Atletas Anónimos - Pedro
Há já muito tempo que não convidava ninguém para duas de letras, não é verdade? Para hoje, convenci o Pedro a conversar um bocadinho sobre desporto e exercício - e sabe deus o quão caro vou pagar por isto.
Não se iludam pelo aspecto juvenil e inofensivo: em menos de três segundos desfaz-vos os pulmões e deixa o vosso sistema músculo-esquelético reduzido a cinzas, sem dó nem piedade.
Viu mais Festivais da Eurovisão do que os anos que tem de vida e se lhe perguntarem quem foi o vencedor em 1992 é menino para acertar sem hesitar, mas não sem antes vos "pedir" gentilmente cinco séries de bíceps à coelhinho.
Ora prestem lá atenção ao que o rapaz tem para dizer:
Pedro, jovem, larga aí os halteres de 27.5kg e senta-te aqui um bocadinho. Vou ser breve e indolor, prometo.
Comecemos pelo princípio: há quanto tempo te dedicas ao desporto?
O desporto apareceu desde cedo na minha vida, comecei por observar vários jogos de futebol quando ainda mal sabia caminhar e o resto fez parte do meu crescimento: comecei no andebol aos 8 anos, mas foi o bichinho do futebol que me levou do pavilhão para o relvado! Foram 14 anos que terminaram agora.
Quanto ao resto do desporto: entrei no 10º ano já com a ideia de entrar em desporto na universidade. Relativamente ao ginásio/fitness: sou apaixonado pelo culto do corpo, pela capacidade de superação constante, pela transcendência.
Dedico-me de corpo e alma ao desporto desde os 8 anos de idade.
E quando decidiste que querias fazer disto vida?
Acho que o que mais me influenciou na escolha foram os bons exemplos dos meus professores de Educação Fisíca: a postura, a alegria no trabalho, as roupas bonitas do fitness, os carros desportivos, os corpos trabalhados, tudo isso fez me querer ser igual a eles!
Agora quero tornar-me a Cátia*, na versão masculina.
(Provalmente só a malta do ginásio vai perceber esta referência. Quem vai lendo regularmente, também. ;) )
ME-DO! No entanto - e dada minha vasta experiência em matéria de coças e tareias fit's - posso afiançar-te: estás no bom caminho. ;)
No nosso lado, o dos alunos, é quase tudo difícil e inatingível levando-nos a ficar facilmente frustrados por não conseguirmos concretizar um exercício ou atingir um objectivo. De que forma tentas lidar com essa frustração?
Antes de isso acontecer, tento antecipar e evitar esse estado: tento arranjar exercícios que os alunos possam e consigam realizar, porque considero que os objectivos de cada aluno devem ser pensados e idealizados para no fim serem alcançados. Quando tal não acontece, tento adaptar os exercícios para os alunos conseguirem fazer. Acho também que a capacidade de comunicar e tentar explicar o porquê de certos "fracassos" ajudam as pessoas a lidar melhor com a "derrota".
Já falei sobre o antes e o depois do exercício, contudo também durante o exercício penso que os estímulos que emito são muito importantes: o elogio, as pequenas correcções, o olhar, a sinalética do "fixe", o falar mais alto, tudo isso contribuí para que o aluno dê o seu melhor.
A melhor maneira de lidar com a frustração é desvalorizá-la, já que será sempre momentânea, valorizando com reforço positivo os eixos, para que desta forma os alunos começaram a olhar para a frustração como momentos de aprendizagem.
Por vezes ensinar alguém a praticar exercício pode ser verdadeiramente frustrante (digo eu que há dois anos que tento e ainda não aprendi praticamente nada) não só para o aluno, como já referi, mas também para o professor, certo? O que mais te irrita durante um treino, no aluno?
O que mais me irrita no treino curiosamente, não é o facto de as pessoas não conseguirem fazer os exercícios, pois considero que não são obrigadas a saber fazer bem. O que mais me irrita é o uso da expressão "eu não consigo fazer"/"não vou fazer", antes sequer de ter experimentado! Este problema advém do pensamento e do modo de pensar a vida, que para mim diverge daquilo que adopto: pensamento forte, indestrutível, que sou capaz, que consigo e que luto para atingir o céu!
Culpada! Ups. Sorry.
Imagina lá agora que o fitness é um gelado. Qual é o teu sabor favorito?
Pergunta difícil...
Acho que estou numa crise existencial de meia idade.
Contudo, acho que o meu "gelado" favorito é a musculação! Sou apaixonado por aquilo... Adoro ajudar as pessoas a atingirem os seus objectivos, ajudar em pequenas coisas, pequenas correcções.
As aulas de grupo completam-me e são o momento de libertação total, estou ali focado só naquilo e tento transmitir os meus sentimentos para os alunos, fazê-los sentir a minha energia!
Se pudesse fazer o meu "gelado favorito" seria: base de "sabor" a musculação com umas pepitas de cada outro "sabor". É para isso que luto todos os dias!
Ter 24 anos e liderar aulas com malta de várias idades não deve ser pêra doce. Qual foi, para ti que és ainda jovem e mais ainda nesta área, o maior desafio profissional?
Nas aulas de grupo e na sala de musculação o modo como lidas com as diferentes faixas etárias é fundamental para conseguir abranger, de forma completa, as necessidades de todas elas. Mais "brincadeira" com os mais novos, mais "seriedade" com os adultos jovens e mais "educação" com "fofura/respeito" com os mais idosos. Acho que com este equilíbrio tudo se consegue, independentemente da idade cronológica, já que tenho como lema: "a idade é apenas um número".
O maior desafio que já senti - e espero sentir até ao fim - é transmitir a minha evolução e o meu trabalho bem feito aos alunos. O meu objectivo é mostrar o meu trabalho e esperar que eles o apreciem, desfrutem e idolatrem. Quero ter um crescimento constante ao longo da minha carreira.
Oh, isso percebeu-se no zumba... Não é qualquer professor que se dispõe a aprender e mais: a fazer coisas que gosta menos perante os alunos.
Falaste atrás sobre o futebol, revelando uma grande paixão pela modalidade. Queres falar-nos um bocadinho sobre a tua época aurea no futebol?
Eu adoro desafios, não nego nenhum! E… Até gostei do zumba.
A minha época áurea no futebol aconteceu com 16/17 anos, altura em que levava o futebol muito a sério e era o meu único foco. Treinava como um animal: deitava-me cedo antes de treinos e jogos, alimentava-me decentemente e tentava ser o mais profissional possível. Jogava no clube da minha terra, SC "Os Dragões Sandinenses, era capitão de equipa e tinha muitas responsabilidades dentro do grupo de trabalho.
A nível colectivo ficamos num honroso 3º lugar e a nível individual marquei 46 golos ao longo da época (a minha posição era avançado, sendo esta a minha melhor marca). Após essa excelente época fui convidado para jogar no Salgueiros, onde fui campeão, sendo este o melhor ano a nível colectivo, pois nunca tinha conseguido conquistar nada. Após esse ano, aconteceu a subida a sénior e regressei ao meu clube base, onde passei 5 excelentes anos que terminaram agora. Nestes 5 anos percebi que acontecem muitas coisas no futebol que não são desporto, que não basta treinares bem e jogares bem - existem muitos factores externos, muitos interesses pessoais que mancham o desporto. Por isso, o meu interesse e foco no desporto de competição, nomeadamente o Futebol, foi-se desvanecendo.
Chiça! Caramba, 46 golos é espectacular! Digo eu que em a minha vida só marquei um e foi autogolo.
Esses 46 golos ainda são recorde no clube!
Apesar de teres começado a trabalha há pouco tempo, e de estares praticamente em inicio de carreira há alguma situação que te tenha marcado?
Aspecto positivo? Marcou-me ter tido uma aula de circuito às 20h30 em que os alunos não puderam tirar mais senhas porque atingi o limite estabelecido.
Uau! E aposto que pederiam por mais. ;)
Por fim, gostaria que definisses o teu trabalho, a tua paixão pelo desporto, numa só palavra.
A palavra que mais resume a minha paixão e o meu trabalho talvez seja dedicação - primeiro porque adoro o que faço e segundo porque quero ser melhor a cada dia que passa. Não tenho limites e só com dedicação constante ao que faço posso transcender-me.
Obriagada jovem Pedro! Foi um gosto ter-te por cá e continuo a achar que deverias considerar seriamente abrir um blogue. ;)
Vai andando, vai andando que eu já vou lá ter. Sê gentil, por favor.