Quando o mundo acorda mais pobre
Sempre que morre alguém, o mundo fica mais pobre. Pode não afectar o nosso directamente, podemos nem chegar a saber de tal acontecimento, podemos nunca ouvir falar do defunto, mas o mundo de alguém, de quem lhe era próximo, intimo de alguma forma, é terrivelmente abanado, destruído e, por vezes, sem hipótese de reconstrução.
Quando morre uma criança todo o Mundo empobrece. Todos perdemos sem sequer saber que estávamos a lutar ou qual o seu objectivo.
Ontem, o Mundo ficou mais pobre: a Leonor já não existe.
Era impossível ficar indiferente à sua história, não compartilhar a sua esperança, não aceitar o seu sorriso, não torcer por ela com todas as forças, não rezar pelo milagre que não aconteceu. Não consigo sequer imaginar a dor daqueles pais. Eu, que tenho um bebé a viver pacatamente no útero, só quero abraçar a barriga, fechar-lhe todas as saídas, mantendo-o lá dentro, onde vive sem ainda saber o que isso é, onde tem tudo e nada lhe falta, onde ainda não sabe o que é a dor, a doença e a morte. Quero-o lá dentro, na minha redoma, protegido. Desejo isso mesmo sabendo que tal não possível, e espero, fervorosamente, estar à altura de o proteger, sendo-lhe sincera, em tudo.
Quanto a ti, pequena Leonor, muito obrigada. Obrigada por teres ensinado, do alto dos teus pequenos 5 anos, que a verdadeira felicidade está nas coisas simples e pequenas, que a vida deve e pode ser vivida alegremente, sem dramatismos e sorrindo quando alguma lágrima teima em escorregar. É fácil viver, difícil é fazê-lo como tu escolheste e tão bem fizeste. Obrigada pequenina, por teres sido tão grande.
Se ainda não conhecem a Leonor, podem fazê-lo por aqui.