Diário de uma preguiçosa aspirante a fit #15
Esqueçam tudo o que sabem sobre as teorias de fim do mundo. Esqueçam os Maias, a religião, a ciência que diz que será o sol a explodir e a trazer o Apocalipse. Esqueçam as teorias da conspiração sobre o ambiente, o buraco do ozono, o aquecimento global. O fim do mundo não virá assim, virá sobre a forma de barras de ferro e discos de peso.
Tive essa visão, clara como a água, durante uma aula de power (ou body pump, para quem quiser pesquisar sobre o assunto). E escusam de vir já atirar que estou a exagerar, que estou a dramatizar e rebéubéu pardais ao ninho, aquilo são as profecias apocalípticas reconstruidas para um mundo fit. Não acreditam? Eu provo-vos, seus descrentes:
I) O aquecimento
Ninguém suspeita o que vem atrás daquilo. Dão-nos uma barra enganadora, qual lobo com pele de cordeiro, ficamos ali a suspeitar que se calhar se enganaram, que até podíamos com mais um bocadinho, mas ficamos de biquinho calado, respeitando em silêncio a mãe dos pecados, a preguiça.
Onde está o fim do mundo nisto? Em 1970, ninguém acreditava em malefícios aerossóis e dióxidos de carbono, pois não? Então pronto, não discutamos factos óbvios.
II) Carga Máxima
Sabem aquele ditado, com base religiosa, que diz que só temos a carga que podemos suportar? O power não é assim. O power é um bicho cheio de dor (pudera!), da crónica, que só obtém alivio com pastilhas no bucho. E está nem aí para a vossa capacidade física de aguentar com os benurons (2,5 kg) brufens (3.5 kg) e aulins (5 kg) desta vida. Não subestimem os números: 13 kg no costedo e vêem mais estrelas do que se tivessem consumido cogumelos dos bons.
Fim do mundo nisto? A indústria farmacêutica vai fumegar quando perceber que tem concorrência de peso. Depois digam-me que não tenho razão, quando o preço do ibuprufeno disparar em flecha.
III) DE-VA-GAR
Não pensem que já acabou, não senhor, chegamos agora à melhor parte! Os slows. E escusam de divagar, porque quem comanda a dança é a barra e com pulso de ferro! Quem diz que a mente comanda comanda o corpo, claramente nunca teve 7 kg nos bracinhos para içar de-va-ga-ri-nho. Saudades dos burpees naquele momento, que o Senhor lhes dê muita saudinha. Aliás, houvesse uma seita de saltos e saltinhos e tinham ali uma ovelha seguidora para todo o sempre. Mil avés aos trampolins desta vida.
Onde está o apocalipse? Experimentem lá perder a força nos cotovelos durante uns peitorais de-mo-ra-dos e depois venham falar comigo.
Ainda não estão convencidos? Ainda acham que isto é capaz de ser divertido? Uma palavrinha para vocês: tremores. Não são de terra, mas se fossem rebentavam com a escala de Richter de certezinha. A meio desta beleza cinzenta e preta, já não somos 70% de água, somos 80% de gelatina. E da boa, a julgar pelo frenesim de treme-treme muscular. Tenho para mim que o nome Power, vem precisamente daqui, dos tremeliques, porque aquilo dura e dura e dura e dura.... Um par de horas depois da aula, ainda sentia os presuntos a pulsar! Não sei como aguentei a tarde toda de trabalho e chicoteei-me várias vezes por não ter usado o voltaren como gel de duche. (Fica a dica, não precisam de agradecer.)
Posto isto, poderia ter ganho algum juízo, que já tenho idade, mas não, inscrevi-me para uma maratona de cycle. Duas horas, numa bicla estática. Cheira-me que vamos subir o Evareste e com um jeitinho ainda vamos aos Pirenéus ver a vista. Se sobreviver, conto a história. Se não... Olhem, gostei muito deste bocadinho!...