apetece afogar as mágoas numa garrafa de gin puro e dois ou três Xanax. Há dias que não se consegue ser feliz pelos outros. Há dias em que não apetece agradecer e só queres amaldiçoar a vida. Contudo, como num agachamento isométrico que que dura tanto que faz as pilhas duracell parecerem do chinês, ao assumires que dói, habituas-te à dor e acabas por sentir menos. Dói um bocadinho, mas tive isto tudo com ele. Gostava de lhe poder contar que sou capaz de correr 10 km, mas ele viu-me a andar de bicicleta - e a cair. Montes de vezes. Seria o primeiro a chamar-me destrambelhada e a dizer-me que consigo mais e melhor.
Há dias que fazem um bocadinho mais de mossa, mas eu sei que tivemos um boa vida enquanto durou.
E isso basta.