Quando o mundo consegue vislumbrar a nossa gravidez, há todo um conjunto de comportamentos que nem ao demo lembrava. Aqui está o meu top 3:
1º "Estás de bebé?"
É das expressões mais parvas que já ouvi. Só por isso já tem lugar no pódio. Não faz sentido. Isto quer dizer o quê? Que tenho cara de bebé? Que carrego um bebé? Se fosse isso, seria "Estás com bebé?" e seria ainda mais estranho. Nah, para mim não funciona e dizerem-me isto está ao mesmo nível de quem atira "Estás de trombas!..."
2º "Ah, que giro agora és um 2 em 1"
Já falei dela aqui, e continuo a não lhe ver nada de bonito. Se fossem dois, suponho que estaria ao nível da santíssima trindade, o que parecendo que não, elevaria a coisa a outro patamar. Como é só um, fico-me pela prateleira dos detergentes. Está muito certo. Quero só frisar que, a ser um líquido de limpeza super eficiente, estou no patamar das melhores marcas, assim um Sonasol ou um Ajax. Jamais um Ultra-Pro.
3º Fazer festinha na barriga
Eh pá esqueçam lá isso... Se não vos conheço de lado nenhum, o mais certo é levarem com um olhar fulminante. Ou, como sou um bambi, com um sorriso amarelo enquanto invento desculpas para me pirar da vossa beira. Eu sei que não é por mal, e que, na maioria dos casos, é só uma demonstração de carinho e entusiasmo, mas não deixa de ser intrusivo. Mesmo que seja uma barriga fofinha como a minha (gaba-te cesta!). Já viram como seria se tocássemos em tudo o que é fofinho? "Oh, que mamas tão fofinhas que a senhora tem!" ou "O seu rabo é mesmo arranjadinho!", estão a ver, não estão? Vamos então meter as mãozinhas nos bolsinhos, sim?
Já viram o que me uma pessoa atura? Ele há com cada uma...
Que me digam que sou rica, só porque herdei meia dúzia de bens;
Que me digam que não sei o que é vida;
Que me digam que tive vida facilitada;
Que me acusem de ser mimada;
Que culpem outros pelos meus actos;
Que distorçam, entendam e refaçam aquilo que digo/escrevo conforme lhes convém;
Que me ignorem quando falo a sério;
Que não percebam o humor, o sarcasmo ou a ironia de um comentário;
Que não saibam ler ou ouvir nas entrelinhas;
Que se achem de tal importância, que todo e qualquer comentário é sempre dirigido à sua ilustre pessoa;
Que me virem a cara sem motivo e sem justificação;
Que não aceitem desculpas sentidas e sinceras;
Que não me falem só porque ouviram o diz-que-disse, não aceitando qualquer diálogo.
São muitas coisas que me enervam profundamente e às quais não faço mais do que subir para o degrau seguinte, deixando-as devidamente arrumadas na respectiva gaveta.
Ainda bem que a lista de coisas que me alegra profundamente é consideravelmente maior!...=)
Não meus caros, não venho falar de defuntos, zombies, ou pessoinhas apáticas. Hoje, falo-vos de quem não tem uma vida.
Andava eu a passaretar pelo mundo dos blogues, quando páro n'A Pipoca.
A Pipoca, para quem não sabe (há alguém que não saiba?), é a Cleópatra dos blogues.
Queixava-se a autora do mais que famoso A Pipoca Mais Doce (se não conhecem, parem lá e divirtam-se!), neste texto, que os seus fãs - sim, porque para repararem em pormenores daquele calibre só podem ser fãs, ter página de fãs e ainda todo um altar pipoquiano na marquise lá de casa - melindram-se com a sinuosidade dos seus dentes! Ele há gente que não tem mesmo nada que fazer da vida!
Vou todos os dias ao blogue da Pipoca, é quase como abrir o facebook pela matina para ver as novidades, e nunca reparei nos dentes da moça. Nem no nariz. Nem em nada que não fossem os farrapos que costuma vestir, ou nos Loubotin que teima em trazer colados aos pés. Se calhar, sou só eu, que tenho marido, um enxoval a preparar, trabalho, casa para arrumar, cães para tratar, vida social para gerir... Na volta, sou eu, que tenho vida e a vivo com gosto, sem mesquinhices ou nhas-nhas desnecessários. Na volta, sou eu, que desdramatizo, relativizo e tento tornar pequeno o maior dos problemas. Na volta, sou eu que estou errada.
E certa está aquela pessoa, frustada pela vida, ou pelas escolhas que fez da vida, sem razão pela qual se levantar de manhã, sem amigos para sair, sem preocupação do que irá fazer para o jantar, se a EDP já foi paga, se vai chover porque deixou a roupa no estendal... Na volta, é essa pessoa que está certa que, sem ter nada com ocupar os miolos, esmiúça as vidas dos outros como se dela fossem e "corrige" o que gostaria de ver corrigido na sua.
Deve ser triste isto de não se ter vida.
Eu, que já tive uma vida de cão (desculpem-me lá o dramatismo, é só hoje), não trocava a minha por nada. Gosto dela, das lições que me ensinou e continua a ensinar, do cansaço ao final do dia, daqueles dias em que não apetece fazer nada e tudo está por fazer. Gosto do seu silêncio e do seu barulho, dos seus cinzentos e dos seus arco-iris.
Enfim, é uma vidinha comum e simples, mas eu gosto dela assim, que vou fazer?
Uma coisa é certa, se eu não tivesse vida, não escolheria a da Pipoca. Não é por nada, gosto bastante da moça, mas se é para não ser a minha, ao menos que seja em grande! Tipo, a Angelina, ou a Gisele Bundchen, que têm uns pernões do caraças e isso deve dar bastante jeito para partir alguns dentinhos alheios!
Sentia um vazio enorme no peito e uma ansiedade inexplicável de cada vez que abria o meu perfil de facebook.
Sempre a mesma coisa.
Foram dias (três) disto.
Nem um gosto, nem um comentáriozinho simplório, nem um risonho. Nada de nada.
Estive quase a sucumbir ao tédio, à tristeza profunda e afogar todas as minhas lágrimas numa taça de chocapic, uma vez que o álcool não me é permitido.
Na segunda, um texto simples, com algum humor, a contar A novidade.
Nada.
Talvez pela hora tardia, talvez porque ninguém quer ler, talvez não tivessem visto...
Terça de manhã, uma daquelas imagens que se lêem em 10 segundos e cujo contexto se assimila em 20...
Mais uma vez: nada.
Algo não estava bem, eu sabia, sentia no meu íntimo que havia qualquer coisa errada.
Eu sei que não sou vedeta e que a minha vidinha comum pouco interessa ao pessoal, mas uma pessoa habitua-se a ter 3 gostos que até estranha quando não tem nenhum!
Verifiquei, pela enésima vez a minha conta. Tudo normal. Tudo nos conformes.
Mas que mal teria eu feito para ser assim, ignorada? Será que a minha conta estava bloqueada e não me tinha apercebido?
Verifiquei a privacidade das publicações, uma a uma. E lá estava. O cerne da questão. O centro de toda a minha amargura faceboquiana: Publicações - Só tu.
Ok.
Para que raio quereria eu uma conta de facebook só para mim?! E como raio é que isto aconteceu?! Se não quisesse que ninguém visse e quisesse escrever somente para mim arranjava um diário e escondia-o! Olha qu'isto!
Vamos a saber: onde posso efectuar a minha reclamação e quiçá pedir indemnização por danos morais?
Por acaso, senhor-dono-do-facebook, sabe a quantidade de calorias e açúcares que contém uma taça de chocapic? Sabe que não se deve fazer isto a uma grávida, sujeitá-la assim a pressões deste género, deixa-la a pensar que ninguém no mundo quer saber da sua vidinha comum? Hmm? Estou muito chateada consigo!! Tão chateada, que sou bem capaz de fazer greve faceboquiana durante 5 horas. Não se meta com as minhas hormonas! Não é uma ameaça, é um aviso. Estamos entendidos?
Não meus amigos, não pensem que venho para aqui falar-vos de experiências transcendentais, sobrenaturais ou afins.
Nada disso.
Em boa verdade, há tanta coisa que transcende a minha compreensão, que penso seriamente criar uma rubrica com este nome!
Gostaram? Criar uma rubrica, num blogue com meia dúzia de meses... Isto é que pensar em grande! :-D
Bom, voltando ao tema: está para lá da minha compreensão, o dom da omnisciência que possuem algumas pessoas. Perdão, prodigios, raridades que há por aí, sem que ninguém nelas repare. É um ultraje, uma infâmia, que erradamente lhes chamemos "más-linguas".
A quantidade e qualidade de informação que passam, através dos vários dons, quais deuses da bisbilhotice alheia, é tal, que, por vezes, chegamos a duvidar da nossa própria vida!
Por exemplo, eu já fui posta fora de casa pelo homem, ao fim de duas semanas de casamento! Pior: bati desalmadamente à porta, furiosa por nem sequer me ter deixado trazer as malas e os sapatos, pondo a música em altos berros para não me ouvir, até que desisti e fui embora. (*) Só para verem o poder destes prodigios: eu não sabia que isto tinha acontecido. Nem o homem. Muito à frente, saberem de coisas que nem os próprios sabem! Quais videntes, quais feiticeiras, qual quê! Estas pessoas talentosas é que sabem! Aliás, nem sei como não se cobram por estes serviços, tão úteis à nossa sociedade! São umas benfeitoras! Já consigo imaginar os cartões de visita: "Albertina Miranda. Tudo o que sei, vejo da minha varanda." Ou "Antero Sobral. Tudo atinjo através do meu quintal". Bonito. Depois, se precisarem, aqui a Caracol trata-vos da redes sociais e conheço uma pessoa espetacular com muito jeito para os grafismos, se quiserem assim uma coisa gira e em grande. É só dizerem! Ou mandarem dizer, que também é usual.
* Cenário real: o homem, depois de 12 horas de trabalho, aterrou no sofá. Sabe-se lá porquê, naquele dia, fechou a porta por dentro, impossibilitanto qualquer entrada em casa. O som que saía de casa, eram os telefones a tocar, já que socorri de tudo que fizesse barulho. Ao fim de algum tempo, desisti e enviei-lhe sms a avisar que iria para casa dos sogros (onde era suposto irmos almoçar), quando acordasse, que fosse lá ter. Só isto. Bem vistas as coisas, a outra versão é bem mais engraçada. O que, assim de repente, me lembra outra vantagem deste dom: divertem-nos. :-)
O tema que anda nas bocas do mundo...Ou talvez só de Portugal.
Não frequentei a faculdade, sendo, portanto, nula a minha experiência nas humilhações praxes académicas.
Já na secundária, quando ponderava uma possível vida universitária, sempre achei que seria anti praxe. Só de me imaginar no meio de meia dúzia de animais pessoas aos berros a darem-me ordens estapafúrdias, era coisa para me pôr uma semana barricada em casa. Logo eu, com o meu ar de-não-faço-mal-a-uma-mosca, aliado à coroação de totó do ano, faço pequena ideia, seria como carne fresca no meio de hienas famintas.
Há muitos defensores das praxes, cada um com a sua teoria certeira de integração (onde?), acesso a apontamentos e regalias estudantis (mas não é suposto fazer isso nas aulas?), tradição, e tudo, e tudo, e tudo... Mas há coisas que não me entram na moleirinha.
Nem tudo na praxe é mau e a praxe, sobretudo a caloiros, não tem necessariamente de ser uma má experiência. Eu acredito nisso, mas daí a que isso exista em toda e qualquer faculdade ao virar da esquina, vai uma grande diferença! Em primeiro lidamos com humanos, logo o que será aceitável para alguns, para outros será uma vergonha. E se estes últimos abrirem a boca é bem provável que oiçam uma missa bem gritada cantada sobre a sua ausência de direitos. Por acaso, de tudo na praxe, aquilo que mais espécie me faz é mesmo isso: a dignidade. Ou a falta dela. E a arrogância de quem praxa.
Pronto, nesta altura estarão já a pensar em generalizações absurdas, feitas com base em meia dúzia de reportagens, que, só por acaso, não assisti. Não é nisso que me baseio.
Diz que há uma regra, parva que nem sei quem a assumiu como tal, que o praxado não pode olhar diretamente para quem o praxa. Se isto não é arrogância e perda de dignidade, para não falar em respeito e igualdade, então não sei o que é! O que é um fulano(a) mais que o outro? Ou tem mais que outro? Onde é que isso contribui para uma boa integração de pessoas novas, num sitio desconhecido? Claro que eu posso levar a praxe como uma brincadeira, onde faço meia dúzia de parvoíces, às vezes para integrar num determinado grupo, e até me divirto e passo um bom bocado. Mas e se eu, enquanto caloiro (nem sequer me refiro a outras praxes), não quiser "cumprir" determinada "ordem"? Como faço? Digo que não, e depois? E se eu sofrer algum tipo de represália?
Tem que existir uma hierarquia? Tudo muito certo, na secundária também havia: alunos, funcionários, professores e conselho diretivo. Ponto. Onde está a direção da faculdade, alguém que hierarquicamente esteja acima de todo e qualquer aluno, numa praxe? Talvez se estivesse, não haveriam tantos abusos.
Mais uma vez, e só para terminar, nem tudo na praxe é mau. Se calhar, se substituíssem aquilo que chamam de rituais de boas-vindas e integração, por outras atividades melhorariam bastante a qualidade das tradições. Claro que este assunto, agora nas bocas do mundo, vai morrer ali, ao pé da praia. ( E não, não pretendo fazer trocadilhos com o caso do Meco).
A verdade, é que nem sei muito bem como definir o meu estado, após a visualização de uma reportagem sobre VIH/SIDA. Não sou pessoa de ver telejornais, quando muito o da 2, mas fiquei em choque com o que vi. Então não é que o VIH está a aumentar na nossa geração?! Na nossa super (des) informada geração? Na geração que mais formação acadêmica tem? Que raio aconteceu?! Dizem eles, os médicos, que se perdeu o medo, que esta geração não viveu o apogeu da SIDA e não teme a infecção. E mais: Portugal está entre os países com maior índice de novos casos. Preocupante, não é? É certo que o tratamento desta doença evoluiu muito nos últimos 30 anos, sendo possível manter uma vida longa com o vírus controlado, mas não sem enfiar uma catrefada de retrovirais no bucho, todos os dias, para o resto da vida. Pessoal novo e destemido deste Portugal à beira mar plantado: a SIDA existe. A SIDA não morreu com o António Variações. Fica o aviso: forniquem à vontade, mas usem preservativo.