Tive um pressentimento quando foi lançado, pelo que não o comprei logo. Peguei várias vezes nele, mas acabei sempre por deixa-lo na prateleira. Durante imensos anos, Sparks foi um dos meus autores preferidos, consumia tudo o que lançava com voracidade, mas este... Havia ali qualquer coisa na sinopse que me fazia torcer o nariz. Um gajo que percorre um continente a pé por causa de um fotografia de uma gaja que nem sequer conhece? Hmmm... O gajo considera a foto um amuleto? Hmmmmmmm...
Mas um dia... Um dia, o Big Boss da Sonae fez um bruto desconto e eu achei que não o podia deixar ali, com aquele preço. Afinal, o que poderia correr mal? Era Sparks, só podia ser fixolas. Assim como assim, quando sou fiel ao autor, gosto de ter as obras todas...
Burra! Burra! Burra! Pessoas, ouçam o que vos digo: nunca ignorem os vossos feelings literários.
A única coisa que não me desiludiu neste livro foi o cão. Mas esses, já se sabe, nunca desiludem ninguém. =)
Há tanto tempo que não lia Sparks, que quase já não me recordava o quanto gosto das suas histórias! Caraças, o raio do homem sabe mesmo como contá-las! Mexe-nos com os sentimentos, com a alma até.
Muito embora já saibamos parte do enredo – ao fim de algum tempo, habituamo-nos à forma de escrever do autor – continua a ser agradável conhecer os seus romances.
E este, devo dizer-vos, foi uma surpresa. Uma agradável surpresa.
Sempre gostei de Sparks, desde nova, tendo requisitado grande parte dos livros na biblioteca da escola, e escolhendo alguns para a “Hora do Texto” (actividade em que falávamos sobre obras que tivessemos lido, numa expectativa de cativar para a leitura – sim, eu era um bichinho da biblioteca, mas não arrependo, se querem saber). Cheguei mesmo a inspirar-me nos seus romances para escrever cartõezinhos e bilhetinhos e outras coisas acabadas em “inhos” para o (actual) homem. Vááaaa, pronto eu confesso, há uns anos era pirosamente lamechas. Pronto, está bem, era mesmo muiiiito pirosa e lamechas. Mas, como em tudo o que fiz, também não me arrependo. E podem ter a certezinha que se precisar de escrever algo pirosamente lamechas, recorrei aos seus livros, quais poços de ensino em matéria romântico-lamechas, sem hesitar. E vocês, essencialmente vocês homenzitos deste planeta, deviam fazer o mesmo. O homem (Sparks) é que a sabe!
Calma, não estou a dizer para irem Às Palavras Que Nunca Te Direi e escarrapachar com uma carta do Garret directamente num postal e de seguida entregarem à vossa cara-metade. Nada disso. Para já, acho que não ia resultar, já que a maioria das cartas são de despedida e isso poderia levar a uma certa confusão. Não, trata-se de ler, captar a essência do texto e molda-lo, dando-lhe os contornos da vossa história. Por exemplo, seria estranho dizerem à vossa piquena que tinha os olhos mais bonitos que vocês já viram, e que lembravam o mar, se ela tivesse olhos castanhos-escuros. Ou se lhe dissessem que o seu cabelo era suave como seda, e tivesse uma cabeleira crespa que lhe dava um trabalhão a pentear, todas as manhãs. Nesses casos, poderiam pegar na ideia inicial por exemplo, mar-olhos e escrever algo do género “Não me canso dos teus belos olhos, profundos como o mar, blá, blá, blá…” Mas pronto, já estou a divagar e a fugir ao tema… No entanto, vou deixar-vos mais uma dica: não entreguem o postal em mãos, a não ser que acompanhe uma prenda. É muito mais giro, romântico e surpreendente recebe-lo por correio, misturado com as contas da água e da luz. Ou escondam-no em algum sítio: na mala, debaixo da almofada, dentro de uma panela (vazia, obviamente), o céu é o limite minha gente!
Voltando ao tema…
Não será fácil para um autor surpreender o seu público, como já disse, ao cabo de algum tempo a ler o mesmo estilo, habituamo-nos e quase já adivinhamos o se segue. Felizmente, agora o homem anda menos dramático e já não mata, pelo menos com tanta frequência, uma das personagens principais. O que, surpreendentemente, torna os seus romances melhores.
Adorei o conhecimento que nos é transmitido sobre arte moderna, não conhecia grande parte dos autores narrados (sou fã do Renascimento, que posso fazer) e, após algumas pesquisas, decidi que quero conhecer melhor esta vertente artística. Já tenho algumas literaturas em mente…
Gosto particularmente de prosas que enaltecem a beleza do que nos rodeia. E Sparks dá-nos isso em quase todos os seus romances. Este não é excepção: Ruth adora arte, compreende-a, valoriza-a. Ira, o seu marido, vive para ela e para a fazer feliz, deleitando-se com a sua beleza enquanto observa o espólio de um determinado autor, considerando-a mais valiosa do que qualquer quadro. Acabam, juntos, por construir a maior coleção privada de arte moderna. Ela pela beleza e mensagem das obras, ele pela beleza dela enquanto as admirava.
O livro não fala só de arte, e não é só este casal que protagoniza a trama. Há também um cowboy (sim, também estranhei) e uma estudante de belas artes, Luke e Sophia. Ambos têm objetivos de vida diferentes e o seu percurso acabará por colidir com Ira, um idoso agarrado às memórias da falecida esposa, sendo estas que o mantêm vivo quando a corda que o prende à vida está mesmo por um fio. Só mais um adiantamento: Luke, o nosso cowboy, vive de rodeos e tenciona salvar o rancho onde vive, com a mãe. Problema: Luke não sabe se chega vivo até à próxima partida... Curiosos? Vá, vão lá buscar o livro à preteleira mais próxima e deliciem-se!