Há coisas que me transcendem #6
Burocracia portuguesa
A burocracia portuguesa é uma coisa espectacular! Nunca deixa de nos surpreender, seja pela quantidade de formulários que é necessário entregar, seja pela quantidade de serviços por onde a informação passa. E nós nunca vamos ao sítio certo. Ou é mais acima. Ou é mais abaixo. Ou é com o colega. Ou é na porta ao lado. Enfim, vamos sempre ao sítio errado, quais analfabetos que não sabem interpretar as regras simples do nosso sistema.
E a Segurança Social? Esse serviço espectacular, sempre tão acessível e esclarecedor! Ah, como é bom lá entrar e sentir que ali reina a harmonia que contribui para que a papelada seja devidamente tratada, sem demoras para o contribuinte. E como facilitam a vida a quem trabalha, recebendo sempre muito bem quem lá se apresenta muito perto da hora de fecho ou de almoço. São uma simpatia nestes casos, e podemos sempre contar com a sua calma para um atendimento esclarecedor e (d)eficiente.
Mas há algo em que nosso sistema é único: na capacidade que tem de fazer requisições para abonos, em nome de contribuintes que já não o são. Não acreditam? Deixem-me contar-vos o meu caso: Por esquecimento da médica de família, que só me passou a declaração a comprovar gravidez aí pelos 5 meses, requeri o abono pré-natal mais tarde, por volta daquele tempo gestacional. Até aqui, tudo muito bem, houve esquecimento por parte da médica (não a podemos julgar, eu também não gosto de dar prejuízo ao meu patrão),mas os papeis deram entrada na SS no mesmo dia em que foram emitidos.
Passados quase 2 meses, resolvi, assim como quem não quer a coisa, passar por lá a perguntar como estavam as coisas. Não que seja preciso, toda a gente que a SS funciona sempre bem e não é nada morosa. Adiante, lá fui eu perguntar se já se sabia alguma coisa, se o processo estava em andamento ou se era preciso empurra-lo. Depois de muito verificar, escutei o nome da senhora minha mãe. Respondo prontamente que sim, era descendente daquela utente, julgando tratar-se de uma verificação desse género. Mas não, meus caros. A requisição estava mesmo feita em nome da minha mãe! Não é espectacular? Uma pessoa já falecida poder fazer pedidos de abono? Eu acho uma habilidade fantástica por parte do nosso sistema, a possibilidade de se pedirem o que quer que seja em nome de um contribuinte já falecido e cujo o número de social social não deveria estar activo.
Isso é, defacto, o que me transcende: não me admirava se lá chegasse e me dissessem que, por lapso, o requerimento tinha entrado em nome da dona Silvina da Cruz, desde que a tal Silvina estivesse VIVA, que julgo ser um requisito básico para pedir o que quer que seja. Porém, pelos vistos é possível que os defuntos usufruam de abonos. Eu cá não sei, nem quero ser má língua, mas cheira-me que aquele pessoal anda ver demasiada Tv, nomeadamente uma certa série de mortos-vivos...