Mães (Im)Perfeitas - Fatia Mor
E eis que hoje vos trago alguém da blogozona para a habitual conversa sobre putos, birras e afins. A convidada é a Fatia Mor, do Vida às Fatias, que pronta e simpaticamente acedeu ao meu pedido.
Sem mais demoras:
Sou a FatiaMor, mais conhecida por Fatia e tenho duas Fatias pequeninas. Sou professora de profissão, psicóloga de formação, e mãe de duas criaturas adoráveis. A Fatia#1 tem 3 anos e meio. É uma criança muito criativa (como se pode ver nas pérolas do meu blog) e muito bem explicada. Está sempre a inventar novas músicas, jogos e ideias para explorar de toda a maneira e feitio. Tem imenso jeito para o desenho que herdou da mãe (not!!). A Fatia#2 tem 17 meses é um doce de criança. É a mais meiga das duas, mas já se percebeu que vai fazer tudo pela calada. Gosta muito de colinho, só quer dar beijinhos e miminhos, e está a começar a revelar um bom feitio que nem vos conto.
Ohhhh que fofinhas, Fatia!
Se a tua mais velha tem 3 e meio, quando nasceu a irmã teria perto de 2 aninhos, certo? Como foi a transição de uma para duas filhas, sendo que uma era ainda tão bebe?
Olha, inicialmente foi um choque. Eu tive um descolamento de placenta logo muito cedo, o que fez com que toda a gravidez condicionasse o colo. Depois de estar habituada à ideia da mana na barriga, eis que a mana sai cá para fora.
Primeiro era toda beijinhos, abraços e miminhos, até que um dia, estava eu a dar de mamar, ela levanta-se, vem na nossa direção, enfia uma estalada na mana e diz "não quero mais a mana!".
Foram alguns meses até estabilizar mas agora adora a mana e delira com as brincadeiras dela.
O bom de terem idades tão próximas é que já não se recorda bem de quando era só ela...
Caramba! Devem ter sido tempos bem difíceis, sobretudo a nível emocional. Como geriste isso?
Vai-se gerindo, sabes? Acho que o mais importante foi não dar demasiado valor a esses momentos de explosão e até os permitir para que a tensão saísse.
A Fatia#1 era muito pequena quando a irmã nasceu e a capacidade de entendimento era mínima.
Tentei sempre envolvê-la nas actividades com a irmã! Durante imenso tempo foi a Fatia#1 que lhe deu banho, por exemplo. Pegava na esponja e esfregava-a de alto a baixo. Também cedo começou a ajudar na muda da fralda, nas brincadeiras para as primeiras colheradas. Quem cuida, ama e seguimos um pouco esse princípio ao deixá-la "cuidar" da irmã.
Depois, também tivemos o cuidado de continuar a dar-lhe alguma atenção exclusiva. Deixar a mana com os avós e ir passear apenas com ela.
Com tudo isto, o processo resultou numa relação muito gira entre elas, já com os seus altos e baixos, mas com muito amor à mistura!
E o tempo Fatia? O sacana parece que voa quando temos filhos pequenos. Como geres o tempo com duas meninas pequenas?
Desde que tenho filhas que acho que o tempo voa. Não consigo apreciar na totalidade o desenvolvimento delas e parece que me esqueço como era ainda há 6 meses...
Mas adoro a possibilidade de ver dois seres a desenvolverem-se de dia para dia. E por isso é tão bom ver o tempo passar e ver as conquistas que elas fazem a todo o instante.
Por outro lado, há a vertente da gestão do tempo. Eu sou apologista de rotinas bem implementadas. Lá em casa há horas para tudo, com bom-senso é claro. Normalmente o levantar e o deitar são a horas certas. Fazemos sempre um esforço por tomar o pequeno-almoço em conjunto para começarmos bem o dia. Depois a Fatia#1 vai para a escola e nós para o trabalho. A Fatia#2 ainda não vai para a creche. Foi uma opção que fizemos e enquanto pudermos, será assim. À tarde, brinco com elas pelo menos uma hora. Saltamos, rimos, fazemos brincadeiras, puzzles ou plasticina. Às 18h são horas do banho. Pode ser um pouco mais cedo ou mais tarde, dependendo do dia, mas nunca passa das 18h30. Às 19h são horas de jantar... Elas comem cedo porque dormem cedo. Dou-lhes o jantar e segue-se mais meia hora de brincadeira. A seguir vêm as rotinas da noite: xixi, lavar dentes, beber água, ler a história, leite para a mais nova e cama com elas! Porque às 7h30 da manhã do dia seguinte está tudo acordado! E são assim as nossas rotinas. Ao fim-de-semana a coisa aligeira-se e tentamos passar o máximo de tempo fora de casa com elas: passear, conviver, ir ao parque, ao café, enfim, o normal.
No meio de tanta correria, tanta evolução, o que de melhor aprendeste, até agora, com a maternidade?
Acho que aprendi a descontrair. A aceitar que as coisas nem sempre são como nós esperamos, que os miúdos não se comportam de acordo com as teorias.
Aprendi também que a maternidade é um campo constante de críticas. Nunca estamos bem. E temos que aprender que cada pessoa tem a sua visão da melhor forma de educar os filhos: nem melhor, nem pior, apenas diferente.
Sim, nisto da maternidade há paletes de teorias. Na temática da birrice há imensas, cada uma com a sua certeza. Como lidas com a birra? Tendo duas filhas tão pequenas, suponho que o não te faltem sejam birras. Queres destacar alguma?
Como lido com as birras pode ser tema que dá para mangas. Depende da birra, do que a motiva e de qual delas se trata.
Normalmente tento desvalorizar a birra, ou seja, deixo-a fazer um pouco do seu charme e muitas vezes a coisa resolve-se sozinha. A mais velha já consegue perceber algumas coisas, por vezes dá para negociar. Mas nem sempre é possível e verdade seja dita nem sempre tenho paciência. A mais nova, a melhor estratégia é tentar distraí-la e a maior parte das birras são motivadas por sono, que tem uma solução, dormir! Agora sim, começou a mostrar a sua raça e a fazer birras por frustração, especialmente quando lhe dizemos que não a alguma coisa. Gere-se com o que há! Gostava de dizer que sou sempre 100% pedagógica, mas é mentira. Às vezes levanto a voz, outras tento estratégias mais ajustadas. A mais velha já levou uns sacode-pós, por exemplo. Não me orgulho, mas reconheço que fez o seu efeito. Enfim, nestas coisas, não há perfeição, certo?
Nunca há perfeição na parentalidade. Digo eu, que tantas vezes não sei como lidar com o miúdo, qual o melhor caminho, qual a melhor forma. E muitas, tantas vezes, como dizes, não há paciência. Conseguem tirar-nos do sério.
Mas também há imensas coisas boas, que nos fazem sorrir só de lembrar. Tens algum momento desses que gostasses de partilhar? Que de alguma forma te tenha marcado, enquanto mãe?
O que mais me faz sorrir quando penso nelas, é a cumplicidade que elas já demonstram ter! Nada me aquece mais o coração que vê-las brincar, gargalhar com as maluqueiras que vão fazendo uma para a outra e ver que a minha Fatia#1 nunca sai de casa sem dar um beijinho à Fatia#2. O que mais desejo é que se mantenham assim pela vida fora.
Sabendo o que já sabes hoje, que sugestão deixarias para futuros pais?
Sugestão propriamente dita, acho que não tenho nenhuma. Mas tenho uma conselho, ou se preferires, uma ideologia que acho que todos os pais precisam ouvir. Já falei dela aqui.
Tudo passa! Não vale a pena ficarmos demasiado ansiosos ou frustrados, porque um dia, todas as dificuldades vão ficar para trás. Tudo passa!
É um bom concelho, sem dúvida.
Para terminar a nossa conversa, gostaria que me definisses a maternidade numa só palavra e explicasses a tua escolha.
A maternidade para mim é natural.
Nunca pensei muito na questão do querer ou não querer ter filhos. Quando tive a minha primeira filha descobri que a maternidade é uma coisa natural. Comum. Que muitas mulheres já passaram por isto e muitas outras ainda irão passar. E quando digo natural quero distanciar-me da ideia do especial. A maternidade é natural e, para mim, devia ser entendida assim!
Um muito obrigada à Fatia, pela simpatia e disponibilidade em aceitar o meu convite. Foi a primeira entrevista blogosférica que fiz e não podia ter começado melhor, gostei mesmo muito.
E vocês?