Escrever para não esquecer
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É como, com três anos, o Caracolinho diz Tupperware, Ginásio (será que ele acha que é para dormir?), Cusco (o nome de um dos nossos canitos) e iogurte.
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É como, com três anos, o Caracolinho diz Tupperware, Ginásio (será que ele acha que é para dormir?), Cusco (o nome de um dos nossos canitos) e iogurte.
Semana passada decidi dar um jeito ao jardim, plantar uns bolbos e coisa e tal. Ora, se há coisa que apregoo com regularidade é que "mexer na terra é saudável aos miúdos".
A meio da jardinagem, estou eu a tapar uns bolbos de tulipas com a mão, ajeitando bem a terra por cima para que fiquem aconchegados, quando dou com o Caracolinho a fazer o mesmo, mas num sítio diferente, onde já estava tudo plantado e arranjado.
Digo-lhe eu:
- Não mexas aí filho. Vai andar de triciclo enquanto eu acabo, vai.
Resposta:
- Porquê mamã? É saudável...
E é rico filho, desde que não estragues o que já está feito.
Ou melhor, sabe, mas apenas em algumas situações que já explico.
Caracolinho tem quase três anos. Fala pelos cotovelos, trepa, corre e salta. Atrapalha-se a contar até 5 e ainda confunde as cores, bem como a distinção entre o maior e menor - o relatório de avaliação que recebi no final de junho, diz que o miúdo tem dificuldades na matemática.
Para começo de conversa: para que raio precisa um chavalo de dois anos e meio, na altura, de perceber matemática? Para que raio quero eu um relatório de avaliação pedagógica semestral? E porque raio está o mundo, a sociedade e o ensino tão preocupados com isso?
À minha volta, vejo pais a quererem que os filhos saibam inglês desde cedo. Que contem até 1500 desde os 10 meses. Que sejam mais, melhores. Do que quem? Do que os próprios pais? Do que o vizinho do lado? Juro que não entendo esta obsessão pelos resultados, pelas metas curriculares impostas desde cedo.
Como disse, o meu filho não sabe, ainda, identificar todas as cores. Nem em português, nem em inglês, nem em jugoslavo.
Sabe, por exemplo, colher morangos, sabendo que só deve colher os vermelhos. Aproveitamos para contar os que trás na mão, mas se encrava no 3, não faço grande drama. Sabe que, na cerca dos animais, há dois gansos brancos, um coelho cinzento, uma cabra branca e uma cabra bebé, cinzenta também. Sabe que o Berlinde é castanho e que o Cusco é preto como a noite. É capaz descer as escadas, sem ajuda, e abre o portão sozinho, todas as manhãs (não, não tenho portão elétrico é tudo manual). Sabe que as ervas à volta das flores não devem lá estar, embora às vezes se engane e lhes arranque uma folha. Ou duas. Sabe bater ovos com a vara de arames e adora cortar massa para bolachas. Diz-vos de cor que "o papá é chato, a mamã é linda, o Mário é espectacular, a tia Sara é gorda e Cláudia vai levar tau-tau", lengalenga ensinada por senhora sua mãe, obviamente.
Não, não quero fale inglês, não quero que saiba contar até 20 e pouco me importa que não identifique ainda as cores.
Quero que corra, que brinque, que pule, que descubra e que explore. Quero que cresça feliz e não a achar que tem que saber tudo. tem muito tempo para aprender matemática e para desenvolver o gosto por línguas. Não agora e não aos dois anos e uns trocos.
- Mamã! Có-có.
- Doidas, doidas andam as galinhas
Para pôr o ovo lá no bura....
- Mamã! Cá-cá!
- A roda do autocarro roda, roda, roda, roda
A roda do autocarro roda, roda
Pela cidade.
Os limp....
-Mãmã! O úúúa du Júá.
- O balão do João, sobre sobe pelo ar
Está feliz o petiz, a canta....
- Mãmã! Mamã! Có-có!
Acho que está na altura de colocar as músicas a rolar no carro!
Estava ótima, a batata doce dá-lhe um gostinho muito bom.
Mas os dentes continuaram cerrados, os punhos fechados, a teimosia no auge.
O pai tentou que jantasse mais cedo (normalmente, come por volta das 20h), não conseguiu.
Eu tentei mais tarde, por volta das 20:15, comeu duas colheres.
Fomos limpar o pó, tratar de outras tarefas, quando calhava ir à cozinha apontava para o armário das bolachas, apresentava-se-lhe novamente o prato da sopa. Pés a bater, guinchos de frustração e vamos fazer outra coisa, não queres sopa, não há mais nada.
Andamos nisto até às 21:30, hora em que já não via nada à frente tal era a moca de sono. Acabamos por lhe dar sopa, enganando-o com um iogurte. O pai tinha iogurte numa colher, ele abria a boca, eu enfiava a sopa. Foram 3 minutos. Depois comeu o iogurte, todo satisfeito da vida.
Logo, espera-o uma deliciosa farinha de pau.
A mim? Nasceram-me, pelo menos, 10 cabelos brancos. Só esta noite.
O homem? Saiu-se com esta quando ele adormeceu:´"Era mais fácil quando ele era pequenino."
Olá, o meu nome é Caracol e sou uma mãe (im)perfeita de um menino, há 15 meses.
Há dias que não sei que lhe fazer.
De há quatro dias para cá, tem sido pior: o miúdo não come a sopa.
Julgo ser do nabo ou do tomate, mas já a confecionei da mesma forma e foi engolida com satisfação.
Julgo ser dentinhos novos a moer nas gengivas.
Julgo ser sono.
Fome a mais ou falta dela.
Talvez não lhe apeteça.
A nós nem sempre apetece o que nos servem, não é verdade?
Outras vezes, tenho a certeza que é para me enervar. Que faz de propósito. Que é um pequeno monstrinho com vontade de própria. Nesses dias, só me apetece abrir-lhe a goela e enfiar-lhe o creme de legumes por lá abaixo.
Nestes dias, consegui que comesse praticamente tudo o que tirara para o prato, sempre acompanhada da Xana Toc Toc ou dos Caricas. Ontem, recusou-se terminantemente a abrir a boca. Mesmo entretido. Dentes cerrados e mãozinhas a afastar a colher, num gesto assertivo de recusa. Tentei, insisti, entretive, voltei a insistir. Ralhei. Expliquei. Bufei.
A cada colher devolvida, via nutrientes perdidos, défices de verduras, falta de proteínas, carências nutricionais, perda de peso... O drama, o horror. E voltava a insistir, que não podia ser, que tinha que ingerir legumes, que tinha que jantar. E ele que não, que não queria, ou não lhe apetecia.
O homem foi comprar um boião, que não se podia deitar a criança sem jantar. Foi recusado.
Acabei por lhe dar um copo de leite. Apenas metade foi sorvido.
Eu tento manter a calma, eu tento relaxar e dizer que é normal, que é uma fase. O meu lado (im)perfeito não deixa. Abano a cabeça em negação, que não pode ser, o miúdo tem quinze meses, não faz já o que quer. Rais me parta se não o faço comer sopa. E volto a ver défices nutricionais e atestados de incapacidade parental.
Estabelecemos um plano, uma jogada estratégica para combater a recusa sopal: batata doce. Caso não resulte: farinha de pau. Em último recurso: legumes cozidos em pedaços.
E paciência. Carradas de paciência. Algo que as mães (im)perfeitas costumam perder com facilidade.
Dizei-me mães perfeitas, que mais haverei de fazer?
Descobrir novos métodos de arrumação
O Mário é um miúdo que gosta de tudo arrumado. Quanto mais direitinhos, aprumados e alinhados estiverem os brinquedos, com mais vontade ele os desarruma, espalha e vira do avesso. Vê-se que aquilo lhe vem lá do fundo da alma, aquele contentamento com guinchinhos de alegria de quem vai dar o seu toque pessoal à coisa.
Arrumar e limpar com Caracolinho por perto é de bradar aos céus.
Eram 8 da matina e decidi limpar a casa. Ok, está chuva, detesto limpar com chuva, mas paciência, já fica arrumado. Olho para o relógio e penso: "Isto até às 11 está aviado! Vamo'bora!"
Está bem abelha!
Limpar o pó com o Mário significa estar com 30 olhos no pano, 60 no limpa móveis e 90 no Mário.
Também significa: gavetas abertas, fraldas espalhadas, avaliação de calçado, e outros que tais.
Deixar o chão livre para aspirar tem como sinónimo: retirar tudo do chão, ir buscar o aspirador, apanhar do tudo chão, ligar o aparelho, apanhar mais coisas do chão, começar a tarefa, apanhar mais coisas do chão e assim sucessivamente, porque o miúdo não tempo de brincar e precisa mesmo daqueles copos que estão em cima do sofá, ou dos legos que estão em cima da mesa.
Canalha!
Limpar o chão não é tarefa particularmente fácil. O balde tem que estar na varanda, por motivos que me parecem óbvios, mas assim que vê a esfregona há qualquer coisa que se aciona dentro daquela cabecinha. Uma espécie de efeito Pavlov, vê a esfregona e todo ele rejubila de contentamento. Há lá coisa mais fixe que mexer numa cena cheia de filamentos molhados? Felizmente, hoje descobri que também acha graça a ser ele a passar o chão. O que também implicou ficar com algumas áreas que nem a esfregona viram e outras que foram limpas com um brio exemplar. Claro que ficou a gritar e espernear sempre que juntava a esfregona ao balde, mas era só até se lembrar do aspirador, a coisa passava quase logo.
Gosto de limpar a cozinha em último lugar e achei que seria a divisão mais fácil, mas não. E porquê? Porque Caracolinho sabe onde estão os tupperwares e a mercearia. É pacífico, não me importo que veja de que aquilo é feito, mas não quando estou a tentar pôr ordem no barraco.
Apanhando-me distraída, infringiu a regra de "só nessa porta" e descobriu a gaveta das especiarias, que explorou com afinco, espelhando TODO o alho moído pelo chão. Como tinha pão na mão vá de experimentar pão com alho. Não fez má cara, acho que deve ter gostado. Claro que só dei conta uns segundos depois e senti-me como num filme, movida em câmara lenta gritando um "Nããããããããããoooooooo!" e com ele a meter aquilo todo pela boca dentro antes que lhe tirasse tudo.
E limpar o alho? E eliminar o cheiro?
Já passei três vezes o chão da cozinha e ainda sinto o aroma. Talvez vá buscar a lixivia mais logo.
De modos que, são quase 5 da tarde e terminei há pouco as tarefas que teria terminado às 11 se não tivesse o Marocas cá em casa. Mas, sem dúvida, não seria tão divertido.