Eu praxo, tu praxas, ele praxa, nós somos parvos
O tema que anda nas bocas do mundo...Ou talvez só de Portugal.
Não frequentei a faculdade, sendo, portanto, nula a minha experiência nas humilhações praxes académicas.
Já na secundária, quando ponderava uma possível vida universitária, sempre achei que seria anti praxe. Só de me imaginar no meio de meia dúzia de animais pessoas aos berros a darem-me ordens estapafúrdias, era coisa para me pôr uma semana barricada em casa. Logo eu, com o meu ar de-não-faço-mal-a-uma-mosca, aliado à coroação de totó do ano, faço pequena ideia, seria como carne fresca no meio de hienas famintas.
Há muitos defensores das praxes, cada um com a sua teoria certeira de integração (onde?), acesso a apontamentos e regalias estudantis (mas não é suposto fazer isso nas aulas?), tradição, e tudo, e tudo, e tudo... Mas há coisas que não me entram na moleirinha.
Nem tudo na praxe é mau e a praxe, sobretudo a caloiros, não tem necessariamente de ser uma má experiência. Eu acredito nisso, mas daí a que isso exista em toda e qualquer faculdade ao virar da esquina, vai uma grande diferença! Em primeiro lidamos com humanos, logo o que será aceitável para alguns, para outros será uma vergonha. E se estes últimos abrirem a boca é bem provável que oiçam uma missa bem gritada cantada sobre a sua ausência de direitos. Por acaso, de tudo na praxe, aquilo que mais espécie me faz é mesmo isso: a dignidade. Ou a falta dela. E a arrogância de quem praxa.
Pronto, nesta altura estarão já a pensar em generalizações absurdas, feitas com base em meia dúzia de reportagens, que, só por acaso, não assisti. Não é nisso que me baseio.
Diz que há uma regra, parva que nem sei quem a assumiu como tal, que o praxado não pode olhar diretamente para quem o praxa. Se isto não é arrogância e perda de dignidade, para não falar em respeito e igualdade, então não sei o que é! O que é um fulano(a) mais que o outro? Ou tem mais que outro? Onde é que isso contribui para uma boa integração de pessoas novas, num sitio desconhecido? Claro que eu posso levar a praxe como uma brincadeira, onde faço meia dúzia de parvoíces, às vezes para integrar num determinado grupo, e até me divirto e passo um bom bocado. Mas e se eu, enquanto caloiro (nem sequer me refiro a outras praxes), não quiser "cumprir" determinada "ordem"? Como faço? Digo que não, e depois? E se eu sofrer algum tipo de represália?
Tem que existir uma hierarquia? Tudo muito certo, na secundária também havia: alunos, funcionários, professores e conselho diretivo. Ponto. Onde está a direção da faculdade, alguém que hierarquicamente esteja acima de todo e qualquer aluno, numa praxe? Talvez se estivesse, não haveriam tantos abusos.
Mais uma vez, e só para terminar, nem tudo na praxe é mau. Se calhar, se substituíssem aquilo que chamam de rituais de boas-vindas e integração, por outras atividades melhorariam bastante a qualidade das tradições. Claro que este assunto, agora nas bocas do mundo, vai morrer ali, ao pé da praia. ( E não, não pretendo fazer trocadilhos com o caso do Meco).