Então Caracoleta, já há tanto tempo que andas no ginásio, conta-nos lá o que já consegues fazer?
Já pegas em 300 kg? Fazes 50 flexões completas? Então e resultados, hã?
Adorava falar sobre isso, mas agora não me apetece. Não faço flexões completas - aquilo custa como o diabo! - nem pego em 300kg, mas danço com o meu filho ao colo: 17kg a rodopiar pela sala seguros por estes bracinhos.
No entanto, descobri recentemente (ontem) uma proeza que alguns terão alguma dificuldade em executar: o encravanço de molas nas barras. Não é fácil (eu que o diga que a sacana da mola deu luta e a barra acabou encostada às boxes até ao final da aula, porque aquilo nem para a frente, nem para trás), mas é possível. Como? Simples, simples:
1) Ser a última a chegar e ter logo ordem para montar a barrita
2) Tentar fazê-lo rápido e bem - duas aptidões que nunca andam juntas
3) A primeira mola estar solta e ter de trocar
4) Não reparar no "detalhe" do número de anéis da nova mola (não façam essa cara, eu também não sabia deste detalhe. Sempre a aprender.)
5) A aula começar e quem lidera aplicar uma certa pressão psicológica enquanto lutamos com o material: empurra daqui, mexe dali, puxa dacolá até a p#$@ da mola colar a meio do destino final e morre ali.
O que fazer numa situação destas? Esquecer a barra moribunda, afagando-a suavemente e garantindo-lhe que o problema não é dela, amaldiçoar as molas, recomeçar num outro local e rezar para que corra tudo bem. Por acaso, só por acaso, correu.
E por aí quais as vossas proezas fit? Contem tudo, não escondam nada.
Ontem, atrasadissíma como costume, um pneu do meu carro decide falecer a meio do trajecto.
A chover a potes, com uma criança de 3 anos no carro e com a minha excelente capacidade física... É tudo o que uma pessoa pode querer para começar bem o dia.
Apesar de já desconfiar da minha força para desapertar os parafusos da roda e da capacidade de colocar o macaco no sítio certo sem fazer mossa na carroçaria, lá sai do conforto do banco para “tentar”. E por tentar devemos depreender:
Retirar a tralha toda da mala para aceder ao material
Fazer jogos estranhos de kamasutra entre o macaco e o chassi onde nenhum deles encontrava o ponto certo
Desapertar os parafusos da roda ainda com o pneu no chão (lembrava-me de ser assim) e depois logo se via o que fazer ao relacionamento macaco-chassi.
Ora eu forcei a chave, apliquei toda a minha força (ou talvez não), mas os sacanas dos parafusos não mexeram. Ao fim da primeira tentativa, entro no carro decidida a pedir ajuda externa, ligando para a assistência em viagem imaginando que seria enviada para o real bilhar grande por parte da seguradora, pelo que dramatizei ligeiramente a parte do tentar desapertar os parafusos e omiti a parte de não saber posicionar correctamente o macaco.
- Pois com certeza menina, vamos enviar um técnico.
Eh lá, que se eu sabia nem sequer tinha tentado. E a assistência em viagem agora cobre isto? A evolução é uma coisa espectacular, de facto.
Três minutos depois recebo uma sms a indicar a hora prevista de chegada ao local – cerca de 45 minutos – logo seguida de uma chamada do técnico para saber a minha localização.
- Pois, isso da localização… Eu até faço este percurso todos os dias, mas não faço ideia no nome da rua, mas tentar ser precisa. Olhe, isto é quem vai de Nenhures para Algures, mas por dentro, está ver? Aquela rua que sobe muito, tem pinhal dos dois lados e cruza por cima da auto-estrada.
Bué precisa. Do outro lado e após meio segundo de hesitação:
- Ah, não estou mesmo a ver…. Mas olhe, por acaso não está a utilizar um smartphone com dados móveis, pois não?
Tau! Assim a frio, sem dó nem piedade.
Claro que não, senhor. Lá agora eu ter dessas modernices. Eu nem sequer ainda fiz um post no facebook nem entretive o miúdo com vídeos no youtube para o manter quieto na cadeira - sem sucesso.
- Dois minutos e eu já lhe ligo de volta.
Claro que enquanto acedia ao Google Maps, Caracolinho achou giro esvaziar todo o conteúdo do porta-luvas, mas pelo menos já não esperneava na cadeira implorando para vir para a frente.
A meia hora seguinte foi passada entre “não mexas aí!” e “sim, podes fazer pi-pi mais um bocadinho” – acho que a buzina do carro nunca funcionou tanto como ontem. Quando descobriu que pálas da frente eram quitadas de um espelho com luz, foi toda uma excitação:
- Olha mamã! – apontando para o dito – é o tablet do Ryder! Vou pedir ajuda à Patrulha Pata!
O faz de conta durou até chegar o técnico. Num reboque e-nor-me.
- UAU! Qu fixe, mamã! Nós vamos ali?
- Espero bem que não, rico filho. O senhor só deve trocar o pneu e por-nos a andar.
Ordem para voltar para a cadeirinha, reclamação e quase birra por não querer voltar, promessa de que poderia ver o senhor a trabalhar e a mamã pelo vidro do carro. Resultou e pude passar o tempo que durou o serviço (15 minutos) a segurar no guarda-chuva para minimizar a molha do técnico. Caracolinho não desgrudou do vidro e meia volta lá ouvíamos um “UAU!” fascinado pela aventura matinal.
A meio da conversa, descubro que afinal não foi pelo meu discurso melodramático que enviaram ajuda, mas sim porque a minha apólice abrange assistência a pneus. Não é espectacular? Eu nem sequer sabia que isto existia, mas dá um jeito do caraças! Lá agora apanhar chuva e frio e vento, sujeitar-me a danificar a pintura da viatura com material esquisito e deslocar falanges a tentar rodar chaves de rodas… Muito melhor – e mais eficaz – chamar quem realmente percebe do assunto.
O pneu, pobrezinho, faleceu de vez, apesar das várias tentativas de reanimação da oficina. Não se pode ter tudo, não é verdade?
Não há volta, passo a vida a queixar-me que dói, que não quero mais, que não preciso de mais carga, que não quero e blá, blá, blá whyskas saquetas. Só que de vez em quando o meu tico e teco entram em curto circuito, pára-me o relógio e dá-me para as loucuras.
Ora, ontem, atrasada como sempre, vá de montar rapidamente a barrita (aula de power/bodypump) com a carga que a minha mariquice julgou correta. Ao pegar na barra detectei imediatamente duas coisas:
1) Parecia demasiado leve (era quem me batesse...)
2) Estava demasiado à frente na sala e demasiado próximo de quem vê TUDO.
Num momento absolutamente insano, caiu em mim uma espécie de consciência fit levada a extremo e pensei: "é melhor pôr mais uma rodela, antes que me perguntem que peso é este", coisa que fiz no mesmo minuto, com o aval de quem comanda.
Não percebi, confesso, porque metade da turma se riu naquele instante. Aquela era, na minha cabeça, a carga habitual para aquele exercício (bíceps) e que nós, como bons alunos que somos, contrariamos sempre colocando menos peso - aquele que tinha inicialmente. Só que... Ao focar bem (o meu astigmatismo é lixado) a barra das colegas, percebo que têm o peso que inicialmente coloquei (10kg). Todas. Professora incluída. Morri. A meio da segunda ronda, percebi os comentários, claro, e a barra começou a assemelhar-se a um fio de esparguete cozinhado demais, num zig zag mal amanhado e mal seguro nas minhas mãos.
Aguentei maizómenos bem até ao fim (yei! Palminhas para mim!), embora me apetecesse retirar o meu extra bacon daquela equação. Não obtive ordem para, portanto lá fiz a terceira ronda a rezar mais pais nossos que todo o seminário junto.
Se custou? Eh pá, um chiquito. Mas, muito sinceramente, não tanto quanto pensei ao dar conta do "erro". Prova que parte do esforço foi mais mental (algo do género "como é que lembraste de pôr mais peso?! O que é que te deu?! Tás louca?!") do que propriamente físico. Isto claro, dito agora, porque nos segundos que durou a porra da terceira ronda, desejei chicotear-me por não reparado primeiro qual era o peso que estavam a utilizar.
Moral da história: quando a carga vos parecer demasiado leve, continuem que isso passa.
Lembram-se do meu Fiat Punto de '99 e das peripécias que já vos contei com ele? Tenho mais uma para hoje.
Depois de desinfectar a viatura com lixívia, faltava dar um jeitinho aos vidros. Decidi começar pela mala. Sendo um carro comercial a bagageira era imensa e, portanto, a única maneira de limpar os seus pequenos vidros laterais era entrar lá para dentro. Ora, aqui a cabeça de vento esqueceu-se de um detalhe: a porta da mala estava com os amortecedores avariados, fechando-se a cada passo. Para evitar isso, quando limpei afincadamente o seu interior, da última vez, tinha colocado um pau (sim, um pau, uma estaca, se quisermos ser rigorosos) a segurar a porta da mala. Que imagem linda, hã? Continuemos, eu, a expert em limpezas automóveis, achava que aquilo era rápido, que não precisava e que a porta não ia fechar comigo lá dentro.
Pois...
A sacana fechou ainda eu ia no primeiro vidrinho. Não consegui abrir por dentro - óbvio - e rezei para que dessem pela minha falta ao almoço, que já estava a ficar com fome e não tinha ali nada para trincar.
Esperta como só eu sei ser, procurei algo comprido que passasse pela grade de separação, para tentar accionar a alavanca que abria a mala. Não havia. Não tinha a porra de um pé de cabra na mala do meu boguinhas. Toda a gente sabe que os pés de cabra dão imenso jeito, toda a gente devia ter pelos menos dois, para o caso de um se estragar.
Entretanto, já eu achava que só iriam encontrar o meu cadáver anos mais tarde, com a chave de rodas na mão, passa a minha avó. Aleluia irmãos! Estou safa!
Bato no vidro, freneticamente, enquanto grito:
- Vó! Vó! Oh Vóoooooooooooo!
- Olá! - responde.
Ai valham-me os deuses que estou lixada, vou ter que gritar mais.
- Ó Vóoooooooooooo! Eu estou aqui fechada! Estava a limpar e aporta fechou!
- Que estás aí a fazer?
Pois...
- Estava limpar os vidros e a porta da mala fechou. Consegue puxar ali aquela alavancazinha ao pé do banco?
algumas indicações mais e de superar a incredulidade de ter a neta fechada na mala do carro, a avó lá me conseguiu abrir a mala, deixando-me livre.
Excusado será dizer que o pau, ou estaca, passou a fazer parte do conteúdo da mala. Nestas coisas mais vale prevenir e ter à mão do que voltar a ficar fechada!
Esta coisa das corridas bateu-me forte, como diz senhora minha Cunhada, e a verdade é que começo mesmo a gostar de mexer a pernoca. Há já dois fins de semana que queria dar a volta ao quarteirão, lá na terrinha, mas não consegui. Cismei, porque cismei, que seria este domingo. Toca a adiantar tudo, que os sogros vinham almoçar lá a casa, de modo a ficar livre meia hora antes do almoço.
Saquei uma aplicação XPTO, que tinha uma boa classificação e vários comentários positivos, ativei a minha conta e vamos embora que se faz tarde.
Ainda antes de começar, a aplicação informa, do alto da sua sabedoria tecnológica, que para optimizar o treino era aconselhado ativar o GPS. Mandei-a dar uma volta, que sabia perfeitamente o trajeto que iria fazer, coisa pouca, não me apetecia gastar tráfego e eu é que mandava. Mas ativei a voz da coisa, porque um incentivo vai sempre bem.
A meio da corridinha - não é digno sequer chamar corrida àqueles 2.5km - pensei "este gajo desta aplicação deve ser mudo. Já estou quase a meio e ele não diz a quantas ando. Quando chegar a casa, vou reclamar disto."
Volvidos quase 17 minutos, chego a casa, feliz da vida, paro a aplicação que me pergunta imediatamente se pretendo partilhar a coisa no meu facebook. E eu, claro que sim, olha agora a esfalfar-me a subir a minha rua toda e não ia partilhar isso com o mundo.
Só que... Vinte minutos depois, diz o homem:
- Ó mulher, tu estás muita forte! 0.00 km em 17 minutos?! Uau!
Gelei.
Fui verificar e era verdade, a porcaria da aplicação não contou os metros percorridos.
- Olha lá, tu ativaste o GPS? - pergunta o homem.
- Eu não! Para que queria isso? Eu sabia perfeitamente o caminho! Não me ia perder cá na terra!
Revirar de olhos e estalada mental de azelhice.
A culpa é da aplicação, claro, que não explicou devidamente em que consistia a "optimização do treino".
Ontem, depois de uma semana parada dada a gripe que de mim se apoderou, retomei o ginásio.
Ia cheia de genica, toda apressada porque já ia atrasada (de novo) e vá de ir buscar o peso num instante.
Durante uns segundos passou-me pela cabeça pegar no disco de 2.5kg, mas depois pensei: "não! Não sejas fraca. Leva este de 5.5."
Chegou até mim uma admiração qualquer, que não percebi muito bem, mas soou a algo como: "onde vais com esse peso todo?!" Fiquei um bocadinho inchada de orgulho, mas foi coisa que me passou rapidamente, sobretudo por me sentir a abafar depois de meia dúzia de saltos.
Houve ali um momento, ao olhar à volta, em que me pareceu que o meu disco era menor, em diâmetro, mas teria com certeza mais espessura, em altura. Ignorei aquela sensação de que algo estava errado e continuei a aula.
No momento em que precisamos de trabalhar com disco, reparo que o meu diz 2.5kg. Oi? Então mas eu peguei no de 5.5... Viro disco e lá estão 5.5...Lbs.
Olha que bem, hã?
Não me bastava este lapso, ainda levo com um irónico "enganaste-te, enganaste-te. Eu sei que te enganaste." da instrutora quando me trocou o disco.
É oficial: a minha fama de preguiçosa precede-me. :D
Conduzia em direção ao trabalho, quando avisto um carro igual ao do homem - até a matricula era semelhante. Questionando-me que raio andava ele a fazer ali naquela zona, àquela hora, faço questão de que ele perceba que foi avistado, buzinando e acenando um "Olá Amorzinho!" .
E é então que percebo que:
1) Não era o homem, era um senhor de meia idade que ficou um bocado parvo perante tanto estalhardete;
2) Nesse dia, eu conduzia o carro do homem.
Escusado será dizer que pressionei um bocadinho mais o acelerador.
Acho que a malta está a precisar de descomprimir e desanuviar.
Toca a colocar os cintos, desta vez vez cabem cinco, que a aventura de hoje é com o meu eterno e querido Renault Clio Herdado (sim, gosto de nomes pomposos para as viaturas, e depois?).
Mas, antes, vamos só passar ali nas bombas, que tenho o depósito na reserva.
Sou pessoa fiel aos estabelecimentos, coloco sempre gasolina no mesmo posto, o da minha área de residência.
Naquele dia, não excepção, só não contava que me trocassem as voltas.
Uma pessoa sai da viatura, marca o valor a abastecer, pega na mangueira e espera.
E espera.
E espera mais um bocadinho.
E bufa.
E porra que isto nunca mais acaba, só pedi 20€ senhores, não quero que me entupam o depósito de gasolina!
Nisto, a pessoa, olha para o visor, percebe que aquela treta não está a contar, está ali parado nos 0.00 litros e repara num bonito e singelo aviso "Esta bomba encontra-se em pré-pagamento. Obrigada pela compreensão."
Ora bolas!
Vá de ir efetuar o pagamento e entrar na viatura que se faz tarde.
Liga a ignição, percorre meia dúzia de metros, olha para para o mostrador de combustível e solta um impropério:
- Foda-se! A gasolina não rende mesmo nada! Vinte euros e o ponteiro nem mexeu...
Naquela pequena confusão de espelho partido e pé atropelado, juntou-se um pequeno grupo de pessoas à nossa volta, entre elas, o Xô Presidente da Junta de Freguesia lá do sítio que, após a troca de contactos de promessas de ida ao hospital, se prontificou a ajudar-me.
- Queres ajuda Caracol? Que te apoie?
WTF? Já não chega este monte de gente aqui, serem três horas e a loja estar fechada e ainda me queres dar o teu ombro? Poupa-me a essa vergonha.
- Não, obrigadinha Xô Presidente. Eu vou sozinha.
- Mas vais à urgência, não vais?
Chatos, pá!
- Vou, vou. Claro que sim.
E fui.
Oito dias depois do acidente.
O pé estava da cor do crude, ainda estava dorido e, apesar de não me parecer ter nada partido, achei prudente dar um salto (ao pé cochinho) à urgência.
- Qual o motivo da sua vinda? - pergunta a recepcionista.
Oh, sabe, fui atropelada na semana passada...
- Tenho aqui um problemazito num pé...
- Que tipo de problema?
Aquele que pode surgir depois de lhe passar um carro por cima...
- Foi atropelado.
A senhora ergueu pela primeira vez o olhar na minha direção.
- Na semana passada. - continuei ignorando o sobrolho levantado - Parece-me tudo bem, mas como ainda está um bocadinho dorido, achei melhor passar por aqui.
Depois de digerir a informação, mandou-me aguardar para a triagem e desejou-me as melhoras.
Já na triagem, o enfermeiro questiona o mesmo:
- Então, que a traz por cá?
Sê sincera. Não estejas com historinhas.
- Tenho receio de ter alguma lesão no pé. Passou-lhe uma roda de um carro por cima na semana passada... Eu sei que devia ter cá passado mais cedo, mas como ainda me dói um bocadinho...
- Pois devia, nestas coisas não devemos facilitar. Mas diga-me, que tipo de carro foi?
Hã? Para que é isso relevante ao caso? Hmmm. talvez tenha a ver com o peso do veículo...
- Um BMW. - respondi, enquanto o enfermeiro prosseguia o seu raciocínio face à minha hesitação:
- Um carro de bebé, de mão...
Juro, quase ouvi o click quando assimilou a informação que tinha afiançado.
- Ah, foi mesmo um carro!
- Sim, foi mesmo um carro!
- E não veio logo? Fugiu o sacana?
- Hmmm, não. Não vim porque achei mesmo que estava tudo bem, que era só pisado. Só que como ainda está dorido... O senhor foi impecável. Tenho o contacto, caso seja necessário alguma coisa.
Avaliou o meu ferimento e no final:
- Deixe-me que lhe diga, teve muita sorte. Não parece estar partido, ou ter uma lesão maior, mas vamos fazer um raio x para certificar.
- Ok.
- Para a próxima não espere tanto tempo, venha logo. As melhoras.
- Obrigadinha. Não tenciono repetir a façanha.
Finalizada a radiografia - e saliento a dedicação de profissionalismo de quem me atendeu naquela ida à urgência - não tinha mesmo nada partido, só pisado. Segundo o ortopedista - que, minhas amigas, era uma brasinha, quase valia a pena atropelar o outro pé - era normal ainda estar com dores, afinal tinha sido uma grande pancada. Nada de pomadas como Trombocid ou Hirodoid, porque e passo a citar: "não fazem nada a não ser dilatar os vasos sanguíneos, provocando mais dor e aumentando o edema" (fica a dica!;) Recomendação apenas para um analgésico e gelo, muito gelo, caso acontecesse algo do género outra vez.
Terminou bem esta história, fiquei sem lesões de maior, o inchaço e pisado ainda demoraram a sarar, mas nunca mais repito.
O mesmo já não posso dizer na sandália: ficou com a sola partida. Mas salvou-me o pé a fofinha. =)
Depois de várias peripécias com o saudoso Fiat Punto de '99 (que podem ler aqui, aqui e aqui), lembrei-me, ou melhor, a Chic lembrou-me, após uma aventura sua que envolveu o pé, o hospital e um creme, desta minha aventura.
Pois bem, a minha envolveu também um pé, também o hospital mas algo mais... pesado, em vez de um creme.
Antes de mais, deixem-me emitir o seguinte alerta, não vão crianças ler isto e achar que é sempre assim: não façam isto em casa. Nem na rua. Nunca, jamais, em tempo algum, sigam os meus passos.
Prossigamos então para o dia em que atropelei um carro. Só com um pé, hã? Muita forte eu.
Estava atrasada para o trabalho, já na queima, mesmo em cima da hora, cheia de pressa, vá de verificar bem se podia atravessar, olho para um lado, daqui posso, olho para outro, daqui vem dois, volto a verificar do lado oposto e ok, continua livre, passam os dois carros e vá de começar a atravessar a rua. Só que... Não vi o terceiro carro. Vi a mala que trazia na mão esquerda voar à minha frente (mas apanhei-a com a direita ainda antes de bater no chão. Tenho ótimos reflexos), ouvi um retrovisor a partir e senti qualquer coisa no pé direito.
Ok, penso eu, estás fora da passadeira, partiste o espelho a um carro com a mala... FOGE, antes que perceba que foste tu.
Um péssimo pensamento, eu sei, mas foi a primeira coisa que me ocorreu. E lá fui, tentando escapulir-me atravessando a rua a correr tanto quanto as minhas sandálias de salto me permitiam.
- Ei! Menina? Está bem?
Raios, pá! Afinal, o gajo viu que fui eu!
- Estou. Peço desculpa, não o vi. Parti-lhe o espelho, mas fique com o meu contacto que pago-lhe o arranjo - fui dizendo enquanto o maxilar inferior do sujeito ia descaindo.
- Mas... O espelho? Mas... Eu também não a vi... Tem a certeza que está bem? Eu acho que lhe passei por cima do pé...
E nisto olhamos para o meu pé, que estava de facto um bocadinho escuro.
Ah, ah, afinal foi isto que senti! Boa Caracol, partes o espelho ao gajo e ainda mandas um valente biqueiro na roda! Não podias ter melhor pontaria!
- Se calhar é melhor leva-la ao hospital, isso dá a ideia de estar a ficar pisado.
Hospital? Mas o homem está doido? Eu estou sozinha na loja, não dá jeito nenhum. E já passa da hora...
- O quê? Isto? Não, isto é só sujo. De certeza que foi quando acertei com o pé no pneu. - Aleguei, sacudindo algum pó do pé, mas apercebendo-me que, afinal, não era só sujidade.
- Mas... Não lhe dói? - o homem estava verdadeiramente atónito.
Bom, agora que fala nisso... Talvez um bocadinho. Mas nada de especial. O molar que tenho para desvitalizar às vezes é pior.
- Não. Mói só assim um bocadinho, mas nada especial. Olhe, veja, eu até mexo bem o pé e tudo. - dizia, enquanto girava o tornozelo e mexia os dedos.
- Olhe que é melhor ir ao hospital, isso agora está quente, pode não sentir muitas dores, mas é melhor ver. Eu tenho a certeza que lhe passei por cima do pé. Venha, eu levo-a.
Oh valha-me deus! E a loja, hã? Quem abre a loja?
- Não é preciso, a sério. Eu estou mesmo bem e isto de certeza que está só pisado. Mas, caso não me sinta bem, irei logo à urgência. Fique descansado.
- Então fique com o meu contacto e ligue-me, caso seja necessário ativar o seguro.
- Certo. E fique com o meu também, para pagar o espelho.
- Deixe lá o espelho menina! Vá mas é ao hospital ver isso.
Prometi que sim, que o faria.
Mas isso, fica para outro post, que este já vai longo e o puto já acordou da sesta. =)