Como o meu nome ali no perfil indica, chamo-me Andreia e já fui mais nova. Tenho esperança de ser mais velha também, mas isto nunca se sabe. Dois filhos coabitam comigo, ou eu coabito com eles, às vezes fico na dúvida sobre quem manda nesta casa realmente, o mais velho tem meia década e a mais nova quase meio ano. São conhecidos como "Caracolinho" e "Pequena Bola D'Unto". Senhor meu marido tem mais PDI do que eu, mas está aí para as curvas. Estamos juntos há... Hmmm.... Não sei bem, mas é muito tempo. Também não consigo dizer a data de casamento, porque tirei a aliança como medida de contingência Covid em Março e ainda não voltei a colocar. A miúda dorme e o soalho range, levantar-me para averiguar esse detalhe está fora de questão. Adoro boa música - a minha , não a dele; boas séries - as minhas, não as dele; e bons livros - os meus, ele não lê mais que os rótulos da comida e já é uma sorte. Como está bom de ver, eu sou o bom gosto da família. Ele faz a parte dele como calculadora humana. Os nossos filhos são uns pequenos anjos que vivem para testar a nossa paciência e não raras vezes apetece-nos pô-los na lista de adopção. (Estava a brincar. Ok, pronto, só assim numa família de acolhimento, a ver como corre). Ah! Também temos cães. Dois. Quando se juntam os 5, eu abro um garrafa de gin e uma tablete de chocolate. Só para mim. Odeio a falta de empatia e ausência de poder de encaixe. Irrita-me a falta de sentido de humor e esta coisa de se ofenderem por tudo e por nada. Geralmente, por nada. Também não gosto muito de grão de bico e odeio papas de aveia. Gosto de exercício, mas odeio fazê-lo e reclamo imenso durante. Adoro reclamar e acho mesmo que nasci para isto. Sou um nadinha nariz empinado, mas de perfil quase não se nota. Às vezes também minto, sobretudo quando risquei jante do carro, finjo surpresa quando o homem repara e juro a pés juntos que não sei mesmo o que aconteceu enquanto culpo o gato da vizinha. Não sou melhor que ninguém, mas o meu bolo de chocolate é o melhor do mundo! Sou uma pessoa iluminada e irradio luz - sobretudo quando coloco calhas de lâmpadas dentro do vestido, como se vê na foto. 🙄 Ah! Sou também A Caracol, mas só nas horas vagas, que a rapariga é doida e dá cabo de mim, não aguentaria sê-la durante todo o dia.
Sou luz, muita luz. Sobretudo quando deixo as dos tectos todas ligadas para arrumar a roupa. Muita luz para vocês também. Mas só a EDP , no coração é coisinha para dar um piripaque e não dá jeito agora com o Covid.
Vim agora do hospital e o médico disse que tenho uma virose. Chamou-lhe ele "Burro-parvo-virose". Disse que passava com tempo e abstenção de grupos de mamas. Ainda falei no 'tibiótico, mas ele disse que não precisava, que passava se deixasse de vir aqui ler comentários de mamas com mestrado no Google. Eu acho que precisava mesmo de um 'tibiótico. E também acho que o médico foi grande parvo e mal encarado na minha consulta. Estava sempre a olhar para o relógio, a meio disse ao coleguinha "vai ver como está a senhora que eu já subo". Quando o confrontei sobre isso, que eu assim muito frontal não guardo cá nada dentro, disse que tinha uma senhora com um parto complicado e que precisava de acompanhamento. Passei-me! Atão, eu que estava carregadinha de comichões até ao umbigo, olhem que só eu sei como passei a noite, sempre num coça coça que quase fui buscar o piaçaba para ajudar na lombar, eu que lhe pago o ordenado com os meus descontos, nem todos, porque faço uns extra com unhas de gel que não entram no rendimento, mas pronto cada um safa-se como pode, eu que estou com gravidez de risco desde as 4 semanas, porque é muito perigoso inserir facturas no computador, e o médico de família nem me queria passar, tive que armar barracada e fazer valer os meus direitos, mas já me perdi... Ah! Eu que estava ali mesmo aflita, praticamente com o mindinho do pé no cemitério e outro no portão ao pé do S. Pedro, tive que levar com uma rapidinha do médico. Olhem que o sacana mal para o livro de grávida olhou, caramba!
Bom, queria saber as vossas opiniões: não acham que me devia ter passado uma penincinlina? Já li que comichões no umbigo podem ser bacterianas e podem levar a partos prematuros... É que isto de médicos nunca fiando.
"Não dá para ter filhos neste país. O Estado não quer saber da parentalidade, está-se a borrifar para as famílias com filhos. Devíamos ter mais ajudas. Os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los."
As mães, depois do governo anunciar a implementação de várias vacinas no PNV, como meta para 2020:
"É sempre a mesma coisa. Eu tive que pagar tudo e na altura ninguém me ajudou. E eu que já dei metade? Onde vou buscar o dinheiro que já investi? Os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los."
As mães, depois do governo anunciar as baixas por assistência aos filhos pagas a 100% até aos 12 anos:
"Isto agora é que vai ser um fartote! Vai tudo ficar em casa com os filhos. E eu, que nunca fiquei em casa com os meus porque aos 3 anos já tomavam paracetamol e ibuprofeno intercalado de 4 em 4 horas para a febre e já sabiam emborcar o antibiótico sozinhos, dizia eu, ando eu a trabalhar para estas sostras molengonas ficarem em casa com os filhos. É sempre a mesma coisa. Os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los. E agora também às mães que ficam de baixa com filhos doentes. Olh'agora..."
As mães, depois do governo anunciar que pondera (reparem: PONDERA) atribuir creches gratuitas às crianças do primeiro escalão de abono:
"O quê?! Como assim quem está em casa não paga nada?! Então e os outros? E os 'morcões que trabalham de sol a sol' têm direito a quê? É sempre a mesma coisa. Os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los. E agora também às mães que ficam de baixa com filhos doentes. E ainda com as creches dos que estão em casa a coçar a micose e têm o primeiro escalão de abono."
As mães, depois do governo anunciar que vai atribuir um cheque para apoio ao pagamento da creche, a partir do terceiro trimestre de 2020, para famílias com dois ou mais filhos e independente do rendimento do agregado:
"Deve ser uma esmola. Aposto que é uma esmola. Os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los. E agora também às mães que ficam de baixa com filhos doentes. E ainda com as creches dos que estão em casa a coçar a micose e têm o primeiro escalão de abono."
O facto de termos um deputado de extrema direita, cujos compinchas de partido têm ligações diretas a grupos nazis: detalhe.
O facto de pagarmos TODOS a dívida GIGANTE do BES, aquando o rombo do Salgado: detalhe.
O facto da esperteza de Berardo o ter levado a guardar a sua fortuna tão bem guardada que ele nem se lembra onde a pôs: detalhe.
O facto de Isabel dos Santos ter desviado e enfiado dinheiro no bolso pequenino das calças de ganga, num país que onde água potável é sinónimo de ostentação: detalhe.
O facto do Trump ter atacado o Irão e estar no poder há demasiado tempo: detalhe.
O facto de, em Portugal, a economia paralela ser um problema grave, mas continuarmos todos a enterrar a cabeça na areia e solicitarmos serviços sem fatura ou 'ao amigo': detalhe.
O facto de, em Portugal, haver empresas com capital social que fazem chorar a rir o ceguinho: detalhe.
O facto de sermos um país idoso, muito perto do precipício para o estado social: detalhe.
O facto de termos uma das maiores e mais vergonhosas taxas de abstenção nas últimas eleições: detalhe.
Sermos, ou tentarmos ser, um estado social, onde quem ganha mais desconta mais, para que quem tem menos, tenha algum apoio: máxima importância.
Haver excepções abusadoras na fatia dos que recebem mais apoios do estado: Ultraje.
Mas os ciganos é que estão bem: têm tudo de borla. Esses e os do rendimento mínimo. Andámos nós a sustenta-los. E agora também às mães que ficam de baixa com filhos doentes. E ainda com as creches dos que estão em casa a coçar a micose e têm o primeiro escalão de abono.
O Pai Natal decidiu reformar-se e as entrevistas começam esta semana. Descreve uma dessas entrevista
Rudolfo bufou, exasperado.
Já tinha feito mais entrevistas de emprego do que os embrulhos de umas horas de trabalho de um Elfo.
À sua frente já se tinham sentado: um Pai Natal bêbado depois do seu turno no centro comercial, Rita Ferro Rodrigues que lhe limpou a paciência para os próximos três anos com o politicamente correto, André Ventura que tentou ludibriá-lo com discursos utópicos e assertivos, mas dali não levou nada, que Rudolfo é só um antílope e não um peixe. Esteve três infinitas horas com Joacine, apenas para ela lhe dar os bons dias. Quando a conseguiu despachar, colocou o Radio GaGa em loop, só para descontrair. Trump também tentou a sorte, mas recuou quando Rudolfo frisou que "todas as crianças do mundo, incluem também as mexicanas." Seguiu-se Bolsonaro, que saiu chamando a rena de "animal", quando este lhe disse que teria de usar uma política mais sustentável. Até Greta apareceu, cheia de ideias inconcretizáveis e um punhado de embalagens recolhidas das Maldivas, com as quais pretendia embrulhar todos os presentes do mundo. Bonito, mas inconcebível num curto espaço de tempo. Numa das suas pausas para o lanche, ainda esbarrou com Marcelo Rebelo de Sousa, mas o homem só queria um selfie e não o cargo. Do mal o menos, sempre era mais publicidade para atrair mais candidatos ao cargo.
A vida não era justa. Tinha pedido férias ao patrão e justamente nesta semana é que o sacana do velho anuncia a reforma. Engoliu o resto do almoço e bebeu o café de um trago só. O próximo entrevistado esperava-o e tinha grande fé neste candidato.
- Então, diga-me: está disposto a deixar tudo para fazer as crianças mais felizes nesta quadra?
- Eu já não tenho quase ninguém, sabe. A minha família apoia-me e vou sentir-lhes a falta, mas eu sei que ainda consigo fazer melhor e compensar, de alguma forma, os erros que cometi.
- Tem experiência em cargos similares?
- Não com tanta responsabilidade, seguramente. Há uns anos largos, numa outra vida, fiz várias pessoas felizes com sorteios num programa de televisão. Era gratificante poder oferecer alguma coisa a alguém que, muitas vezes, não tinha nada.
- Um programa de televisão, disse?
- Sim, sim. Olhe, até tinha uma ajudante, quase como o Pai Natal o tem a si.
- A Lenka?
- Não, não... - assegurou o entrevistado por entre risos - a minha ajudante era mágica, criou todo um mundo de imaginação à sua volta, as pessoas sonhavam com ela e nem sequer tinha uma curvas tão atractivas como as da Lenka. Fazíamos uma boa parelha. Se conseguir o cargo, vou perguntar-lhe se está disponível para voltar a espalhar magia comigo.
- Ajudas são sempre bem-vindas. E com magia, ainda melhor! E diga-me: crianças. Como se dá com elas?
- Oh, as crianças...! O que gosto de crianças! E de as fazer felizes. São um profundo poço de aprendizagem, sabe? Valorizam as mais pequenas coisas e ensinam-nos que o que realmente vale a pena, o que realmente importa não são os presentes mais caros ou as marcas mais luxuosas: é o momento, o tempo e o carinho que lhes dedicamos. Adoro crianças!
- Há muito tempo que não aparecia aqui alguém com um discurso tão entusiasta sobre a miudagem, sabe. Até deu gosto ouvir. Creio que temos contrato. Vamos só tratar das formalidades e começa... amanhã. Que me diz, senhor... Peço desculpa, relembre-me o nome, por favor?
É a 265ª vez que lhes repito o mesmo: não nasci para isto.
Os sacanas insistem: ninguém nasceu, trabalha-se e consegue-se. Depois, mandam-me para mais uma ronda.
Não aguento mais. Já não sinto as pernas, falta-me o ar, sinto-me a colapsar de dentro para fora. Como é que eles não vêem? Como é que eles não percebem que, se continuar assim, vão acabar por me mandar para a morgue, ou pior para o hospital? Como é possível ignorar as dores de uma pessoa assim desta maneira tão vil?
Como numa espiral de euforia que nos leva a loucura, a música continua. Grita aos nossos ouvidos, impelindo-nos mais um pouco para diante. Há sempre um olhar de compreensão que se troca com um colega, na impossibilidade de articular qualquer palavra. Estamos todos no barco, custa o mesmo a todos. Saber disso, mesmo não atenuando a nossa agonia, ajuda a suportar o peso com que nos carregam as costas.
Olhamos em frente, em busca de novas ordens, exaustos, derreados e já a ver a luz ao fundo do túnel - não a da esperança, a outra que os moribundos alegam existir.
- Não nasci para isto - repito novamente para mim.
- Não desisssstteeeeeeeee! - é o grito que se ecoa pela sala, com um olhar reprovador sobre quem tem a audácia de respirar um bocado.
- Mais oitoooooo!
- Não nasci para isto - penso, enquanto conto o número de cobras, sem sentir os braços.
Finalmente, termina.
Como se sofrêssemos de amnésia, agradecemos ao nosso carrasco, elogiando o seu trabalho e prometendo voltar. É sempre assim: quanto maior o desafio, maior o vício. A mente sai leve, não sentimos nada e nem sequer sabemos como vamos descer escadas no dia seguinte. Nesse momento, temos a certeza: mesmo não nascendo para aquilo, é exactamente daquilo que precisamos.
(texto inspirado numa qualquer aula de crosstraining. Ou Power. Ou Jump. Ou Fitness, no geral.)
Comecei isto em dezembro passado, creio que tem dois capítulos, mas depois passou-se o timming natalício e deixou de fazer sentido. Este ano termino a saga "E se a Imaculada Concepção Fosse Hoje?"
(Não recomendado a pessoas com sentido de humor enfraquecido ou que se ofendem com humor religioso)
I Capítulo
9:00 da manhã, na reunião de Conselho Celestial:
Deus: - Miguel, quero um filho. Vai lá baixo e trata-me disso, por favor. Leva o Espírito Santo contigo.
Miguel: - Outra vez eu?!
Deus: - Sim, outra vez tu. Tens algum problema com isso?
Miguel: - Por acaso tenho. Começamos por onde? Pelas horas extra que fiz para encontrar o Daniel no meio daquele jejum maluco que o gajo fez no deserto?! Ou pelos treinos bi-diários a que me sujeito para a batalha final que nunca mais chega? Onde está o MEU momento de glória que prometeste quando me contrataste, hã? Estou estagnado na minha carreira desde as profecias que me anunciam e isso é injusto!
Deus: - Outra vez essa conversa? Queres falar de horas de extra? E as que EU fiz para VOS criar?! O tempo que dispendo constantemente para a vossa formação, o meu esforço e criatividade em milagres capazes de nos sustentar por milénios. Perpetuei a tua imagem, vives dela e tu vens-me agora com sindicalismos e reivindicações? A mim?!
Miguel: Eh pá, não me venhas com tretas... O milagres também te deram jeito e nós todos contribuímos para que o teu bom nome sempre fosse salvaguardado. Mesmo quando Lú...
Deus: Parou! Não te admito que me fales nesse tom, muito menos que menciones a concorrência! Se não queres trabalhar, há mais quem queira e sem um terço das tuas lamentações. Há quem vista genuínamente esta camisola e não esteja aqui só à procura de glórias, sabias? Agora desaparece-me da vista antes que eu me esqueça quem és e te retire a promoção deste mês. E podes dizer adeus às férias do próximo ano.
Gabriel: Senhor meu Deus, considera que tenho capacidade para tarefa tão magnânima? Muito gostaria de o ajudar na concepção de alguém capaz de o ajudar nesta árdua tarefa de liderança do céu.
Deus: Tazaver Miguel? Há sempre quem queira trabalhar... Vai Gabriel. Que o Espirito Santos te acompanhe, leva uma manta que faz frio lá em baixo. Falamos do r€sto quando voltares. Se tiveres cumprido bem a missão.
O vento soprava furioso e impedioso, arrastando consigo o inverno gelado.
Ana, que mal conseguia andar, vislumbrou ao longe Kristoff e forçou as pernas na sua direção.
Ao mesmo tempo, Hans desembainha a sua espada para o último e derradeiro golpe: aniquilar uma Elsa vulnerável.
Numa última tentativa de fazer o que está certo, num último grande gesto de amor verdadeiro, Ana defende a irmã, congelando ao último suspiro.
- Resultou? - pergunta por cima do ombro.
- Tal como previste querida. És um génio! Mas... E agora? Ela não vai descongelar, já que este foi o seu último acto de "amor verdadeiro?" - questionou Hans.
- Querido, por algum motivo eu nasci com poderes e não a tonta da minha irmã.
Aproximando-se da estátua gelada de Ana, Elsa canta sinistramente enquanto pequenos flocos de neve que saem das suas mãos se acomodam na pele gelada da irmã:
Vem fazer bonecos de neve? Há um que é só teu
- Magnífico! - aplaude Hans - E... os outros? - questiona apontando para Kristoff, Olaf e Sven.
Elsa encara, pela primeira vez depois daquele momento, os três pares de olhos que a fitavam com desconfiança, horror e estupefacção.
Numa atitude algo teatral e cuidadosamente encenada, pergunta:
- Oh! Não me apercebi que estavam aí... Que horror! Que fui eu fazer? A minha única irmã...!
Olaf abriu a boca para tentar falar, mas um raio de gelo atingiu-o antes sequer de o conseguir fazer.
O mesmo aconteceu à rena e ao dono, eternamente convertidos em estátuas geladas, quedas e mudas. Para sempre petrificados.
- Achas que cabem no jardim do palácio, querido? Não me apetecia olhar para eles sempre que estiver no salão.
- Arranja-se maneira, meu pequeno floco de neve. Tratas da nuvem de inverno para os manter assim e eu trato de os colocar a decorar o jardim. Vai ficar lindo no Natal!
Não sei se já almoçaste, espero que sim, com aquela missiva que recebeste anteontem aposto que ficaste com vontade de fazer jejum intermitente. Se precisares de nausefe apita, tenho um stock jeitosinho...
Portugalito, antes de mais, deixa-me agradecer-te: foi graças à educação que me proporcionaste, que percebi, quase na primeira linha, que aquilo não era um artigo de opinião. Era uma composição da quarta classe de um miúdo que, claramente, copiou e adaptou o discurso do pai, administrador de condomínio do prédio XPTO onde vive.
Obrigada pela minha professora de Filosofia que tanta paixão tinha pela carreira, conseguiu pôr 16 marmanjões e 1 molusco a raciocinar e usar esse músculo tantas vezes esquecido: o cérebro. Não te vou agradecer a professora de inglês do 7°ano, porque não ensinou que se diz "àpple" e não "aiple", mas agradeço todas as de português que sempre batalharam nas vírgulas antes das conjunções coordenativas adversativas, bem como no crime que é a separação com vírgula do entre o sujeito e o predicado.
De seguida, querido País à beira mar plantado, quero agradecer-te a saúde. Não, não te vou mentir: tens de te esforçar e melhorar muita coisa. O SNS é um caos e o sistema onde está inserido é um edifício em ruínas. Contudo, nem tudo é negro e eu acredito mesmo que o coração da saúde, o humano, é bem capaz de suplantar a tinta descascada e o buraco no tecto do hospital de Gaia. Podia ser melhor? Podia. E vai ser. Só tens que te esforçar um bocadinho mais, ouvir um bocadinho mais e vir um bocadinho mais o terreno.
Ainda nesta área, obrigada pelo respeito e dignidade com que tratas quem decide, seja porque motivo for, interromper uma gravidez. Falta a eutanásia, mas lá chegaremos. Isso e tornar as vacinas obrigatórias de uma vez por todas. Com calma, eu acredito em ti.
Ainda na minha humilde lista de agradecimentos, constam os políticos. Obrigada pela interminável novela mexicana partidária com que nos presenteias de vez em quando. Obrigada pelos stand ups de comédia gratuitos que são os discursos eleitorais. Obrigada por transformares, tantas vezes, a Assembleia da República num reality show de horário nobre. Não fosse isso e grande parte dos humoristas ficava sem trabalho, mas tu pensas em tudo e não queres que nos falte nada, meu bom amigo.
Agradeço ainda, sem ponta de ironia, a liberdade. A liberdade de dizer barbaridades com 17 anos, num dos maiores jornais digitais da atualidade e a liberdade de poder refutá-lo e ridicularizá-lo nesta publicação. A liberdade de dizer que o Estado Novo faz parte da história, do qual Salazar foi um governante imponente, mas que não foram tempos gloriosos e que não o queremos, de todo, de volta. A liberdade para escolher ter um filho sozinha, para abortar, para adoptar numa relação homossexual, para trocar de sexo, para aumentar as mamas, para pôr o glúteo na nuca ou para forjar umas pestanas capazes de provocar furacões na Tailândia.
Acima de tudo, Portugal, obrigada pela internet, pelos jornais digitais e pela informação que rapidamente me entra pelos olhos adentro. Mesmo que às vezes seja uma merda.
Em nome dos Descobrimentos, das batalhas perdidas e dos tratados assinados,
Fico derretida quando isso acontece, mas depois lembro-me que, correndo tudo bem, vai crescer, passar de gramas a quilos e vou levar biqueiros no fígado e nos rins. Mal posso esperar!
O meu apetite normalizou ligeiramente, mas há dias em que passava bem sem almoçar ou jantar. Isso irrita-me um bocado, porque se há coisa que adoro nesta vida é enfardar como uma alarve em vias de extinção. Tudo bem, temos sempre a sopa e as tostas mistas.
Estou menos irritadiça em casa, o que é fixe para o homem e péssimo para os fornecedores do trabalho. Alguém tem que servir de saco de boxe, não é verdade?
Os teóricos das gravidezes insistem que a líbido aumenta neste trimestre. A maioria das grávidas sente isso mesmo. Já eu estou em crer que minha quinou de vez e já lhe celebrei a missa de 7º dia com o único cacete que me apetece ver à frente: o de regueifa. Com manteiga e ligeiramente torrado.
Modos que é isto. Continuo com o cérebro feito em papa cerelac com três dias, mas cá me vou arranjado com as notas do telemóvel. E os post its para não me esquecer de ver as notas do telemóvel. E o homem para lembrar dos post its que me lembram as notas do telemóvel.