Há umas semanas, quando ouvi Osíris pela primeira vez, enquanto arrumava a cozinha, escrevi: "Ouvi a música mais votada para o festival da canção. Digam-me: ainda não é nada definitivo, pois não? Ainda vamos a tempo de mudar, não vamos? Vou só ali esperar com o ancinho no pé para esquecer. 🙄" Eu sei, nem parece meu que até "gosto de música esquisita". É o que dá escrever a opinião baseada em opiniões, depois de só ouvir uma vez e sem escutar efetivamente. Sabendo que isto das músicas diferentes é como as couves de bruxelas, só ao fim de algum tempo é que nos acostumamos ao sabor, dediquei o meu tempo a escutar Osíris. Não acho genial, não acho nada nunca antes visto - tirando o bailarino e o faqueiro como adereço, aí é originalissímo. Assim como assim, eu acho que se levasse uma tigela Bordalo Pinheiro no topo da cabeça sempre compunha o look de mesa posta. Não me agrada particularmente aquele timbre meio aciganado, mas reconheço-lhe o mérito das letras e da ousadia. A letra de "Adoro Bolos" está francamente bem pensada, por exemplo. Se vou passar a ouvir Osíris com o mesmo gosto com que ouço Sobral? Provavelmente não. Contudo, depois de ter ouvido outras composições dele, acho-o genuíno e audaz. Está-se a borrifar para os que, como eu, acham que parece uma mesa de domingo à espera que o assado saia do forno. Se ele gosta, está bem para ele. Ah, mas ele fala assim bué mal. O que é falar mal? A mim, choca-me mais alguém dizer "Há muito tempo atrás" do que uns bués e tipos a ligar frases. Além disso, provavelmente, faz parte da personagem. Ah, mas tu só estás a defendê-lo porque ganhou o festival da canção. Não sejam mauzinhos e dêem uma oportunidade à música do rapaz. Quem sabe não passam a gostar? Não me partam é o telemóvel, ok? 😜
Às vezes perguntam-me: 'Caracol, como consegues fazer exercício e ouvir a música? Eu não ouço nada e nem sequer me lembro do que ouvimos...' Não sei como isso de não ouvir nada é possível. Não sei mesmo. As músicas, regra geral, estão pejadas de ironia se as aplicarmos ao contexto do exercício físico. O sarcasmo grita de tal forma aos meus ouvidos que é impossível não ouvir. A ironia que berra é mais acutilante que as ordens de quem lidera a aula. É impossível não ouvir. Ou então é apenas um mecanismo de defesa para quando me apetece desertar e sair, arranjar forma de o fazer sem ser literal. (Momento #NãoTejasMedo) Foi impossível hoje e mais uma vez, não me aperceber do encaixe perfeito desta música a quem lidera a aula. É tão perfeito como os encaixes das sapatilhas nos pedais. É tão literal que juro que apertei mais um bocadinho a carga sem me mandarem. E passei a música toda a evitar contacto visual e a manter os joelhos afastados do botão de carga, não fosse algum bater-lhe "por acidente". Há pessoas que encarnam músicas e que lhes dão vida, depois há as músicas que encarnam pessoas e como que as vestem, do princípio ao fim. E esta, minha boa gente, veste todo e qualquer professor de fitness e PT's. Quem discordar, merece uma faixa disto só para fazer burpees intercalados com moutain claimbers.
Gosto muito, mas assim mesmo muito, desta música. É gira, é fofinha, é rómanticaaaaaa, enfim é uma música de gaja e para gaja, que fica no ouvido e é fácil gostar-se dela.
Só que esta melodia abre-me o apetite. É uma espécie de reflexo de Pavlov, mal a oiço salivo e todo o meu cérebro torna-se uma frigideira gigante onde estão os mais crocantes, saborosos e calóricos nuggets.
Eu sei que o defeito é meu, alguma avaria ali no departamento auditivo, mas eu juro que no refrão ouço nugget, o que é estranho porque não tem nada a ver com a música.
Passei a hora de almoço nas lides domésticas, cantarolando "I won't leave you nugget, nugget, oh nooooo" e temo passar a tarde nisto.
Amanhã é dia de regresso ao trabalho, depois de 17 dias em casa com o miúdo.
E porque acho que tudo corre melhor se acompanharmos com boa música, deixo-vos hoje com Rodrigo Leão e Stuart Staples Tindersticks. Que voz, meu deus! Que voz!
Enrosquem-se numa manta, encostem-se no ombro do vosso amor, fechem os olhos e deixem-se levar.
O canal Panda teve a brilhante de convidar a Luísa Sobral para o seu Bairro.
Fiquei muito feliz quando, no hábito de ouvir os Amigos, a Xana ou os Caricas, escutei a sua vozinha. Até julguei estar a alucinar, ou que a televisão tivesse vida própria e sintonizasse num outro canal. Mas não, quando vi, lá estava ela, a Luisinha, com a sua viola e vozinha suave e tão aprazível aos meus tímpanos.
Ainda só ouvi duas, esta que aqui vos deixo e uma outra dos Pês que, querida Luísa-que-gosto-tanto-de-ti, não se apanha uma palavrita, a não ser pizza e pão. O resto, nicles.
Fica aqui o João, no vídeo original, que é mais bonito que o do Bairro.